quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Riscos pós-abortamento


Por: Jaime José de Arruda Martins

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O aborto, além de ceifar a vida da criança, traz inúmeras consequências negativas à saúde da mãe

Sabemos, há décadas, das muitas consequências trágicas da interrupção forçada da gravidez, apesar disso, grupos ideológico-partidários pregam tal prática maligna, aproveitando-se da fragilidade comum às mulheres no período em que carregam uma nova vida em seu ventre.

Tentando mostrar os graves danos à saúde das mulheres causado pela prática do abortamento, estudo americano publicado no ano de 2002 observou entre os anos de 1980 e 1992 uma maior propensão à depressão clínica, ao suicídio e ao abuso no uso de drogas em mulheres que interromperam a gravidez comparada às que não a interromperam. O estudo concluiu que o risco, mesmo após 8 anos do evento, era 132% maior de depressão nesse grupo. Outro importante estudo americano publicado em 2003 – talvez o que mostre mais fortemente essa associação positiva entre depressão pós-interrupção forçada da gestação – mostrou um risco 65% maior de depressão pós-abortamento.

A fim de eliminar o viés socioeconômico em tal avaliação, que é um dos principais fatores de confusão nesse tipo de análise, e sempre questionado pelos defensores dessa prática homicida, outro estudo do ano de 2002, a partir do registro médico de mais de 17000 mulheres de baixos estratos sociais e que não haviam passado por qualquer avaliação psicológica anteriormente à gestação, observou chances 63% maior de mulheres necessitarem de atendimento psicológico 90 dias após interromperem a gestação com a prática do aborto. Essa mesma equipe ainda concluiu um risco 2,6 vezes maior de necessidade de internação para tratamentos psiquiátricos em mulheres que o praticaram. O aborto está, portanto, fortemente ligado à depressão, à psicose depressiva e à desordem bipolar.

Também é profundamente conhecida a associação entre abortamento induzido e infertilidade materna. As complicações do abortamento provocado incluem perfuração do útero, retenção de restos de placenta seguida de infecção, peritonite, tétano, e septicemia. As sequelas ginecológicas podem trazer ainda a esterilidade e também inflamações das trompas e sinéquias uterinas. O risco e a gravidade das complicações crescem com o avanço da gestação. Tietze & Henshaw (1986) afirmaram que a incidência das complicações do aborto está relacionada com a forma como ele é realizado.

Entretanto, existe pouca informação concreta que mostre a redução das complicações quando o aborto é legalizado, ou, em contrário, o aumento das mesmas, quando é ilegal, um dos principais argumentos daqueles que o defendem. Estudo brasileiro de 1992 mostra que o aborto quando realizado em clínicas e com métodos cirúrgicos mais modernos reduziu o número de complicações fisiológicas, mas mesmo assim, continuaram apresentando cifras bem elevadas. Tal estudo ainda apresenta a crítica de um pequeno número de pacientes estudados não descrever as complicações ocorridas.

Outro dado muito questionado, usado pelos defensores da prática, é o de que, realizando-os, clandestinamente, temos uma alta taxa de mortalidade. Observando, porém, dados oficiais, facilmente acessados pelo portal do DATASUS, vemos que no ano de 2016 em todo o Brasil morreram apenas 44 mulheres, e não milhares como se alardeia. Isso somando os CID por falha na tentativa de aborto (CID O.07), aborto NE (CID O.06), outros tipos de aborto (O.05), de um total de 67.147, correspondendo a menos de 0,1%, contrapondo-se, portanto, a dados inverídicos transmitidos por parte da imprensa, como é o caso da matéria publicada, em 2017, no jornal O Estado de São Paulo, a afirmar que 4 mulheres morrem por dia por complicações referentes ao aborto, correspondendo a 3,3% das causas de morte materna.

Temos, assim, dados científicos, a partir de estudos sérios, mostrando que o aborto (e não a sua proibição, como alegam aqueles que querem a legalização dessa prática), além de ceifar a vida da criança, traz inúmeras consequências negativas à saúde da mãe.


Filáucia: a mãe de todas as doenças espirituais


Por: Padre Paulo Ricardo

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Entenda o que significa esta expressão e como a filáucia pode se tornar doentia

É próprio do homem amar, como é próprio da luz iluminar. Essa verdade ressoa em nossos corações como algo evidente e, ao mesmo tempo, difícil de acreditar. Ao ouvi-la, sentimos um forte apelo para alçar voo na arriscada aventura de amar. Dentro de nós – melhor ainda, diante dos nossos olhos –, encontramos a evidência patente de nossa fragilidade: uma espécie de força que nos leva a chafurdar na lama. A grandeza de nosso chamado contrasta clamorosamente com a miséria de nossa situação.

Desde os séculos mais remotos, a humanidade perplexa percebe essas duas tendências contraditórias, mas não consegue as explicar. Nós, cristãos, no entanto, aprendemos a origem dessa contradição por meio da única realidade que poderia esclarecê-la: a Revelação.

A Revelação nos ensina: o homem é bom, mas está mal, ou seja, o homem não é uma doença, mas está doente. E seu estado de doença espiritual requer uma cura.

Qual seria então a primeira consequência deste estado doentio? Qual é a mãe de todas as nossas doenças espirituais? Segundo os Santos Padres, especialmente São Máximo o Confessor (580-662), na raiz de todos os pecados está uma doença espiritual chamada filáucia.

Significado da palavra filáucia

De origem grega (philía + autós), a palavra filáucia designa o amor que uma pessoa tem por si mesma, o amor-próprio. A definição etimológica, no entanto, não é suficiente. Ao afirmarmos que a filáucia é sinônimo de amor-próprio, algumas pessoas poderiam ser induzidas a pensar erroneamente que se trata, necessariamente, de uma espécie de egoísmo, mas não é assim.

O significado originário da palavra filáucia é positivo e trata-se de uma virtude. O amor-próprio não é uma invenção malévola do demônio ou do homem pecador. É isso mesmo: o amor-próprio foi criado por Deus e pertence à natureza sadia do homem, como Deus a sonhou.

Por isso, não é de se espantar que o próprio Jesus (cf. Mt 22,37-39), depois de apresentar o mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas (cf. Dt 6,5), faça questão de acrescentar o preceito de amar ao próximo tendo como medida o amor por si mesmo: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18).

Ora, Nosso Senhor não canonizaria o egoísmo. É verdade que existe uma forma doentia de a pessoa amar a si mesma e é a respeito deste amor desordenado que trataremos neste capítulo. Antes de falarmos da doença do egoísmo, porém, precisamos reconhecer que existe uma forma sadia de o homem se amar.

Filáucia virtuosa

Como então funcionaria o coração de um homem sadio? Como é possível ter um amor-próprio adequado e belo? Antes de tudo, o que se deve constatar é que o amor de si não é o primeiro passo. Se pensarmos em nossa história pessoal, com sinceridade e profundidade, concordaremos com São João: antes de qualquer amor surgir em nosso coração, nós fomos amados (cf. 1Jo 4,10). Deus nos amou primeiro e o nosso amor será sempre uma resposta, um segundo passo. Disso se compreende por que, no coração de um homem sadio, não pode faltar essa resposta. O amor a Deus não é apenas uma das tantas qualidades do coração do homem: é a primeira e mais importante de todas as qualidades, pois é a primeira verdade que Deus revela a nosso respeito. Santo Agostinho (354-430) nos recorda que o ser do homem foi feito para responder ao amor de Deus, quando diz: “Senhor, fizestes-nos para vós e o nosso coração está inquieto, enquanto não repousar em vós”.

Por isso, amar a Deus não é um luxo, um acessório dispensável, mas a realização de nosso próprio ser. Assim como é natural que uma videira dê fruto ou que uma abelha produza mel, é natural que um homem saudável ame a Deus. O primeiro mandamento – “amar a Deus sobre todas as coisas […]” – não é uma exigência de um Deus ciumento e caprichoso. É o conselho de um Pai amoroso que nos ensina o caminho da felicidade.

A consequência é lógica: se amarmos a Deus de todo o nosso coração, estaremos, de modo indireto, amando a nós mesmos, visto que não é possível uma pessoa amar a si mesma e odiar a fonte do seu próprio ser. Seria um contra-senso; uma atitude semelhante a meter a enxada nos próprios pés, ou cortar o galho sobre o qual se está sentado. Ao amar a Deus, a pessoa demonstra que ama a si mesma.

Filáucia doente

A partir desse quadro positivo, compreendemos o que há de errado conosco, uma vez que a doença é sempre a desordem de algo positivo, ou seja, uma disfunção do organismo saudável. É muito importante, ao longo de todo esse livro, nunca perdermos de vista o fato de que a doença é sempre uma perversão da saúde. Por trás do pecado sempre existe uma realidade positiva, um dom de Deus, que está sendo usado de forma prejudicial e destruidora. O mal é sempre a perversão de um bem.

O diabo não tem o poder de criar. Ele sabe apenas arremedar o Deus Criador, e, ao perverter as coisas criadas, como uma espécie de “macaco de Deus”, imita grotescamente as obras de Nosso Senhor. O egoísmo, a filáucia doentia, é um arremedo da filáucia virtuosa.

O livro do Gênesis nos recorda que, por sedução da serpente, o homem começa a amar a si mesmo de forma desordenada. “Sereis como Deus” – promete o pai da mentira. E a partir do momento em que o homem se deixa enganar por esta falsa promessa, ele entra numa rivalidade invejosa com Deus, como se Ele fosse um inimigo, o obstáculo para sua felicidade. Movido por este amor-próprio equivocado, o homem se revolta contra sua própria fonte. Começa a tratar Deus como seu inimigo e dele se esconde por trás dos arbustos (cf. Gn 3,8).

São Máximo descreve a forma como a filáucia doentia afetou nossos primeiros pais. O homem volta suas costas para Deus, para sua luz, e mergulha na matéria em busca de uma felicidade sem Deus. O primeiro pai, Adão, cego por não ter dirigido o olhar para a luz divina com o olho da alma, afundando as duas mãos na lama da matéria, nas trevas de sua ignorância, voltou-se completamente para as coisas sensíveis e a elas se dedicou inteiramente.

Argentina: 3 templos católicos profanados com pichações abortistas


Por: Redação da Aleteia 


A enésima demonstração da "tolerância" e do "respeito" daqueles que pregam o livre extermínio de bebês

Duas semanas após a reprovação da lei do aborto pelo Senado argentino, duas paróquias e um santuário católico de Buenos Aires foram profanados com pichações abortistas na segunda, 20 de agosto.



Paróquia Santa Maria de Betânia

Uma imagem de Nossa Senhora foi manchada de tinta vermelha. Ao redor havia cartazes com afirmações abortistas e anticatólicas como “As garotas mortas não voltam mais, vocês são responsáveis” – como se a Igreja ou qualquer defensor da vida humana estivesse assassinando alguém por impedir justamente o extermínio de inocentes…

O vigário, pe. Salvador Gómez, que chegou a pensar que as manchas fossem de sangue, contou ao site local Todo Noticias:

“A primeira coisa que me veio à mente foram as palavras de São Francisco: ‘Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o perdão’. Não conseguia pensar em outra coisa”.

Paróquia Nossa Senhora das Dores

Sofreu ataques quase idênticos, aos quais o bispo de Gualeguaychú, dom Hector Zordán, respondeu:

“Continuamos apostando na possibilidade de conviver em paz nesta terra abençoada, apesar de pensarmos diferente”.

Santuário Jesus Sacramentado

Também sofreu pichações acompanhadas por cartazes com frases como “Igreja e Estado, assunto separado“.

Aliás, esta é uma das falácias mais recorrentes no repertório de gratuidades descabidas da militância abortista: tentar passar a ideia de que, pela laicidade do Estado, os católicos não teriam direito a qualquer manifestação de pensamento.

Os padres do santuário declararam:

“Queremos dizer às pessoas que nos agridem que não poderão mudar o rumo do nosso trabalho, que é o anúncio do Evangelho, a boa notícia de Jesus. Somos pessoas honestas, não somos perfeitos; através do nosso trabalho, tentamos fazer da Igreja um lugar de esperança e de dignidade. Não cobramos nada do Estado e trabalhamos com todas as nossas forças para que a vida das nossas crianças, jovens, idosos e especialmente dos mais pobres seja melhor.

Somos milhares de pessoas envolvidas nesta missão. Quando você vier à noite e de rosto escondido para pichar e ofender, vai encontrar em nós a barreira intransponível do bem que vence o mal; também vai encontrar o perdão e uma força que ninguém poderá tirar de nós, que é a alegria de seguir Jesus.

Podemos oferecer a você o melhor de nós, que é o nosso pão, o nosso canto e o nosso abraço, porque, apesar de tudo, somos irmãos. Continuaremos caminhando mesmo assim… E sempre com a esperança intacta de compartilhar um bom diálogo”.

sábado, 25 de agosto de 2018

Ela teve câncer no início da gravidez, disse não ao aborto e salvou as duas vidas


Por: Sempre Família

Ana Beatriz Frecceiro Schmidt

Curitibana Ana Beatriz foi diagnosticada no 2º mês de gestação da pequena Louise; apesar da recomendação para abortar, ela escolheu a vida

Há alguns meses, a bancária curitibana Ana Beatriz Frecceiro Schmidt, de 32 anos, foi colocada diante de um dos maiores dilemas que uma mulher pode viver. Sua decisão, foi a mais corajosa possível. Ela foi diagnosticada com um câncer de mama quando estava grávida de dois meses e ouviu do médico a recomendação para abortar o bebê. Ela recusou, optou por se submeter ao tratamento mesmo correndo riscos, mas hoje pode segurar sua filha nos braços.

Bia, como é conhecida, já tinha um filho de 11 anos, chamado Matheus, outro com 1 ano e 10 meses, o Daniel, e, agora, é mãe também da pequena Louise, com seis meses de vida. Ela conta que sempre quis ser mãe de menina e quando Daniel tinha apenas sete meses soube que estava grávida pela terceira vez. Depois do susto inicial, ela teve a certeza de que agora sua menininha estava vindo. “Junto com a Louise, Deus mandou força para o que viria”, conta ela em um vídeo na internet.

O câncer gestacional foi identificado quando Daniel tinha apenas nove meses e parou de mamar repentinamente. “Fiquei preocupada, apalpei o seio para ver se havia leite empedrado e senti uma bolinha”, diz. No dia seguinte ela fez uma ecografia do seio e mais tarde uma biopsia que confirmou a doença.

O médico de Bia ao saber do diagnóstico e do tempo de gestação, sugeriu então que ela abortasse para evitar problemas futuros. Isso porque o tipo de tumor era hormonal e seria agravado durante a gravidez, já que durante a gestação o corpo da mulher produz muito mais hormônios. “Se eu não estivesse grávida, não teria descoberto a tempo e quando percebesse já estaria em metástase”, diz Bia.




Histórico

A reação de Bia diante da sugestão de seu médico foi a de negar o aborto. “Eu acredito na vida e no amor. Jamais ia sacrificar ela para me salvar”, conta. “Eu não tinha direito algum de fazer isso. Ou a gente viveria junto ou morreria junto. Eu lutei por nós duas e sobrevivemos”, completa.

Bia conta que sua avó materna teve câncer aos 36 anos e faleceu vítima da doença aos 39. Por conta desse histórico, aos 20 anos, quando engravidou de Matheus, ela passou a fazer ecografia das mamas com regularidade. Em 2014, ainda preocupada, ela pediu para fazer um mapeamento genético para ver se tinha possibilidade de um câncer no futuro, mas não foi atendida por seu médico. “Se tivesse feito esse exame lá atrás eu saberia antes da probabilidade do câncer de mama e também de ovário”, diz.

No entanto, hoje, ela considera que tudo pode ter sido providência divina. “Naquela época eu teria retirado as mamas, mas também os ovários. Se fosse assim, eu não teria mais dois filhos”, explica.

Tratamento

Como entrou em desacordo com seu antigo médico, ela foi atrás de outro e conheceu alguém que apoiasse em sua decisão. Em 15 de agosto de 2017, Bia fez uma mastectomia, mas por conta da gravidez, o pós-operatório foi um período difícil. Ela não podia tomar antibióticos e nem anti-inflamatórios. “Tirei completamente a mama, os músculos, nervos e esvaziei axila. Não tomei remédios fortes, mas estava consciente disso”, relata.

As sessões de quimioterapia foram surpreendentes por não lhe darem enjoos comuns às pessoas nessa situação. Ela conta que lhe deram apenas mais força. “Eu sabia que lutava por nós duas e que precisava ficar bem para a quimioterapia não afetar minha bebê”, diz. Ela afirma que o sustento para esse período de tratamento veio principalmente da fé. Cristã, toda vez que se sentia fraca, era na oração que buscava forças. “Tenho grande fé em Deus e sei que minha vida e a da Louise têm um propósito”, pondera.

Hoje Louise tem seis meses de vida e uma saúde impecável. Bia tem 32 e está curada do câncer. No mês passado o cabelo que havia caído durante o tratamento voltou a crescer. A última sessão de quimioterapia foi feita no mês passado e agora ela começou a hormonioterapia para impedir que o corpo dela produza hormônios que podem desencadear uma nova doença. “Eu tive câncer, mas ele nunca teve a mim”, comemora.

EREMITA IRMÃO FRANCISCO DO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA

domingo, 5 de agosto de 2018

VIDA EM NAZARÉ E A PERMANÊNCIA DE JESUS NO TEMPLO (CURSO DE JOSEFOLOGIA - PARTE 1 - CAPÍTULO 10)


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Neste mistério salvífico da fuga para o Egito, “José, depositário e cooperador do mistério providencial de Deus, também no exílio vela por Aquele que vai tornar realidade a Nova Aliança’ (RC 14). Ali ele foi instrumento do qual Deus se serviu para “chamar do Egito o seu Filho”

Terminada todas as vicissitudes e contratempos, de regresso do exílio,  José estabeleceu-se com a sua família na pequena Nazaré e retomou as suas atividades de artesão. Afinal, era esta a sua profissão.

De volta ao seu ambiente, tudo se tornara mais fácil. Portanto, dificilmente teria encontrado dificuldade em retomar os seus trabalhos na aldeia e nas vizinhanças, pois embora não fosse um homem de cátedra, era muito prático e capaz de, nas ocorrências da vida, tomar decisões não só no que se referia a si mesmo, como também aos outros.

A sua profissão fazia dele um homem bastante conhecido entre os nazarenos, e o período que passou longe da sua terra, sem  manter contato com os parentes e conterrâneos, não foi suficiente para apagar da memória do povo a imagem daquele homem completo, com sua personalidade rica e responsável em seus deveres.

Sua pequena oficina, que permaneceu por um bom tempo fechada, empoeirada e desapercebida, começava novamente a ser o ponto de encontro das pessoas, o ponto de referência para muitos da cidade e da região circunvizinha. Muito mais que isso, era o palco sublime da presença de Jesus criança e iniciante na arte da carpintaria. De novo o barulho da serra e do  martelo passava a chamar a atenção dos transeuntes e a dar tom de vida mais movimentada à pacata cidadezinha.

Como antes, as mãos habilidosas do carpinteiro de Nazaré eram requisitadas não só para fabricar uma mesa ou um par de cadeiras, mas  também para abrir uma valeta no quintal de um vizinho, consertar uma porta ou  uma janela numa das poucas centenas de casas pobres do  lugarejo, ou ainda traçar com maestria e habilidade os fundamentos de uma nova construção.

Desta maneira, o dia-a-dia de José começava a tomar novamente o seu ritmo, junto com a sua castíssima esposa e o seu filho, que “crescia robusto, cheio de sabedoria, pois a graça de Deus estava com ele” (Lc 2,40).

Como qualquer criança de seu tempo, Jesus queria crescer, e por isso observava com atenção o comportamento do pai e da mãe e se espelhava nos seus exemplos para tornar-se como eles. Será um aluno atento na  carpintaria como esmero e manejo da serra e as pancadas certeiras do  martelo. Sentir-se-á feliz aos sábados, ao deixar a labuta da  oficina ou os  bancos da escola para acompanhar o pai à sinagoga, ficará admirado ao seguir com atenção seus gestos e suas inclinações na casa de  oração, sentira orgulho dele ao vê-lo encaminhar-se para frente na sinagoga, pegar o pergaminho da palavra de Deus nas mãos e proclamar em voz alta e altissonante a todos os  presentes a palavra  do Senhor.

Será no convívio com os  pais que aprenderá o que é necessário para a vida, mas será também na sinagoga, lugar rico em ensinamentos, que irá entender muitas coisas. Atraído por sua curiosidade de criança, saberá que a pequena lâmpada, sempre acesa diante do armário que guarda sigilosamente os pergaminhos da Sagrada Escritura, simboliza a luz da lei divina ali presente que ilumina todos os homens.

Será na freqüência à sinagoga que compreenderá que as estrelas de seis pontas significam o emblema do seu antepassado Davi, o grande rei que escreveu salmos belíssimos, muitos dos quais já sabia de cor, pois tinha aprendido em casa nos joelhos de Maria, sua mãe,  ou na companhia do pai na carpintaria.

Será na sua família, pequena  escola de Nazaré, que Jesus aprenderá a rezar e santificar o dia elevando o  pensamento a Deus com as orações costumeiras do israelita. José e Maria, cientes da educação devida ao filho, não se limitarão a transmitir ensinamentos a Jesus apenas em casa, mas seguramente o encaminharão todos os dias a uma escola sinagogal, onde terá como livro os  textos sagrados e como professor um  rabi. Na escola aprenderá a recitar em voz alta o Shemá, a fórmula fundamental da fé do seu povo, assim como aprenderá longos trechos do Pentateuco. 

Em casa, aos poucos, entenderá os episódios, da história do seu povo, e como toda criança começará a amar os seus heróis estudados nos textos sagrados, como os Profetas, o poderoso José do Egito, Moisés o  grande  libertador e líder que conduziu o  povo da escravidão do Egito pelo deserto por quarenta anos até a terra  prometida, e Davi, que na sua simplicidade abateu o gigante Golias...

Com José Jesus irá aos poucos aprendendo o significado das grandes festas religiosas do seu povo que eram celebradas durante o ano (Era costume entre os hebreus visitar Jerusalém três vezes ao ano: nas festas da Páscoa, de Pentecostes e dos Tabernáculos. Os que moravam longe de Jerusalém tinham a obrigação de uma só viagem, justamente para os festejos da Páscoa).

Quando já havia completado 12 anos, teve a oportunidade de participar pela primeira vez dos festejos da Páscoa na cidade santa de Jerusalém. Levar o filho pela primeira vez para participar oficialmente do culto ao verdadeiro Deus era motivo de muita alegria para todos os pais.

As cerimônias desses dias tinham um significado muito profundo. José, a exemplo de outras famílias de sua cidadezinha, preparou tudo para fazer a peregrinação a Jerusalém, comida para a viagem, tenda para pernoitar, afinal eram quatro dias de viagem pelos montes de Judá, percorrendo em média 35 quilômetros por dia, além do burrinho para transportar tudo.

Chegados a Jerusalém, estes simples aldeões de Nazaré puderam admirar o palácio de Herodes com suas torres e muros, o formalismo dos  fariseus e sobretudo espantar-se com o extraordinário número de peregrinos, fazendo com que a população, que normalmente era 78 mil, passasse para 150 mil ou  mais pessoas. Tudo ali se confundia: costumes, língua e gente diferente misturada com pobres, doentes, coxos e cegos que aproveitavam os festejos para mendigar. No dia do início dos festejos José estava lá acompanhando Jesus, na parte do  pátio do Templo reservada aos homens.

Terminados os festejos, que se prolongavam mais dias, era tempo de voltar para casa. Os peregrinos de Nazaré se reúnem para em caravana empreender a viagem de retorno, subdivididos em grupos de homens e mulheres. Jesus, porém, ficou na cidade, entre os pórticos do Templo, sem que seus pais percebessem, e ouvia os ensinamentos dos rabinos.

Sua ausência na caravana foi notada quase depois de um dia de viagem, quando devem ter parado para descansar junto à fonte de Berot. Imediatamente os seus pais voltam a Jerusalém e o procuram por todos os lados, até que o encontram entre os doutores. Sua mãe, apreensiva, perguntou-lhe: “Filho, por que você procedeu assim com a gente? Seu pai e eu estávamos bastante aflitos procurando você". (Lc 2,48).

Nestas palavras de Maria fica evidenciada a paternidade real de José; não só os que ignoravam a divindade e a concepção admirável de Cristo chamam José de pai de Jesus, afirma Suárez, mas o próprio evangelista e  também a Virgem Maria (Mistérios de la vida de Cristo, Madrid, 1958, Vol I,  pp. 263-264).

Comumente a iconografia apresentou este fato ocorrido aos doze anos da vida de Jesus como “A perda de Jesus de Jerusalém”, porém seguramente não foi uma perda de Jesus entre a multidão que se apinhava em Jerusalém naqueles dias, mas sim uma decisão livre e espontânea do próprio Jesus.

Ele mesmo quis permanecer lá, e não foi  por um descuido de seus pais. Devemos notar que, aos doze anos, os adolescentes israelitas começavam a gozar uma certa autonomia e já eram considerados socialmente.

Assim, não foi difícil para Jesus conseguir o seu intento, mesmo porque os adolescentes podiam acompanhar tanto o pai como a mãe em caravanas separadas, as quais se encontravam somente em alguns pontos preestabelecidos. Portanto, nem José nem Maria podiam imaginar que Jesus tivesse ficado em Jerusalém.

Depois de encontrá-lo, Jesus desceu com eles para Nazaré e, no seio da Sagrada Família, uma das tantas famílias desta pequena cidade da Galiléia, crescia e “robustecia-se de sabedoria,  e a graça de Deus estava com ele” (Lc 2,40). 

Estas poucas palavras resumem o longo período da vida “oculta” que Jesus viveu à espera do cumprimento da sua missão messiânica. Durante todo esse período, Jesus viveu no âmbito da sua família, sob os cuidados de São José, que tinha conforme os deveres de um pai na época, a responsabilidade de alimentá-lo, vesti-lo e instruí-lo na lei e ensinar- lhe um ofício. Nesse contexto, Jesus crescia “em sabedoria, em estatura e em graça” (Lc 2,52), tudo na docilidade total aos seus pais “era-lhes  submisso” (Lc 2,51).

Correspondia, portanto, com todo respeito às atenções de seus pais e, “dessa forma, quis santificar os deveres da família e do  trabalho, que ele próprio  executava ao lado de José” (João Paulo II, Exortação Apostólica Redemptoris Custos, Roma, 1989 - RC 16).

Os evangelistas silenciam completamente sobre os anos da “vida  oculta” de Jesus em Nazaré. Sabemos apenas que levou uma vida comum, não apresentando nada de especial entre os habitantes da sua cidade. Na oficina de José, acompanhou os acontecimentos por vezes tumultuados da história do seu povo, cujo governador, Arquelau, destacava-se pela crueldade, mostrando ter um  braço forte para governar. Seu comportamento tirano gerava rebeldia, movimentos de revolta comandados por líderes espontâneos que se estendiam por toda a Judéia. Aspirava como qualquer cidadão do seu tempo a uma verdadeira e completa libertação, que depois iria pregar com toda veemência pelas terras da Palestina.

A instabilidade política reinante no país e o descontentamento do povo com o domínio dos romanos marcaram profundamente as etapas da  vida de Jesus adolescente e jovem. Contudo, todos esses anos foram acompanhados pelos constantes e sábios conselhos de José educador. Ali, na casa de Nazaré, José transmitia ao filho a sua experiência profissional e humana.


Questões para o aprofundamento pessoal

1. Leia e tome conhecimento do relato de Mt 2,19-23. Para onde a Sagrada Família dirigiu-se depois do exílio? O que José passou a fazer após este acontecimento? Como podemos individuar a  sua profissão

2. Qual o episódio marcante de Jesus na vida de José e Maria durante a vivência em Nazaré e em que passagem de Lucas Maria evidencia a paternidade de José sobre Jesus?


Por Centro de Espiritualidade Josefino Marelliana

Como eu conquistei a maturidade Espiritual? - Moisés Rocha | Série: Formação Humana e Espiritual

A FUGA, A PERMANÊNCIA E A VOLTA DO EGITO (CURSO DE JOSEFOLOGIA - PARTE 1 - CAPÍTULO 09)



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O relato da fuga e da permanência da Sagrada Família no Egito é um particular, que devemos à pena do evangelista Mateus. Neste relato Mateus mostra José no exercício de seus direitos e de suas funções de chefe da Sarada Família. É a ele e que anjo do Senhor aparece, é a ele que o anjo fala, é a ele que vem comunicada a destinação, é a ele que será depois revelada o tempo da volta para Nazaré.

Depois de ter cumprido todas essas prescrições legais, conforme o costume da época, José sem dúvida pensava que era hora de voltar para sua casa, para o seu trabalho do dia-a-dia, mas o evangelista Mateus descreve que, antes da volta para a Galiléia, haverá um outro fato muito importante, onde a Providência divina recorrerá novamente a ele. Através da comunicação em sonho por um anjo, é-lhe indicado o Egito como meta temporária de fuga, ou seja, até que Herodes morresse. 

Neste detalhe da fuga e permanência da Sagrada Família no Egito, descrito por  Mateus, lemos: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito e fica lá até  eu te avisar, porque Herodes está procurando o menino para o matar” (Mt 2,13). A ordem de Deus para se exilar com a família foi cumprida por José imediatamente e com perfeição. 

“De  noite, tomou o menino e sua mãe e retirou-se para o Egito, onde ficou até a morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia anunciado por meio do profeta: “Do Egito chamei o meu filho” (2,14-15). 

Ainda  de noite ele empreende a viagem rumo ao desconhecido, seguindo o  mesmo destino de Abraão, que se refugiou neste país, e de José do Egito, foi salvo ali das mãos de seus irmãos. Havia muito chão a percorrer, era necessário muita coragem e confiança em Deus, diante da ordem divina de que se  exilassem nessa terra estrangeira, pois ali estariam em segurança, e seria dali, daquele país famoso por suas tradições, suas cidades cheias de monumentos solenes e com seus centros culturais e comerciais, que o Senhor seria chamado, como o profeta havia anunciado: “Do Egito chamei  o meu filho” (Os 11,1).

É por esse motivo que Mateus vê na fuga ao Egito e depois na volta da Sagrada Família à Nazaré, o cumprimento da verdadeira libertação prefigurada pelo  antigo Egito e individualizada na expressão de Oséias citada acima.

Na fuga para  o Egito, o evangelista se compraz em mostrar o nosso Patriarca exercendo suas funções e direitos de chefe da família que lhe foram confiados. É para ele que o anjo aparece, é com ele que o anjo fala, é a ele que é comunicado o lugar onde devem ir e será depois a ele que o anjo transmitirá o anúncio de retorno à terra de origem.

Deve-se ressaltar também a palavra “Egito” é uma localidade conhecida no AT não tanto por ser o refúgio dos Patriarcas e de outros personagens, mas sobretudo pelo lugar da dura escravidão do povo hebraico, da qual só o intervento divino pode libera-lo. Jesus é considerado por Mateus o verdadeiro Moisés, pois assim como Moisés acompanhou o povo hebraico até a terra prometida, Jesus o supera entrando na terra de Israel (Mt 2,20-21). 

O Papa João Paulo II colheu esta intenção de Mateus ao afirmar que: “Assim como Israel tinha tomado o caminho do êxodo, ‘da condição de escravidão’ para iniciar a Antiga Aliança, assim José, depositário e cooperador do mistério providencial de Deus, também no exílio vela por Aquele que vai tornar realidade a Nova Aliança”.  (RC 14).

Neste mistério também José foi o ministro da salvação fazendo escapar da morte a vida ameaçada do Menino Jesus, como rezamos na oração composta por Leão XIII. Eis um motivo a mais para confiar no Patrocínio de São José, pois ainda hoje temos muitas razões para recomendar a São José cada ser humano, como nos ensina o documento Redemptoris Custos (N 31).

O evangelista nos relata com poucas palavras esta fuga para um país estrangeiro, não entrando em detalhes, não indicando o tempo e nem a forma da viagem, nem tampouco descrevendo as circunstâncias do  trajeto. Limita-se a contar-nos o essencial, e o essencial é que Herodes procurava matar o menino Jesus. 

A  atitude de Herodes não era estranha, pois já havia mandado matar outras pessoas consideradas seus rivais. Esse tirano não era benquisto pelo  povo, e quando morreu, aos 69 anos, os judeus comentavam aos cochichos que ele tinha se “apoderado do trono como uma raposa, reinado como um tigre e morrido como um cachorro”. Mandar matar todas as crianças do sexo masculino, com menos de dois anos de idade, residentes na pequena aldeia de Belém e adjacências, tinha sido um de seus últimos atos infames, bem condizente com  o seu mau caráter.

Para buscar a  liberdade em outras terras, a Sagrada Família teve que empreender uma viagem penosa e arriscada, pois o Egito não ficava perto. Para atingi-lo era preciso fazer uma caminhada de cerca de 400 quilômetros. É descartada a  possibilidade de que tenham feito essa travessia pelo deserto sozinhos. 

Certamente serviram-se de pessoas que conheciam esse trajeto para chegar ao  objetivo, pois, além do cansaço da caminhada, havia escassez de água, falta de segurança etc. Mesmo os soldados romanos, equipados e treinados para longas caminhadas, preferiam combater a atravessar aquele deserto, conforme relatou Plutarco.

Os acontecimentos durante a viagem pelo deserto não  nos foram relatados, portanto não existe nada que  possa satisfazer a nossa curiosidade. Só existem piedosas e  graciosas lendas, descritas com imagens poéticas pelos apócrifos (Os apócrifos são escritos da mesma época dos escritos bíblicos, ou um pouco  posteriores, mas não são tidos como  inspirados, portanto não estão incluídos no cânon oficial. 

Receberam a denominação de apócrifos, ou seja,  ocultos, secretos, escondidos, porque não eram de  uso público,  ou seja, não eram usados oficialmente na liturgia e no ensino). Algumas dessas lendas encontradas no evangelho apócrifo do Pseudo Mateus e no evangelho Árabe da Infância, relatam que animais ferozes os acompanhavam no  deserto, que bois e outros animais lhes traziam o que era necessário, ou que árvores se inclinavam enquanto o Menino Jesus passava, ou ainda, que árvores secas, sem folhas, tornavam-se frondosas para abrigá-los em suas sombras.

Claro que a Providência Divina não deixou de socorrê-los nessa caminhada. Assim, árvores e  palmeiras que se inclinavam para lhes fornecer frutos ou  que faziam jorrar água fresca para  matar a sede não passam de  fantasia dos apócrifos.

Entretanto, a lenda que teve maior repercussão na iconografia e na literatura encontra-se no Pseudo Mateus, nos capítulos 22 e 24. Ele narra que, “enquanto estavam conversando, viram á sua frente os montes do Egito e suas cidades. Com alegria chegaram aos limites de Ermópolis, e entraram em  uma cidade do Egito chamada Sotine".

Como não houvesse ali nenhum  conhecido em cuja casa pudessem hospedar-se, entraram no templo denominado Capitólio do Egito.
"Nesse templo haviam sido colocados 365 ídolos, aos quais cada dia se atribuíam sacrilegamente honras de divindades. 

Ora, aconteceu que, ao entrar a beatíssima Maria com a criança no templo, todos os ídolos caíram por terra, ficando completamente estragados e quebrados; assim demonstraram evidentemente que não eram nada”. 

Prosseguindo a narrativa, diz que “então Afrodísio, governador da cidade, ao saber do ocorrido, dirigiu-se ao templo com todo o seu exército. Os pontífices do templo, ao ver Afrodísio correr ao templo com todo o exército, pensavam que se vingaria daqueles  que  haviam feito os deuses caírem por terra. Mas ele, ao entrar no templo, vendo todos  os ídolos prostrados no chão, aproximou-se de Maria e adorou o menino que ela tinha nos  braços. 

Depois de adorá-lo, disse a todo o seu exército e aos amigos: “Se este não fosse o Deus do  nossos deuses, os nossos deuses não teriam caído por terra diante dele, nem permaneceriam prostrados na sua presença, de maneira que, tacitamente, proclamou que é o Senhor deles. 

Portanto, se não fizermos todos, com maior cautela,  o que fazemos aos  nossos deuses, poderemos incorrer  no  perigo de sua indignação e irmos todos ao encontro da morte: como aconteceu ao Faraó rei do Egito, o qual, não dando atenção aos múltiplos prodígios, foi submerso ao mar com todo o seu exército. Então todo o povo daquela cidade acreditou, por meio de Jesus Cristo, no Senhor Deus".

É interessante notar que esta descrição, imaginária ficou imortalizada no mosáico da abside da basílica Santa Maria  Maior de Roma, onde  está representada a cena de Afrodísio. Essa mesma realidade religiosa também  é lembrada  na prática de piedade das “Sete dores e alegrias de São José”, que lembra a alegria de São José “ao ver cair por terra os  ídolos dos egípcios”.

Quanto ao  lugar onde a Sagrada Família viveu no Egito, não é possível  precisá-lo. Mateus é tão genérico neste ponto que  podemos concluir que bastou José chegar à fronteira do Egito, ao sul de Gaza, em direção a Wadi Aris,  para estar seguro, fora do domínio de Herodes. Contudo, são diversas as localidades que disputam a honra de ter hospedado a família imigrante de Nazaré. Entre elas destacamos Heliópolis, lugarejo distante 10 quilômetros de Cairo. 

Também no vilarejo de nome Matarieh, próximo do Cairo, num  lugar denominado “Jardim de Bálsamo”;  são venerados um antigo sicômoro, conhecido com “árvore da Virgem”, e uma fonte, cuja tradição busca uma interpretação no “Evangelho árabe da Infância”, explicitando que a Sagrada Família se dirigiria ao sicômoro hoje chamado Matarieh e Jesus fez com que ali brotasse  uma fonte, na qual a Senhora Maria lavava as suas fraldas. 

Do suor de Jesus, que se espalhou, proveio o bálsamo da região (c 24). Hoje nesta localidade está erigida uma igreja dedicada à Sagrada Família. Ainda em Cairo, entre as várias igrejas edificadas, uma das  mais importantes é Abu Sargha, construída segundo a  tradição no  lugar onde morava a  Sagrada Família.

Outras  localidades se contentam em ter a honra ao menos da estada da Sagrada Família. Entre elas citam-se Bubaste, Bilheis, Pelusio e Koskam. Os elementos convencionais nos quais essas tradições  se apoiam são quase sempre uma árvore, uma fonte ou uma igreja com uma referência clara a lendas apócrifas.

Pouco nos importa saber o lugar onde residiram o certo é que foi neste país,  poderoso por causa de seus exércitos ágeis que a Providência os colocou por algum tempo, alojados provavelmente em um dos bairros hebreus, situados numa cidade próxima à fronteira oriental. 

Numa dessas localidades os “hebreus podiam encontrar auxílio e conforto junto aos compatriotas que viviam naquele país, famoso por suas tradições antigas, por suas cidades de monumentos solenes e  por seus centros culturais e comercias onde pulsava a vida do  grande mundo. 

No ambiente onde a Sagrada Família passou a viver, assim como em todo o Oriente, iniciara-se o culto ao imperador e o número de ídolos era bastante elevado: adorava-se o carneiro,  o abutre, o crocodilo, o falcão... Além do mais, existiam um vasto domínio de magia e de superstições, especialmente no interior”.

Com a solidariedade de seus compatriotas, José encontrou um lugar para instalar-se com a sua família e deu  início à nova vida em terra estrangeira, sem despertar nenhuma atenção para os israelitas que ali viviam. Juntos, os israelitas em país estrangeiro formavam uma associação mais bem estruturada e funcional do que na sua própria pátria, pois, pressionados pelas circunstâncias, precisavam ajudar-se mutuamente para subsistir.

O tempo foi passando e o exílio determinado pela Providência chegava ao fim. Segundo uma das versões mais prováveis, dois anos após a matança dos inocentes, Herodes morreu depois de  uma doença dolorosa e repulsiva. 

Livre do tirano, o Anjo apareceu novamente em sonho a José no Egito e lhe disse: “Levanta-te, toma o menino e a mãe e retorna à  terra de Israel... José levantou, tomou o menino e a mãe e foi para a  terra de Israel. Mas, tendo ouvido que Arquelau reinava na Judéia em lugar de seu pai Herodes,  teve receio de ir para lá. Avisado em sonho, retirou-se para as bandas da Galiléia, indo morar numa cidade chamada Nazaré” (Mt 2,20-23). 

Solicito como sempre, José preparou tudo, pegou o menino e sua mãe e se pôs a caminho em direção da sua terra de origem. Voltar para a sua terra era, sem dúvida, motivo de grande alegria, porém o clima por lá estava tenso e semeado de discórdia e  violência. A política  não andava bem as revoltas e a guerra civil havia causado muitas mortes. 

Arquelau, que assumira o governo da Judéia em lugar de seu  pai Herodes da mesma forma um tirano, com sede de poder, e sua fama de atrocidades havia chegado também ao Egito. O povo acabava de sair das mãos de um sanguinário e começava a sentir na carne a dureza de um  novo despotismo. 

José ao tomar conhecimento de todas essas  péssimas notícias, sentiu medo e, como pai, temeu pela vida do menino. Como bom israelita, gostaria de no retorno, passar  por  Jerusalém, visitar o Templo onde ficou distante de seus olhos durante o período de exílio e dar  graças ao Senhor antes de iniciar a sua nova vida em Nazaré, mas novamente Deus fixou os rumos da sua vida, comunicando-lhe que se dirigisse diretamente a Nazaré, evitando assim qualquer risco de vida para  o menino. 

Os primeiros anos da vida de Jesus haviam sido cheios de intranqüilidade. Agora, na pacata Nazaré, rodeado por seu ambiente familiar, José podia viver  mais sossegado.

É importante destacar um fato particularmente significativo nesta moldura do exílio. Tanto a ordem de refugiar-se no Egito como de  retornar à pátria não foi transmitida a Maria. E sim a José, o que evidencia o reconhecimento da sua autoridade ou jurisdição paterna sobre Jesus. Neste acontecimento particular, José exerceu plenamente a sua paternidade, a sua missão de chefe da Sagrada Família e esposo de Maria. 

Nesse fato vemos a sua  participação e colaboração clara e precisa no mistério da redenção. A ele foi confiado o início da nossa redenção, conforme rezamos na oração da coleta da missa do dia 19 de  março. José foi ao mesmo tempo guarda legítimo e natural, chefe e defensor da família divina, ministério que exerceu durante toda a sua vida.

Questões para o aprofundamento pessoal

1. Leia e tome conhecimento do relato de Mt 2,13-18, além do motivo da perseguição de Herodes, qual outro o evangelista indica para esta fuga?

2. Qual é a importância da atuação de José neste fato?

3. Tome conhecimento de alguns relatos fantasiosos dos apócrifos durante a fuga da Sagrada Família para o Egito?


Por: Centro de Espiritualidade Josefino Marelliana

sábado, 4 de agosto de 2018

Eu posso ser SANTO?

A gente sempre acha que terá tempo de sobra…


Por: A soma de todos os afetos

FATHER AND SON WORKING

Nós nos acomodamos em nossos argumentos vagos e não percebemos que nem tudo estará ao nosso alcance por muito tempo
Recentemente recebi um texto lindo por Whatsapp intitulado “Vá aos encontros felizes”.

Nele, a autora, Monica Moro Harger, fazia uma bela reflexão acerca da necessidade de irmos ao encontro daqueles a quem amamos, aproveitando as boas oportunidades de nos reunirmos na alegria, e não somente nos momentos tristes.

Como ela ressaltava, “nos encontros tristes você irá. Quando alguém morre, todos vão. Por protocolo, por obrigação ou por amor (e dor). Mas é bom que seja assim também, e, principalmente, nos momentos felizes”.

O texto de Monica é perfeito, singular, redondo. Não quero aqui acrescentar nada ao que ela já disse, pois seria desnecessário. O texto – curto, certeiro e muito bonito – é um alerta àqueles que acham que têm tempo de sobra, tempo demais para brindarem a vida junto àqueles que amam ou simplesmente abraçar as pessoas que lhes são caras. Infelizmente, a verdade é que nunca há tempo suficiente.

Tive um namorado “muito confiante” que dizia que teríamos o resto da vida juntos, e por isso priorizava os amigos à nossa relação. Certamente era uma desculpa dele, mas o fato é que escolhemos aquilo que queremos priorizar, e muitas vezes deixamos para depois pessoas e momentos importantes que nunca mais irão voltar.

Meu namoro não durou, é claro, mas o fato dele achar que teríamos tempo de sobra no futuro, fez com que o presente fosse deixado de lado, e isso contribuiu para nosso rompimento.

Como eu disse, nós escolhemos nossas prioridades.

Escolhemos colocar trabalho à frente de família, rede social à frente de amigos verdadeiros, sofá à frente de oportunidades de brindar à vida. Nos acomodamos em nossas desculpas e argumentos vagos e não percebemos que nem tudo estará ao nosso alcance por muito tempo.

Os filhos crescem, as pessoas se despedem, os amigos vão embora, as oportunidades de abraçar aqueles que amamos se esgotam.

No primeiro fim de semana de agosto terei meu anual encontro de turma. Lá se vão vinte e dois anos de formados, e me reabasteço a cada reunião. Sinto orgulho dos colegas que viajam centenas de quilômetros para estarem conosco. Alguns vêm de avião, outros, acompanhados de seus filhos pequenos, cortam estados inteiros na estrada para passarmos dois dias juntos.

Ano passado, um dos nossos grandes amigos saiu do hospital, depois de um infarto, direto para o encontro! No olhar de cada um, enxergo a resolução de que nossas reuniões sejam prioridade. Apesar do cansaço, dos afazeres, da vida corrida e da falta de grana, uma vez por ano reservamos um fim de semana para estarmos juntos.

Uma vez por ano, abrimos mão de tudo que poderíamos estar fazendo e declaramos que o mais importante é rever nossa velha família e voltar a ser quem éramos aos vinte anos.

Doutora Ana Claudia Quintana Arantes, médica especialista em cuidados paliativos, cita que, entre os cinco maiores arrependimentos das pessoas antes de morrer, estão: “Eu gostaria de não ter trabalhado tanto”.

Ela conta que ouviu isso de todos os pacientes homens com quem trabalhou. Eles sentiam falta de ter aproveitado mais a juventude dos filhos e a companhia de suas parceiras.

E também: “Eu gostaria de ter ficado em contato com meus amigos”. Segundo Ana Cláudia, “muitos tiveram muitos arrependimentos profundos por não ter dedicado tempo e esforço às amizades. Todo mundo sente falta dos amigos quando está morrendo.”

Assim, acredito que quando você diz que “não tem tempo” para alguma coisa, na verdade você está dizendo que não escolhe aquilo como prioridade. Simples assim.

“Falta de tempo” já virou desculpa para muita coisa: desinteresse, desimportância, descaso, desapego. As pessoas reservam vagas na agenda para aquilo que acham que merece atenção, envolvimento, tempo. Nem sempre fazem escolhas acertadas, e um dia, tarde demais, podem perceber que privilegiaram coisas supérfluas às coisas importantes.

A gente sempre acha que terá tempo de sobra, mas a verdade é que ninguém tem. De uma hora para outra percebemos que o correr da vida nos engole por completo, e por isso é urgente não adiar nem tardar o perdão, as manifestações de afeto, a nossa presença plena e integral junto àqueles que amamos.

No dicionário, priorizar é definido como “privilegiar”, “garantir vantagem”. Que você privilegie as coisas certas, eternas, valiosas. Que dê vantagem àquilo que realmente é importante, que não pode ser ignorado, que é relevante demais para ser considerado segunda opção.

Que nunca se engane com a ordem das coisas, e coloque em primeiro lugar o que torna-se primordial hoje e nunca, jamais, poderá ser resgatado depois.

Pois depois… Depois a casa fica vazia, as marcas na parede denunciando o crescimento do menino se apagam, as músicas do velho amor são substituídas por uma batida barulhenta nova.

Depois a porcelana quebra, a prata escurece e os guardanapos de uma noite feliz voltam para a gaveta. Depois os quintais perdem o encanto, os porta retratos empoeiram e a certeza de que a visita do tempo é implacável se consolida.

Então não deixe para depois o que merece ser reverenciado, amado, vivido. Não adie as mãos dadas, o beijo de boa noite, a conversa de boteco, a receita de família enchendo a cozinha de vapores.

Não recuse a bola no quintal, a oração na cama dos pequenos, o ritual de enxugar a louça enquanto sua mãe lava. Troque o sofá pelos “encontros felizes” e nunca se esqueça que a contabilidade que realmente importa é baseada nas experiências vividas, nos laços criados e nas prioridades assumidas.