As referências que
Lucas faz no trecho em que focaliza a narrativa da infância de Jesus mostram
claramente o cumprimento do Antigo Testamento (Lc 2,22-24). Aliás, como já
afirmamos, Jesus reconhece a autoridade
do Antigo Testamento e vê o objetivo de sua missão e o cumprimento de todo o
Antigo Testamento “não vim para abolir a lei e os profetas, mas para
cumpri-la...” (Mt 5,17).
O Antigo Testamento era um tempo de espera que
culminou com a vinda de Jesus, o Filho
de Deus (Gl 4,4) cumprindo tudo o que estava prometido.
A atenção que o evangelista Lucas
coloca no cumprimento segundo a lei, mostra a sua preocupação de mostrar como o
ingresso de Jesus no Templo é o cumprimento do esperado “dia de Javé”,
caracterizado por uma purificação e de
uma excepcional oferta que é o próprio Jesus.
De fato, Lucas serve-se do rito de purificação
da mulher que dava à luz, conforme era estabelecido pela lei de Moisés que toda
a mãe, após o parto era obrigada a apresentar-se no Templo para purificar-se,
pois a mulher após dar à luz era considerada impura (Lev 12,2-4). Para os
exegetas, a cerimônia da purificação de Maria é considerada por Lucas como uma
simples moldura histórica, na qual ele inseriu um quadro muito importante,
sublinhando a excepcional santidade da oferta de Jesus.
Conforme o livro do
Levítico, na Lei de Moisés continha três prescrições: a purificação da mãe
depois de quarenta dias do nascimento do filho; a consagração a Deus de cada
primogênito seja ele homem ou animal e o resgate de cada primogênito (Ex
13,2.13). Entretanto no texto, Lucas evidencia a apresentação de Jesus no
Templo, isto para ressaltar o valor histórico que seus pais realizavam em vista
da missão desta criança, Santa por excelência (Lc 1,35).
Ele é um consagrado a
Deus de maneira única e com uma especial consagração. Além disso, Lucas fundamentando-se
no Antigo Testamento, onde a palavra consagração (parestánai) tem a conotação
em relação aos Levitas e Sacerdotes que desenvolviam o serviço no nome do
Senhor (Dt 17,12; 18,5), vê em Jesus desde aquele momento como o Grande
Sacerdote da nova Aliança e também como o Sacerdote que se oferece como
sacrifício ofertado (J. Danielou, les Evangiles de L’Enfance, Paris 1967, pg
109-111).
Assim, José e Maria apresentam ao Pai, o próprio Filho Jesus como
Sacerdote e hóstia dado em sacrifício.
A lei do primogênito estabelecida em Ex 13,1-15 era muito
importante porque lembrava a absoluta dependência de Deus que Israel teve para
sua libertação do Egito (Ex 3,12s).
Os primogênitos israelitas na ocasião da libertação
do povo de Israel do Egito, não podiam ser destinados para o uso profano, senão
através do resgate, ou seja, de um pagamento efetuado pelo pai de
uma soma equivalente aproximadamente a vinte dias de trabalho (Nm 18,16). No
primogênito era representado o povo da aliança, resgatado da escravidão para pertencer a Deus (RC 13).
Da
fato, o evangelista Lucas descreve que “Concluídos os dias da sua purificação,
segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para a apresentação ao Senhor,
conforme o que está escrito na lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo
masculino será consagrado ao Senhor”(Ex 13,2); e para oferecerem o sacrifício
prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos” (Lc
2,22-24). Portanto, o primeiro objetivo
que Lucas coloca para a viagem da
Sagrada Família à Jerusalém é para “apresentar o Senhor”, o Menino, o
primogênito de Maria (Lc 2,7).
Cumpriu-se, assim segundo o AT, o estabelecido
na lei e Jesus com isso supera este rito, pois não era ele “um simples homem
sujeito a ser resgatado, mas o próprio autor do resgate” (RC 13).
Aqui está
também mais um motivo do por que Lucas omite o referimento ao resgate, embora
José, certamente o pagou, pois este era uma obrigação do pai. José com suas
próprias mãos e plenamente consciente dos mistérios, ofereceu e consagrou a
Deus sobre o altar do Templo, o Menino Jesus.
Os artistas têm com freqüência
colocado o velho Simeão no centro da cena da apresentação de Jesus, o qual
encontrava-se presente no Templo nesta ocasião em companhia de sua esposa Ana.
Quem apresentou de fato Jesus ao Templo foram os seus pais (Lc 2,22), os quais
cumpriram o que determinava a lei.
Neste sentido não é possível separar José e
Maria neste rito; eles foram os ministros deste, foram os instrumentos de Deus
para esta oferta, ao passo que Simeão e Ana foram os instrumentos para a
revelação do seu significado.
Com isso podemos dizer que José e Maria foram introduzidos progressivamente no
mistério de Jesus justamente através deste canal profético. De fato, eles
ficaram maravilhados do quanto ouviram da boca de Simeão a respeito de Jesus,
definido como salvação para todos os povos, luz para as nações.
É importante notar que
foi nesta circunstância que Lucas pela primeira vez qualificou expressamente
José como pai de Jesus, nomeando-o hierarquicamente antes de Maria, sua mãe
(2,33). Também neste contexto Maria é envolvida como mãe, em relação a Jesus,
“uma espada traspassará sua alma” (2,35); aqui o carisma profético de Simeão
revela a participação de Maria na sorte dolorosa de seu Filho.
Naturalmente
José terá experimentado somente em parte esta profecia de sofrimento feita por
Simeão, ou seja, tomará parte das angustias pela perseguição de Herodes e a
fuga no Egito, ou ainda da dor por ocasião da perda de Jesus no Templo, isto
porque o evangelista não acena se ele era ainda vivo durante a vida pública de
Jesus.
No rito da apresentação
de Jesus aparece evidente, a participação enfática de José porque ele, como
pai, era o responsável do Menino e das observâncias religiosas que lhe diziam
respeito. Sabemos que entre os deveres de um pai para com o seu Filho estavam a
tarefa de circuncidá-lo, de resgatá-lo, de instruí-lo na Torá e numa profissão
e de arranjar-lhe um casamento.
Desde o momento em que
o Anjo lhe havia transmitido em nome de Deus a ordem de tomar Maria como sua
esposa e de dar o nome à criança (Mt 1,21), José passou a viver na espera deste
filho e assim, se a Simeão, em virtude do seu carisma profético, tocou anunciar
pelos átrios do Templo a presença da salvação na pessoa do Menino (Lc 2,30-31),
a José, como pai do Menino, tocou de fazer-lhe os gastos da oferta dele, em
virtude do qual todos seriam salvos.
O Papa Pio IX, devoto de São José, quando
ainda era apenas um sacerdote, numa novena pregada por ele, ao comentar a
apresentação de Jesus no Templo evidenciava a função de São José naquela
particular circunstância, e assim descrevia o seu gesto: “José generoso e
pronto na obediência, levanta os braços e tendo a suave hóstia do sacrifício
exclama; Eterno Pai, eis esta criança, que me deste em lugar de Filho, eu o amo
mais que a mim mesmo este amável, este estimado Filho; eu o adoro profundamente
e com grandíssima reverência o reconheço por meu Deus; somente nele eu vivo,
somente nele eu me movo, somente nele eu existo, mas vós quereis que este
penhor seja sacrificado pela saúde dos homens...” (Escritos inéditos de Pio IX,
em Estudos Josefinos 27 [1973] - 171).
Questões para o
aprofundamento pessoal
1. Leia e tome conhecimento do relato de Lc
2,22-38 e procure explicar por que Jesus
foi apresentado ao Templo – faça um paralelo com Ex 13,1-15.
2. Qual foi a função de José na apresentação
de Jesus no Templo?
3. Tome conhecimento do gesto inédito de José
durante este rito na referência dos escritos
de Pio IX.
Por: Centro de
Espiritualidade Josefino Marelliana
Nenhum comentário:
Postar um comentário