quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Quando você deve interferir nas amizades de um adolescente?

 

Edifa




As amizades dos adolescentes são muito importantes no desenvolvimento afetivo da criança. É por isso que, como pais, vocês devem supervisionar os relacionamentos de amizade de seus filhos. Mas tenham cuidado, vocês devem encontrar o equilíbrio certo entre ser intrusivo e dar liberdade a eles

Os olhos de Thérèse se arregalam: seu filho de 16 anos, Paul, entra no apartamento da família acompanhado com um colega desconhecido, coberto de piercings. Já na semana anterior, ela pegou o filho jogando vídeo game com um grupo de adolescentes e bebendo cerveja. A adolescência é a idade do grupo e dos amigos, uma etapa essencial que deve ser respeitada. Mas quando devemos interferir nas amizades do adolescente?

“Essas amizades permitem que o adolescente construa sua personalidade, forje sua identidade, sua estima pessoal, contando com os outros”, afirma o padre Arthur de Leffe. Identificar-se com um grupo, compartilhar a mesma linguagem e os mesmos valores são elementos-chave que têm um forte impacto na autoestima.

Mas que tipo de amigos eles são?

Existem graus na amizade, de um simples colega a um amigo próximo. Para promover esse discernimento, cabe aos pais dar, antes da adolescência, alguns critérios para saber o que é uma boa amizade, saber respeitar o outro, promover a admiração mútua, sem esquecer a busca do bem.

“Cuidado, a amizade pode ser um lugar de autoconstrução, mas também de destruição!”, avisa o padre Arthur de Leffe.

“Eu falo para os adolescentes: quando, no dia seguinte a um passeio com os amigos, você não se sente orgulhoso de si mesmo, significará que você sabe que essa amizade não é boa.”

Continua o padre: “é tarefa dos pais colocar os jovens desde muito cedo em lugares onde desenvolverão belas amizades que os libertarão de relacionamentos não saudáveis​​”.

Encontrar o equilíbrio entre intrusão e liberdade total

Para desempenhar esse papel estruturante necessário ao adolescente, os pais não têm outra saída senão envolver-se e permanecer vigilantes, procurando encontrar o equilíbrio entre a intrusão e a liberdade total, pois um adolescente não é supervisionado da mesma forma que uma criança de 7 ou 10 anos. Porém, o adolescente não tem todos os direitos, e as regras enunciadas na infância ainda estão em vigor – como respeito ao próximo, a participação nas tarefas domésticas, a cortesia.

“É uma arte criar limites flexíveis e elásticos para essa idade que levem em conta a individualidade de cada um”, afirma a psicoterapeuta Virginie Tesson. “Minha filha, Madeleine, de 14 anos, conheceu uma amiga mais jovem que ela no clube”, diz Camille. “Na verdade, a menina confiava em Madeleine e lhe contava anedotas sobre a vida um tanto conturbada de sua mãe. Tive uma boa discussão com ela e, observando sua própria fragilidade e inquietação, pedi-lhe que acabasse com esse relacionamento prejudicial. Desde crianças, tenho o hábito de rever os acontecimentos com as minhas filhas”. Se os bons hábitos de confiança, diálogo e vida de oração forem estabelecidos desde a infância, os pais encontrarão menos dificuldades na adolescência. Uma criança feliz com a família será menos tentada por comportamentos de risco. “O vínculo é construído antes da adolescência”, confirma Virginie Aubry, conselheira familiar e conjugal.

A autorização das saídas

Com a irrupção do grupo na vida do adolescente, a delicada questão da autorização das saídas surge muito rapidamente. Anne telefona sistematicamente para os pais dos amigos que convidam sua filha Clémence, de 14 anos, mesmo quando ela não os conhece. “Quero saber se eles estarão lá durante a atividade, senão minha filha não vai”. Para Pierre, de 16 anos, a balada da sexta-feira é: “A propósito, vamos para a casa de um colega esta noite com os amigos”, ele murmura numa arte de confusão que os adolescentes adoram especialmente. Quem é o colega, quem são os “amigos”? O diálogo permite saber quem faz parte do grupo e de quem é a casa da atividade. A intervenção do pai é bem-vinda para definir juntos uma estrutura e combinar a hora de voltar para casa.

Muitas vezes, os adolescentes que saem à noite afirmam dormir na casa de um amigo. Para Camille, não é discutível: “Mesmo que tenha de acordar às 3 da manhã, vou buscá-la de carro. É importante se minha filha se sentir desconfortável que ela possa contar conosco. Você tem que asumir as responsabilidades”. Isabelle, que tem quatro filhas adolescentes, costuma repetir: “Não precisamos pensar que somos mais fortes do que somos. Agora não é hora de deixá-las por conta própria”. Essas situações costumam ser a oportunidade para uma conversa profunda sobre a vida afetiva e sexual e as relações entre meninos e meninas.

Demonstrar interesse

Elemento importante: interessar-se pelos passeios. “Não em forma de interrogatório”, continua Isabelle, “mas para os fazer refletir sobre as condições de um bom passeio de lazer: como você esteve com os seus amigos? O que você achou da atmosfera e atitude de todos? Isso lhe permite aguçar o seu discernimento”. Além disso, se um adolescente é convidado numa família reconstruída, será conveniente refletir com ele sobre a complexidade da situação, para lembrá-lo de que não deve julgar, mas que também não deve considerar essas situações como modelos de vida.

Como explica Virginie Tesson: “O objetivo é, acima de tudo, saber se estão reunidas as condições para que seja um bom fim de semana e se a criança se sente bem. Quem estará lá? Como vai ser organizado? Quanto ao recurso à proibição, deve ser usado com moderação. “Para mim, a proibição é semelhante às grades de proteção numa estrada”, continua Virginie Tesson. “Não é uma forma de educação, é um último recurso quando sentimos que a criança está em perigo. Se a proibição for sistemática, corremos o risco de afastá-lo do grupo, fazendo com que se rebele ou mesmo se esconda para agir à vontade”.

Confiar inclusive na diferença

Propor uma estrutura é essencial, mas pode não ser suficiente. Uma atitude receptiva e carinhosa por parte dos pais é necessária para manter o vínculo e a confiança. É a escolha feita por Anne, mãe de três filhos, defensora de um modelo de casa aberta. “Esses laços de amizade que se criam conosco permitem um acompanhamento melhor dos amigos e amigas com os quais passam o tempo do que por meio de uma palavra categórica ou de uma desconfiança visível. Eles vêem que não desconfiamos dos seus amigos”. Para alguns adolescentes não-conformistas, convidar amigos diferentes talvez seja uma forma de testar os pais e ver se eles podem desestabilizá-los, por exemplo, com um amigo geeky hermético. “Há uma mensagem para decifrar. O jovem pergunta implicitamente aos pais se podem confiar nele mesmo até na diferença”, sugere Virginie Aubry.

Uma vez que os pais estão sozinhos com seus filhos, deve ser evitada a crítica sistemática a todo custo. Isso apenas reforçaria os laços com as gangues, diz Maryse Vaillant, uma especialista em adolescentes. Em vez disso, podemos fazer perguntas sobre o que o adolescente compartilha com seus “amigos”, para convidá-lo a refletir. Camille admite que “o segredo é não deixar de ficar um pouco no quarto depois do jantar, interessar-se por ele, pela sua vida. Muitas vezes, este é o momento em que confessam em poucas palavras algum medo ou alguma anedota. Aproveito também para dizer o que eu acho de algum amigo, com delicadeza, para que conheçam o nosso ponto de vista”.

Ouvir e manter o vínculo

Saber ouvi-los e manter o vínculo aconteça o que acontecer é uma arte. “Que os pais cuidem de suas relações com os filhos com todo o seu ser”, aconselha Virginie Tesson. “Que não o vejam apenas como um fantoche, com suas boas notas e sua boa aparência, mas como uma pessoa com suas alegrias e tristezas. Se tem uma boa autoestima, não será tentado por amizades perigosas, que devem ser desenvolvidas por meio de uma relação de amor baseada na confiança e no respeito mútuos”. A relação é construída contra a maré, insiste Virginie Aubry: “Quando a convivência fica instalada desde a infância, é estranho que se perca na adolescência”. Cabe aos pais fazerem com que seus filhos entendam que desejam colaborar, não contra ele, mas com ele, para sua felicidade.



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