“Ela dará à luz um
filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus
pecados. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: Eis que a Virgem conceberá
e dará à luz um Filho, que se chamará Emanuel (Is 7,14), que significa: Deus
conosco.
Despertando, José fez
como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa. E,
sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome
de Jesus” (Mt 1,21-25)
Sabemos que para o povo
bíblico o nome designa a própria natureza do ser, as suas qualidades e a missão
da pessoa. No livro do Gênesis (17,5)
Javé trocou o nome de Abrão para Abraão porque o tornou pai de uma multidão.
Dar o nome ao filho é
um direito inerente à missão dos pais, pois estes exercitam a autoridade sobre
eles, e de certo modo designam a personalidade deles. De fato, Abraão deu o
nome aos seus filhos Israel (Gn 16,15;); Isac (Gen 17,19); Raquel ao filho José (Gn 30,22-24); Ana ao
Filho Samuel (1 Sam 1,20); Zacarias a João (Lc 1,55-64).
Na verdade, nesta
ótica bíblica, José ao impor o nome a Jesus, o introduziu na descendência
davídica com a sua conseqüente messianidade, assim como assumiu sobre ele os direitos
de pai. De fato, São João Crisóstomo coloca na boca do anjo do anúncio a José,
estas palavras: “Sem bem que tu, José, não tens nada a ver com a geração... te
confiro igualmente aquilo que é próprio de um pai, impor-lhe o nome; te confio
Jesus para que sejas aqui na terra o seu pai”
(In Matthaeum homilia IV: MG 57,46-47).
Quanto aos sonhos de
José, devemos afirmar que os teólogos afirmam que a historicidade da revelação
comporta a possibilidade da manifestação de Deus em todos os níveis da criação
e das realidades da vida humana, inclusive os determinismos biológicos e
psicológicos. Os sonhos estão presentes na história dos Patriarcas, tais como:
Abraão (Gn 15,.12); Jacó (Gn 31,10-18); José (37,5-10), etc.
No NT são apresentadas
situações de visões mas que no contexto parecem sugerir sonhos (At 16,9; 27,23;
18,9; 23,11), além daquelas referências de Mateus, onde se descreve a vocação
de José (1,18-25), A fuga para o Egito (2,13-15), A volta do Egito (2,19-23),
etc.
Ligado aos sonhos de
José estão os anjos, os quais na mentalidade e concepção bíblica são
considerados como seres do mundo celeste e mensageiros de Deus. São várias as
passagens do NT que fazem referências aos anjos (Lc 1,11; 2,9; At 5,19; 8,26;
12,7.23; 22,43; Mt 4,11 etc.).
A respeito dos sonhos
de São José existem muitas interpretações seja dos Padres da Igreja, seja dos
teólogos. Não nos interessa aqui fazer uma explanação particular das diversas
posições, basta afirmarmos que quase todos os comentadores e os teólogos,
consideram o sonho como um grau inferior de manifestação divina a respeito
daquela manifestação feita em estado de acordado.
Em vista disso, consideram
que a inferioridade do meio com que Deus escolheu para comunicar a José o seu
desígnio é justificado por uma minimização da exigência do caso, ou seja, visto
que José conhecia a inocência de Maria, era de se considerar suficiente
qualquer leve insinuação para acreditar que a Virgem tivesse concebido Jesus, o
Filho de Deus, e que o seu ventre estava repleto do Espírito Santo, como
afirmou Euthymius Zigobenus.
Outros viram na
inferioridade do meio de comunicação divina a José (através do sonho) o
reconhecimento da virtude de José. Para ele era suficiente uma aparição
não manifestada.
Numa linha mais psico–religiosa
alguns afirmam no sonho bíblico há a “passividade do homem” diante da ação de
Deus, que dispõe tudo, sobretudo no plano da salvação e disto se conclui que
“os Patriarcas são chamados para uma missão que transcende toda capacidade
humana; eles são guiados na própria atuação não por uma simples providência
humana, mas pela própria voz de Deus..., São José, como os antigos Patriarcas,
agiu em função de acontecimentos que transcendem o ser humano... Ele é o
instrumento, mas a ação vem de Deus.
Ele coloca daquilo que
é próprio de si a obediência no cumprimento da ordem, mas quem dispõe de fato é
Deus”. Como defende Cristobal de San Antonio.
O Papa Paulo VI
evidencia neste fato, São José como modelo de escuta da vontade de Deus, onde
por “três vezes no evangelho, se fala de colóquios de um anjo com José durante
o sono.
O que quer dizer isso?
Significa que José era guiado, aconselhado no íntimo, pelo mensageiro celeste.
Havia uma ordem da vontade de Deus que se antepunha às ações e portanto o seu
comportamento normal era movido por um arcano diálogo do que fazer: José, não
temas; não faças isso; partas, voltes! Vemos (nele) uma estupenda docilidade,
uma prontidão excepcional de obediência e de execução.
Ele não discute, não
hesita, não reivindica direitos ou aspirações. Lança-se na execução da palavra que lhe foi dirigida” (Homilia
19/3/1968).Portanto, José regulou a sua vida como a sua consciência, iluminada
pelo o que o Espírito de Deus lhe ditava. Ele comporta-se conforme as
inspirações que lhe vinham do alto.
Como conclusão pode-se
dizer que os sonhos de São José conforme nos apresenta o evangelista Mateus,
podem ser considerados como um meio de revelação divina. Eles podem ser
considerados evidentes inspirações divinas que o guiava para o desenvolvimento
de sua responsabilidade de pai legal de Jesus.
Sabemos que os sonhos
ocupam 20% do tempo do nosso sono. A Sagrada Escritura considera o profetismo
(Dt 18,9-19) como a instituição privilegiada colocada à disposição de Israel
para conhecer a vontade de Deus, mas admite a eficácia de outros meios
legítimos, tais como visões, sonhos, etc. (Nm 12,6).
Neste sentido, uma das
características dos sonhos que estão presentes na Bíblia, é a transcendência do
puro interesse privado de quem sonha para inseri-lo no plano da salvação. Os
sonhos de José narrados por Mateus evidenciam este fato, pois estes referem-se
aos “mistérios” da vida de Jesus, ou seja, nascimento, permanecia no Egito e
residência em Nazaré, mistérios estes, dos quais São José foi indispensável
“ministro”.
De fato, nos episódios
de sua vocação (Mt 1,18-25), José resolve suas dúvidas diante da admirável
maternidade de Maria, quando o anjo o coloca junto a ela para assegurar a
messianidade de Jesus através da descendência davídica e depois para dar-lhe o
nome.
Da mesma forma, a permanência no Egito é para salvar a vida física de
Jesus ameaçada por Herodes, mas dentro do “mistério” é a redenção da humanidade
operada naquela região de antiga escravidão através do Filho e do intervento do
Pai: “do Egito chamei o meu Filho” (Mt 2,15).
O mesmo se pode dizer para a
residência ou permanência em Nazaré segundo o plano de Deus, a qual condiciona
de certo modo a vida e a missão de Jesus, sendo assim a chave para compreender
o seu escondimento e o seu segredo messiânico que caracteriza toda a sua
missão.
Estes eventos dentro da
história da salvação não são crônicas, mas acontecimentos salvíficos, eventos
determinados para a execução do plano de Deus, e por isso Deus deu a José, o
“singular depositário do mistério”, o caminho para ser percorrido, também se de
um modo mais discreto possível, ou seja, através do sonho.
Este sentido de
disponibilidade e de obediência de José é lembrado por João Paulo II propondo-o
como modelo para toda a Igreja, .. “Logo no princípio da Redenção humana, nós
encontramos o modelo da obediência encarnado, depois de Maria, precisamente em
José, aquele que se distingue pela execução fiel das ordens de Deus” (RC 30).
Questões para o
aprofundamento pessoal
1.Leia e tome conhecimento do relato de Mt
1,21 e procure responder em qual rito esta ordem do anjo a José foi cumprida.
2.Ao impor o nome a
Jesus, que conseqüências práticas ocorreram para o próprio Jesus e para José?
3.Indique as passagens
onde o anjo comunica-se com José em sonhos. Por que em sonhos?´
4.Dê as razões que o
papa Paulo VI indica para o acontecimento dos sonhos na vida de José.
Por: Centro de
Espiritualidade Josefino Marelliana
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