sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO E A OFERTA DO PRIMOGÊNITO (CURSO DE JOSEFOLOGIA - PARTE I - CAPÍTULO 07)



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As referências que Lucas faz no trecho em que focaliza a narrativa da infância de Jesus mostram claramente o cumprimento do Antigo Testamento (Lc 2,22-24). Aliás, como já afirmamos, Jesus  reconhece a autoridade do Antigo Testamento e vê o objetivo de sua missão e o cumprimento de todo o Antigo Testamento “não vim para abolir a lei e os profetas, mas para cumpri-la...” (Mt 5,17). 

O Antigo Testamento era um tempo de espera que culminou com a vinda  de Jesus, o Filho de Deus (Gl 4,4) cumprindo tudo o que estava prometido.

A atenção que o evangelista Lucas coloca no cumprimento segundo a lei, mostra a sua preocupação de mostrar como o ingresso de Jesus no Templo é o cumprimento do esperado “dia de Javé”, caracterizado por uma purificação  e de uma excepcional oferta que é o próprio Jesus. 

De  fato, Lucas serve-se do rito de purificação da mulher que dava à luz, conforme era estabelecido pela lei de Moisés que toda a mãe, após o parto era obrigada a apresentar-se no Templo para purificar-se, pois a mulher após dar à luz era considerada impura (Lev 12,2-4). Para os exegetas, a cerimônia da purificação de Maria é considerada por Lucas como uma simples moldura histórica, na qual ele inseriu um quadro muito importante, sublinhando a excepcional santidade da oferta de Jesus.

Conforme o livro do Levítico, na Lei de Moisés continha três prescrições: a purificação da mãe depois de quarenta dias do nascimento do filho; a consagração a Deus de cada primogênito seja ele homem ou animal e o resgate de cada primogênito (Ex 13,2.13). Entretanto no texto, Lucas evidencia a apresentação de Jesus no Templo, isto para ressaltar o valor histórico que seus pais realizavam em vista da missão desta criança, Santa por excelência (Lc 1,35). 

Ele é um consagrado a Deus de maneira única e com uma especial consagração. Além disso, Lucas fundamentando-se no Antigo Testamento, onde a palavra consagração (parestánai) tem a conotação em relação aos Levitas e Sacerdotes que desenvolviam o serviço no nome do Senhor (Dt 17,12; 18,5), vê em Jesus desde aquele momento como o Grande Sacerdote da nova Aliança e também como o Sacerdote que se oferece como sacrifício ofertado (J. Danielou, les Evangiles de L’Enfance, Paris 1967, pg 109-111). 

Assim, José e Maria apresentam ao Pai, o próprio Filho Jesus como Sacerdote e hóstia dado em sacrifício.

A lei do primogênito  estabelecida em Ex 13,1-15 era muito importante porque lembrava a absoluta dependência de Deus que Israel teve para sua libertação do Egito (Ex 3,12s). 

Os primogênitos israelitas na ocasião da libertação do povo de Israel do Egito, não podiam ser destinados para o uso profano, senão através do  resgate,  ou seja, de um pagamento efetuado pelo pai de uma soma equivalente aproximadamente a vinte dias de trabalho (Nm 18,16). No primogênito era representado o povo da aliança, resgatado da  escravidão para pertencer a Deus (RC 13). 

Da fato, o evangelista Lucas descreve que “Concluídos os dias da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para a apresentação ao Senhor, conforme o que está escrito na lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor”(Ex 13,2); e para oferecerem o sacrifício prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos” (Lc 2,22-24).  Portanto, o primeiro objetivo que Lucas coloca para a viagem da  Sagrada Família à Jerusalém é para “apresentar o Senhor”, o Menino, o primogênito de Maria (Lc 2,7). 

Cumpriu-se, assim segundo o AT, o estabelecido na lei e Jesus com isso supera este rito, pois não era ele “um simples homem sujeito a ser resgatado, mas o próprio autor do resgate” (RC 13).

 Aqui está também mais um motivo do por que Lucas omite o referimento ao resgate, embora José, certamente o pagou, pois este era uma obrigação do pai. José com suas próprias mãos e plenamente consciente dos mistérios, ofereceu e consagrou a Deus sobre o altar do Templo, o Menino Jesus.

Os artistas têm com freqüência colocado o velho Simeão no centro da cena da apresentação de Jesus, o qual encontrava-se presente no Templo nesta ocasião em companhia de sua esposa Ana. Quem apresentou de fato Jesus ao Templo foram os seus pais (Lc 2,22), os quais cumpriram o que determinava a lei. 

Neste sentido não é possível separar José e Maria neste rito; eles foram os ministros deste, foram os instrumentos de Deus para esta oferta, ao passo que Simeão e Ana foram os instrumentos para a revelação do seu significado. 

Com isso podemos dizer que José e Maria  foram introduzidos progressivamente no mistério de Jesus justamente através deste canal profético. De fato, eles ficaram maravilhados do quanto ouviram da boca de Simeão a respeito de Jesus, definido como salvação para todos os povos, luz para as nações.

É importante notar que foi nesta circunstância que Lucas pela primeira vez qualificou expressamente José como pai de Jesus, nomeando-o hierarquicamente antes de Maria, sua mãe (2,33). Também neste contexto Maria é envolvida como mãe, em relação a Jesus, “uma espada traspassará sua alma” (2,35); aqui o carisma profético de Simeão revela a participação de Maria na sorte dolorosa de seu Filho. 

Naturalmente José terá experimentado somente em parte esta profecia de sofrimento feita por Simeão, ou seja, tomará parte das angustias pela perseguição de Herodes e a fuga no Egito, ou ainda da dor por ocasião da perda de Jesus no Templo, isto porque o evangelista não acena se ele era ainda vivo durante a vida pública de Jesus.

No rito da apresentação de Jesus aparece evidente, a participação enfática de José porque ele, como pai, era o responsável do Menino e das observâncias religiosas que lhe diziam respeito. Sabemos que entre os deveres de um pai para com o seu Filho estavam a tarefa de circuncidá-lo, de resgatá-lo, de instruí-lo na Torá e numa profissão e de arranjar-lhe um casamento.

Desde o momento em que o Anjo lhe havia transmitido em nome de Deus a ordem de tomar Maria como sua esposa e de dar o nome à criança (Mt 1,21), José passou a viver na espera deste filho e assim, se a Simeão, em virtude do seu carisma profético, tocou anunciar pelos átrios do Templo a presença da salvação na pessoa do Menino (Lc 2,30-31), a José, como pai do Menino, tocou de fazer-lhe os gastos da oferta dele, em virtude do qual todos seriam salvos. 

O Papa Pio IX, devoto de São José, quando ainda era apenas um sacerdote, numa novena pregada por ele, ao comentar a apresentação de Jesus no Templo evidenciava a função de São José naquela particular circunstância, e assim descrevia o seu gesto: “José generoso e pronto na obediência, levanta os braços e tendo a suave hóstia do sacrifício exclama; Eterno Pai, eis esta criança, que me deste em lugar de Filho, eu o amo mais que a mim mesmo este amável, este estimado Filho; eu o adoro profundamente e com grandíssima reverência o reconheço por meu Deus; somente nele eu vivo, somente nele eu me movo, somente nele eu existo, mas vós quereis que este penhor seja sacrificado pela saúde dos homens...” (Escritos inéditos de Pio IX, em Estudos Josefinos 27 [1973] - 171).

Questões para o aprofundamento pessoal

1. Leia e tome conhecimento do relato de Lc 2,22-38 e  procure explicar por que Jesus foi apresentado ao Templo – faça um paralelo com Ex 13,1-15.

2.  Qual foi a função de José na apresentação de Jesus no Templo?

3.  Tome conhecimento do gesto inédito de José durante este rito na referência dos escritos  de Pio IX.


Por: Centro de Espiritualidade Josefino Marelliana

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