O evangelista Lucas
coloca neste acontecimento o fato de um Decreto para o recenseamento promulgado
por César Augusto, fato este que levou José e Maria a dirigirem-se de Nazaré
até Belém. Em Lucas (2,1-7) lemos “Naqueles tempos apareceu um decreto de César
Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra. Este recenseamento foi
feito antes do governo de Quirino, na Síria. Todos iam alistar-se, cada um na
sua cidade. Também José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à
Cidade de Davi, chamada Belém, porque era da cada e família de Davi, para se
alistar com a sua esposa Maria, que estava grávida. Estando eles, ali,
completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho primogênito, e envolvendo-o
em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na
hospedaria”.
Constatamos que no
segundo capítulo de Mateus por três vezes ele insiste: “Para que se cumprisse o
que foi dito pelo Senhor por meio do Profeta”. Ainda Mateus (2,5-6) afirma: “Em
Belém, na Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de
Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá
o chefe que governará Israel, meu povo”.
Ora, tudo isso indica expressões dos desígnios de Deus a respeito do nascimento
do Messias.
Podemos concluir que a
partir do fato do recenseamento, José começou a exercitar os seus direito e
deveres de pai em relação a Jesus buscando o lugar para o seu nascimento,
permanecendo ao lado de Maria durante o parto e depois registrando em Belém o
nome e a pessoa de Jesus como seu descendente e em tudo isso saboreando, apesar
das circunstâncias difíceis do nascimento de Jesus, que ele era o pai daquele
que salvaria o mundo dos seus pecados (Mt 1,21).
Após o nascimento de
Jesus, seus pais procuraram circuncidá-lo. O episódio da circuncisão de Jesus
impressionou muitos pintores e artistas talvez pelo motivo da eficácia da cena,
assim como tocou muitos pregadores pelo motivo do sangue derramado no rito, etc.
Contudo é importante considerá-la na sua
justa perspectiva teológica.
A circuncisão não foi
invenção dos hebreus, porque esta já era conhecida entre os povos com os quais
o povo hebreu teve contato. O que é próprio dos hebreus foi ter assumido este
rito como símbolo da aliança com Deus e da santidade de Israel entre as nações.
A carne do hebreu circuncidada é o sinal da aliança mantida e portanto do
direito das promessas feitas por Deus a Abraão, e é também um título para o
exercício do culto (Ex 12,43-44s). É em suma, um sinal de pacto com Javé.
A lei da circuncisão é
descrita meticulosamente em Jeremias 17. É preciso afirmar que a circuncisão de
Jesus não pode ser considerada somente como uma circunstância que permitiu de
introduzir uma ação importante na sua vida, ou seja; de dar-lhe o nome de
Jesus, embora reconhecendo a ênfase sobre a imposição do nome. Sem dúvida,
Lucas não inseriu o rito da circuncisão simplesmente como uma notícia de
crônica e nem quis com isso enfatizar a solidariedade de Jesus com o gênero
humano, enquanto esta verdade já estava presente na encarnação.
Também não é
específico da circuncisão de Jesus a sua inserção na descendência de Abraão,
porque esta podia também ser dada para estrangeiros como possibilidade para que
participassem do culto (Gn 17,12; Ex 12,48), muito mais porque Lucas relata que
Maria era esposada com um homem chamado José, da casa de Davi.
A circuncisão, portanto
não pode ser considerada, como já afirmamos, apenas como uma circunstância para
dar o nome a Jesus. Ademais, Lucas não diz expressamente que Jesus foi
circuncidado, mas usa a expressão: “Quando se completaram os oito dias para a
circuncisão...” (Lc 2,21). Este detalhe é importante para evitar que Jesus
pudesse vir a ser colocado entre os circuncidados como se fosse um membro da
aliança, ele que é a própria aliança.
Ademais, Jesus não é um beneficiário das
promessas, pois ele é a Promessa (2Cor 1,20), ele é aquele que “salvará o seu
povo dos seus pecados” (Mt 1,21). Ele não está portanto entre os eleitos e
salvos.
Lucas enfatiza a origem
celeste do nome Jesus, deixando na sombra a função de José (Mt 1,21-25) e de
Maria (Lc 1,31), para evidenciar que a salvação vem de Deus na pessoa de Jesus.
A circuncisão tornou
Jesus súdito da lei (At 15,5) ele se submeteu à lei. Ela o envolveu na aliança,
mostrando que ele é o Sim das promessas de Deus (Lc 1,54s.72s. 2,25).
A
circuncisão na ótica de Lucas foi o momento histórico no qual o nome de
Jesus tornou-se mysterium salutis. De
fato, ele interpreta este evento no seu significado salvífico através da
ligação com o nome de Jesus “Ele enviou a sua palavra, aos filhos de Israel,
anunciando-lhes a boa nova da paz por Jesus Cristo...” (At 10,36).A eficácia do
nome Jesus tem aqui o seu início e todo o seu significado.
Entre os primeiros
deveres de um pai para com o filho estava aquele de circuncidá-lo, o que não
significava que o pai devia ser o executor material, porque podia ser a mãe (Ex
4,25), ou normalmente, dado a delicadeza do intervento, era atribuição de uma
pessoa capaz, conhecido como Mohel (circundante). Contudo, era o pai que devia
assumir a responsabilidade para que o seu filho fosse inserido no povo da
promessa.
Esta cerimônia era
realizada normalmente na casa do neonato (Lc 1,59) com a presença de um certo número
de testemunhas que segundo a tradição talmúdica eram dez, entre as quais estava
o padrinho que segurava o menino durante a cerimônia.
Durante o rito o pai da
criança proferia, conforme a tradição talmudica, uma benção com estas palavras:
“bendito aquele que nos santificou com os seus mandamentos e nos ordenou
de introduzir a este na aliança de
Abraão, nosso pai”.
No relato do desenvolvimento deste rito José ficou na
sombra, contudo foi ele que como pai de Jesus que providenciou, preparou e
preocupou-se com todos os requisitos para a realização deste rito.
As gotas de
sangue, o choro do menino, as suas lágrimas, são todos detalhes daquele
precioso momento que podemos imaginar presentes em seu coração através daquele
rito.
Neste, José impondo-lhe o nome de Jesus declarou, como afirma a Exortação
Apostólica Redemptoris Custos, “A própria paternidade legal em relação a Jesus; e, pronunciando esse nome, proclamou
a missão deste menino, de ser o
Salvador” (RC 12). Ele foi o primeiro a pronunciar oficialmente para o mundo o
nome de Jesus e a proclamar consequentemente a sua missão de Salvador da
humanidade.
Questões para o
aprofundamento pessoal
1. Leia e tome conhecimento do relato sobre o
recenseamento em Lc 2,1-7 e compare com Mt 2,5-6. Qual a finalidade do
recenseamento e qual a função que José manifesta neste episódio?
2. Leia Êxodo 17 depois indique em Lucas onde
encontra-se a referência à circuncisão
de Jesus?
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