Aleteia Brasil
O hospital argumenta
que seguiu os procedimentos indicados em decreto devido à pandemia e que o
sacerdote não teria informado que a visita era religiosa
Ope. Joseph Thomas, 59
anos, da paróquia Nossa Senhora das Graças, em Praia Grande, SP, foi procurado
por volta das 22h30 do último sábado, 4 de julho, pelo paroquiano Manoel de
Carvalho Neto, que, nas palavras do sacerdote, “estava desesperado” porque a
esposa tinha sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e estava internada em
estado grave. De fato, Manoel havia passado os últimos dias completamente
dedicado a cuidar da esposa, Evandirce de Carvalho, de 79 anos.
O pe. Joseph conta que
entrou em contato antecipadamente com o Hospital Municipal Irmã Dulce para
confirmar os horários de visita e a possibilidade de levar a extrema unção à
paciente. Ele relata que, por telefone, uma enfermeira lhe informou que a
visita poderia ser às 15h do domingo, 5. No entanto, quando Manoel e o
sacerdote chegaram ao hospital, o padre foi impedido de entrar na ala em que estava
a enferma.
Evandirce faleceu cerca
de uma hora depois, sem ter podido receber o sacramento da unção dos enfermos.
A versão do hospital
Em nota, a direção do
Hospital Municipal Irmã Dulce contesta algumas afirmações do pe. Joseph,
alegando que ele não teria dito que se tratava de uma visita de cunho
religioso. Ainda de acordo com a unidade, a equipe explicou detalhadamente ao
padre o plano de contingência devido à pandemia, baseado no Decreto Municipal
6922, de 19 de março de 2020. Em seu artigo quinto, o decreto suspende por
prazo indeterminado “as visitas aos pacientes internados no Hospital Irmã Dulce
e Unidades de Pronto Atendimento”.
O hospital complementa
a nota afirmando que, se a equipe tivesse sido informada do caráter religioso
da visita, a entrada do sacerdote teria sido liberada, desde que adotadas todas
as medidas de segurança previstas.
A versão do sacerdote e
do esposo da paciente
O pe. Joseph, no
entanto, afirma:
“Eu tenho crachá para
entrar no hospital, mas, mesmo apresentando-o lá na hora, não deixaram”.
Trata-se de um crachá
que o identifica explicitamente como sacerdote e que foi obtido por ele e por
outros padres, há cerca de 5 anos, justamente para simplificar as visitas a
pacientes e evitar “várias confusões” que haviam ocorrido no passado, conforme
depoimento do próprio pe. Joseph.
A este respeito, o
sacerdote comenta que a negativa de acesso deste domingo não foi o primeiro
caso:
“Já teve casos de
padres serem humilhados. Depois de várias confusões, conseguimos crachá para
entrar sem nenhuma barreira há cerca de cinco anos. Mas tem hospital que não
respeita e não autoriza. Essa família da idosa quer até fazer queixa do que
aconteceu no local. Eu fui até no horário de visita, para não ter problema.
Então fiquei bem chateado, porque nunca saio na rua; foi nesse caso especial
que saí, com uso de máscara e álcool, para ajudar a família. Estou revoltado”.
Sobre a visita impedida
no domingo, o sacerdote descreveu assim o episódio:
“[O esposo da paciente]
disse para o pessoal do hospital: ‘Minha mulher está morrendo, está nos últimos
momentos e eu gostaria que o padre pudesse dar a extrema-unção a ela. Por
favor, deixe’. Mas eles falaram que eu estava proibido de entrar devido ao
coronavírus”.
O pe. Joseph acrescenta
que destacou o direito da paciente e que apenas lhe daria a unção:
“A equipe do hospital
ligou para o chefe da segurança, que também proibiu. Voltei para casa e fiquei
muito triste com a situação. Até deixei recado para eles e disse que, se algo
acontecesse, seria culpa deles. Porque eu só estava fazendo minha parte, que é
garantida por lei”.
A lei 9.982, de julho
de 2000, garante “aos religiosos de todas as confissões o acesso aos hospitais
da rede pública ou privada, bem como aos estabelecimentos prisionais civis ou
militares, para dar atendimento religioso aos internados (…) Os religiosos
chamados para prestar assistência nas entidades devem acatar as determinações
legais e normas internas de cada instituição hospitalar ou penal, a fim de não
pôr em risco as condições do paciente ou a segurança do ambiente hospitalar ou
prisional“.
Manoel de Carvalho
Neto, o marido da paciente falecida, também se manifestou:
“É ridículo acontecer
isso. O padre foi com todo carinho dar a unção para a minha mulher, que estava
em estado grave. Ele conhecia ela há muitos anos e nós fazíamos parte até do
coral da igreja. Uma hora depois que ele foi impedido de entrar, ela morreu”.