sexta-feira, 13 de novembro de 2020

O que é uma pessoa humilde?

 Edifa



Ao contrário do que muitos pensam, a verdadeira humildade não exige se rebaixar, mas sim abrir-se aos outros. Em vez de viver centrado em si mesmo, aprender a dar o primeiro lugar ao que está além de si mesmo

O que é a verdadeira humildade? Como responder, em uma página, a uma pergunta tão ampla? É como deixar-se mergulhar não apenas em uma palavra, mas em uma forma de ser, e mesmo uma graça. A dificuldade é dupla. Por um lado, de acordo com a Tradição da Igreja, a humildade é a primeira de todas as virtudes e a porta de entrada para a vida espiritual. No entanto, em todas as situações, os começos são mais difíceis de descrever e explicar do que as realizações. Por outro lado, não é fácil trazer à luz uma virtude que consiste em permanecer nas sombras, num paradoxo que nos é bem conhecido: “Pela humildade, sou imbatível!”. Mas, afinal, o que é uma pessoa humilde?

Pessoa humilde: é mais sobre se abrir do que sobre se curvar

Uma primeira certeza: ao contrário do que muitos imaginam, a verdadeira humildade não é negativa, mas positiva. Não surge de um sentimento de pequenez, desamparo ou indignidade, mas antes de tudo de admiração. Deus é tão grande, a vida é tão bela, o amor é tão precioso que está além de mim. Portanto, é menos uma questão de se rebaixar e mais uma questão de se abrir. De fato, existe um escondimento, um esquecimento de si mesmo; mas isso é um sinal de conversão e não de negação. Em vez de viver centrado em si mesmo, aprende-se a dar o primeiro lugar ao que está além de si: “Quem procura ganhar a sua vida vai perdê-la; e quem a perde, vai conservá-la” (Lc 17,33).

Falsa humildade

Também é preciso ter cuidado com a falsa humildade. Existe um vício de comportamento que consiste em se desvalorizar, lamentar sua real ou suposta miséria, em se oprimir com mil reprovações. Isso é na verdade o oposto da verdadeira humildade. Às vezes, é apenas uma maneira sutil e perversa de lidar consigo mesmo e chamar a atenção para si. Na maioria das vezes, mostra também um orgulho retraído e camuflado. Essa autocrítica aparentemente virtuosa pode esconder, na realidade, sentimentos vergonhosos como amargura pelos próprios fracassos, inveja pelo sucesso dos outros, raiva pelos limites impostos pela realidade. E dessa forma, toda uma personalidade pode ser construída sobre a atitude de se denegrir, o que resulta em estruturas psicoespirituais prejudiciais, que podem ser pecaminosas, ou prejudiciais à saúde, ou ambas.

Liberdade

A pessoa verdadeiramente humilde é livre. Ela não precisa ou tem nada a provar, nada a defender, nada a ganhar. Ele apenas é feliz, atento, disponível. Ele é cheio de confiança, porque “o amor perfeito lança fora o medo” (1 Jo, 4, 18), seja o medo de Deus, dos outros, e a autocensura que daí resulta. A humildade não leva ao encolhimento da mente ou ao esfriamento do coração; pelo contrário, ela é generosa, como testemunha Maria no seu Magnífica. A jovem de Nazaré é e só deseja ser a pequena serva, e por isso Deus pôde realizar grandes coisas por ela e por meio dela.

A humildade renova todas as relações humanas

No que diz respeito ao nosso relacionamento com Deus, a humildade desenvolverá atitudes que estão na base de todo crescimento espiritual, sejam elas a adoração àquele que nunca cessa de nos renovar, o louvor àquele que nunca cessa de nos amar, o arrependimento diante daquele que nunca deixamos de ofender, o silêncio e a escuta daquele que nunca cessa de nos instruir, a obediência àquele a quem queremos servir. No fundo, cada vez que dizemos “Senhor”, expressamos (deveríamos expressar) este amor humilde dos filhos perante o Pai, dos discípulos perante o Mestre, dos amados perante o Amor.

Relações humanas

Em relação às outras pessoas, a humildade renovará todas as nossas relações humanas. Aos poucos, vamos saindo do sistema usual de relacionamentos, feito de rivalidades, comparações, suspeitas, frustrações, manipulações de todos os tipos. Nossa estratégia agora será simplesmente ser nós mesmos, nem mais nem menos, e permitir que os outros sejam eles mesmos. São Paulo fala sobre isso maravilhosamente: “Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos.” (Fl 2, 3); “Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência” (Col 3, 12).

Escola de Cristo

A pessoa humilde se coloca na escola de Cristo, porque, como ele mesmo diz “sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). Nascido na palha, morto na cruz, escondido na glória, ele nos revela a humildade de Deus. Ajoelhado diante dos Apóstolos para lavar os seus pés, Ele nos confirma o que sentem aqueles de coração puro: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9, 35).

 

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

O melhor disco da década de 80 é também um álbum cristão

 Angeles Conde Mir 


"The Joshua Tree", do U2, fez (e ainda faz) sucesso em todo o mundo com músicas que contêm várias referências cristãs

A BBC britânica elegeu como melhor disco dos anos 80 o álbum “The Joshua Tree”, da banda irlandesa U2.

 De fato, o título não é nada banal se levarmos em conta que os anos 80 foram a década dos discos que mais venderam na história da música. Alguns, inclusive, são insuperáveis 40 anos depois, como “Thriller” de Michael Jackson, “Back in Black” do AC/DC ou “Born in the USA”, de Bruce Springsteen.

 Na verdade, foram os ouvintes da BBC que elegeram “The Joshua Tree” como o melhor disco dos anos 80. É que, para muitos, músicas como “With our Without you”, “I still haven’t found what I’m looking for” ou “Where the streets have no name” fazem parte da trilha sonora de suas vidas.


U2 antes e depois do disco

O “The Joshua Tree” foi o álbum que levou definitivamente Bono Vox e seus companheiros ao Olimpo da música. Além disso, marcou o antes e o depois da história do U2. Muitos críticos o consideram também o melhor disco da banda irlandesa.

As cifras falam por si só: o álbum foi o número 1 das listas dos mais tocados em 22 países e também figurou entre as melhores canções cristãs. A revista Rolling Stone, por exemplo, colocou “The Joshua Tree” na posição número 26 entre os 500 melhores discos de todos os tempos.

Um disco com referências cristãs

Começando pelo nome (“A árvore de Josué”), o disco tem também outras referências cristãs. Por exemplo: a música “I still haven’t found what I’m looking for” é considerada uma canção religiosa por falar da insatisfação do ser humano e sua busca incansável por algo que preencha o seu coração.

Da mesma forma, “Running to stand and still” foi considerada uma das músicas mais comoventes e espirituais da banda.

O deserto como símbolo

Na foto de capa do disco, o grupo está em um deserto. De um lado, o elemento simboliza uma peregrinação por regiões áridas (que supõe todo o trabalho). Por outro lado, lembra a sequidão espiritual dos nossos dias.

De fato, após uma viagem humanitária à Etiópia e ao Egito em 1985, Bono Vox falou que a visita inspirou o álbum. Disse ele: “Ao passar um tempo na África, pude ver como muitas pessoas viviam na pobreza. Mas, mesmo assim, vi uma riqueza de espírito que não vi quando cheguei em casa. Em casa, no entanto, vi um menino mimado do mundo ocidental. Então, comecei a pensar: ‘Pode ser que eles tenham um deserto físico, mas nós temos outros tipos de deserto. E isso é o que me levou a pensar no deserto como símbolo [do disco]’”.

A árvore de Josué

As fotografias para o disco foram feitas no Parque Nacional “Joshua Tree”, na Califórnia (EUA). Essa árvore cresce em condições especialmente adversas e pode viver até 200 anos.

A tradição diz que foram os mórmons que chamaram esse tipo de árvore de “árvore de Josué”. Isso teria acontecido no século XIX, depois de eles terem cruzado o rio Colorado e chegado ao deserto de Mojave.

A forma peculiar dos galhos os fez lembrar a imagem de Josué levantando suas mãos ao céu e implorando a ajuda de Deus.

Bono, o líder da banda, gostou dessa história e não teve dúvida ao incluir a foto da árvore entre as fotos promocionais do álbum. Ou seja: um símbolo de fé e esperança em meio à aridez.