quarta-feira, 24 de julho de 2019
terça-feira, 23 de julho de 2019
Violência - A história das irmãs russas que mataram o pai abusador e podem acabar presas
Processo contra as três
jovens Khachaturian revela que elas sofreram anos de agressões físicas e
sexuais e evidencia uma epidemia de violência contra a mulher na Rússia

Naquela tarde de julho,
quando Mikhail Khachaturian chegou em sua casa, no norte de Moscou (Rússia),
ficou furioso. Daquela vez porque considerou que a sala estava desarrumada.
Tinha visto inclusive um fio de cabelo longo e escuro no chão. E ficou revoltado.
No dia anterior, o motivo tinha sido outro. E antes desse, outro. Enfurecido,
chamou suas filhas Krestina, Angelina e Maria para a sala, uma de cada vez. E
as borrifou com um spray de pimenta que tinha preparado. Depois, dormiu a sesta
em sua cadeira de balanço. As garotas, de 17, 18 e 19 anos, não aguentaram
mais. Esperaram Mikhail, de 57 anos, dormir e começaram a golpeá-lo com um
martelo e uma faca de cozinha, segundo a promotoria. Quando o homem acordou e
começou a bater nelas, uma das garotas o esfaqueou até ele cair.
Krestina, Angelina e
Maria enfrentam agora, um ano depois do ocorrido, acusações de assassinato
premeditado. Com penas de até 20 anos de prisão para as duas mais velhas e 10
anos para a mais jovem, que naquela ocasião era menor de idade. Mas o caso
revelou que naquela casa do modesto bairro de Bibirevo, enfeitada com cruzes e
outros ícones religiosos, as três garotas de cabelos escuros e enormes olhos
castanhos viviam um pesadelo. Levavam anos sofrendo abusos físicos e sexuais de
seu pai, segundo os relatórios judiciais, com quem viviam sozinhas desde 2015,
quando ele expulsou a mãe das jovens de casa e ameaçou matá-la juntamente com
as filhas se ela voltasse para levá-las. “Estavam aterrorizadas. Viviam
praticamente escravizadas em um ambiente irrespirável e temiam por sua vida”,
assinala um de seus advogados, Alexei Liptser, que alega que as jovens agiram
em legítima defesa.
O caso das irmãs
Khachaturian abalou a sociedade russa. Também colocou em evidência a constante
inação − e até a normalização − das autoridades diante de um problema de
dimensões colossais na Rússia: a violência doméstica. Não há estatísticas. Mas,
segundo um estudo feito em 2012 pelo Ministério do Interior, 600.000 mulheres
sofrem violência doméstica a cada ano. E entre 12.000 e 14.000 morrem nas mãos
de seus parceiros ou familiares − uma a cada 40 minutos. Uma cifra muito
semelhante à revelada pela ONU em um relatório de 2010.
A história de Krestina,
Angelina e Maria está provocando uma mobilização social. Milhares de pessoas já
manifestaram seu apoio às três jovens, de atrizes e youtubers famosos até a
defensora de direitos humanos do Kremlin. E vem ocorrendo uma série de piquetes
solitários − uma fórmula para driblar a proibição de protestar −, atividades
culturais e campanhas nas redes sociais para pedir sua absolvição. Uma petição
online já acumula quase 300.000 assinaturas, e foi desencadeada uma campanha
como o Me Too dos Estados Unidos. No entanto, em um país muito conservador e
patriarcal, no qual a Igreja ortodoxa tem grande influência, também há grupos
que negam que esta violência seja um problema. Eles também se manifestaram, mas
para exigir uma condenação dura e exemplar para as três jovens.
A Rússia (144 milhões
de habitantes) é um dos poucos países do mundo desenvolvido que não tem uma lei
específica contra a violência doméstica. E muito menos para combater a
violência machista ou os feminicídios. Em 2017, em vez de avançar na proteção
das vítimas, o Governo russo descriminalizou alguns casos de agressão doméstica
envolvendo infratores primários. Uma reforma legal que veio depois de uma
retumbante campanha da Igreja ortodoxa e dos deputados mais conservadores, que
há anos se opõem até mesmo ao termo “violência doméstica”, por considerá-lo um
produto das “ideias do feminismo radical” usado para “perseguir” os homens.
Agora, segundo a lei russa, uma primeira agressão sem lesões graves
contra o companheiro ou os filhos é uma “falta administrativa”, punida
com 15 dias de detenção e uma multa equivalente a 1.700 reais. Um
segundo delito desse tipo dentro no período de um ano é punido com uma
multa equivalente a 2.100 reais e três meses da prisão ou 240 horas de
trabalho comunitário.
O resultado da reforma legal foi dramático, afirma Iulia Gorbunova,
pesquisadora da ONG Human Rights Watch. Não existe a opção de obter uma
ordem de proteção. E os recursos à disposição das vítimas − casas de
acolhida, por exemplo − são ínfimos, lamenta. Se antes já era difícil
denunciar um caso, com a reforma legal ficou ainda mais difícil,
assinala.
Mas Aurelia Dunduc, mãe de Krestina, Angelina e Maria, já tinha dado
esse passo. Sentada na área de alimentação de um escuro centro comercial
de Moscou, a mulher, de 40 anos, ressalta que foi várias vezes à
polícia para denunciar as surras e humilhações às quais era submetida
por Mikhail Khachaturian, que depois de seus negócios nos anos noventa
com pequenas máfias locais, vivia de renda e de uma pensão. “Não fizeram
nada. Engavetaram a denúncia e me disseram para voltar por onde tinha
vindo”, diz ela em voz muito baixa. Ao lado, uma garçonete arruma as
mesas aos empurrões. E Dunduc salta com cada ruído.
Acompanhada por uma de suas amigas, a mulher, magra e de poucas
palavras, diz que seu marido tinha bons contatos na polícia e na
procuradoria do distrito. Dunduc, que é moldava, conta que os
maus-tratos começaram pouco depois do casamento com Mikhail
Khachaturian, de origem armênia. Ela tinha 19 anos e ele, 37.
Dunduc diz que não sabia que suas filhas sofriam abusos. Acredita que as
garotas a protegiam e que, por saberem que suas denúncias não serviriam
para nada, preferiram se calar. Algumas de suas amigas sabiam o que
estava ocorrendo, embora sem muitos detalhes. Victoria Kuropatkina,
íntima de Krestina, conta que sabia de parte dos abusos, mas afirma que
sua amiga a proibira de ir às autoridades porque temia as consequências.
Para Victoria e para ela e suas irmãs.

Em público, Angelina,
Krestina e Maria eram três jovens tímidas. Muito estudiosas. A mais nova adora
o cinema, conta Dunduc. Angelina gosta de ver séries, tirar selfies com suas
amigas e passar o tempo em alguma cafeteria. Krestina, a mais velha, é muito
boa em matemática e sonhava em estudar contabilidade, até que suas notas caíram
por faltar às aulas.
Muito antes daquele
julho de 2018 em que tudo explodiu, as garotas tinham parado de ir à escola.
Seu pai quase não as deixava sair de casa. No entanto, criticam os advogados,
as autoridades educacionais não investigaram a fundo o caso. Também não houve
nenhuma investigação depois da tentativa de suicídio de Krestina, desencadeada
por uma das agressões sexuais de seu pai, assinala o advogado Liptser. Na
sexta-feira, o Ministério Público iniciou um processo póstumo contra
Khachaturian pelos supostos abusos, o que pode provocar uma reviravolta no
caso.
Krestina, Angelina e
Maria estão em liberdade sob fiança, mas isoladas. Não podem se comunicar entre
si nem com as testemunhas do caso ou com a mídia. “Estão bem, na medida do
possível”, diz seu advogado. E acrescenta: “Seja no banco dos réus ou isoladas
em casa, repetem que pelo menos não sofrem torturas e surras todos os dias”.
Alimentos Tec - Gafanhotos e grilos são os novos superalimentos?
Novo estudo revela que
os insetos são fontes de antioxidante, substância que combate os radicais
livres e previne o surgimento de tumores cancerígenos

Gafanhotos e grilos,
por exemplo, contêm cinco vezes mais poder antioxidante do que o suco de
laranja natural — considerado uma das principais fontes de vitamina C (um tipo
de antioxidante)
Novo estudo indica que
comer insetos, como cigarras e bicho da seda, pode ajudar na prevenção do
câncer. A pesquisa, publicada na revista Fontiers in Nutrition, revela que os
insetos são excelentes fontes de antioxidante, substância que combate os
radicais livres e protege o DNA contra danos que podem desencadear o surgimento
de tumores cancerígenos.
De acordo com os
pesquisadores, gafanhotos e grilos, por exemplo, contêm cinco vezes mais poder
antioxidante do que o suco de laranja natural — considerado uma das principais
fontes de vitamina C (um tipo de antioxidante). “Os insetos que podem ser
ingeridos por pessoas e animais são uma excelente fonte de proteína, ácidos
graxos poli-insaturados, minerais, vitaminas e fibras”, disse Mauro Serafini,
principal autor do estudo, ao Daily Mail.

Os cientistas ainda
ressaltaram que pelo menos dois bilhões de pessoas têm como parte da dieta o
consumo regular de insetos — o que pode estar garantindo proteção contra o
câncer, além de assegurar melhor saúde geral. As populações que mais rejeitam a
ideia de adicioná-los a dieta são os ocidentais.
Estudo
Para chegar a essa
conclusão, a equipe da Universidade de Teramo, na Itália, analisou 12 tipos de
insetos diferentes e dois tipos de invertebrados que podem ser consumidos na
alimentação. Entre os insetos estavam: larva da farinha, vermes de búfalo,
cigarras, formigas pretas, lagartas africanas, bichos da seda, gafanhotos,
grilos, mini grilos, insetos gigantes da água, centopeias gigantes da Amazônia,
tarântulas zebra tailandesas e escorpiões negros.

Antes de moer os
bichos, os pesquisadores removeram partes do corpo que não podem ser consumidas
(asas ou ferrões); em seguida, o conteúdo moído foi separado de acordo com o
tipo: solúvel em gordura ou em água. A partir daí, a equipe analisou todos os
insetos para verificar a quantidade de antioxidantes disponível.
A análise mostrou que
as melhores fontes da substância são grilos, gafanhotos e bichos da seda. Outra
boa fonte são cigarras noturnas e lagartas africanas, que contêm o dobro de
antioxidantes encontrados no azeite de oliva. A equipe descobriu também que
gafanhotos, formigas pretas e larvas da farinha são as melhores fontes de
polifenóis — substância com propriedades anticâncer, anti-inflamatórias e
antioxidantes.
Já insetos carnívoros —
que se alimentam de outros insetos ou animais mortos — não oferecem a mesma
quantidade de antioxidante. Entre eles estão: formigas pretas, tarântulas zebra
tailandesas, escorpiões negros e insetos gigantes da água.
“No futuro, poderemos
adaptar os regimes alimentares para a criação de insetos, a fim de aumentar seu
conteúdo antioxidante para consumo animal ou humano”, disse Serafini. O
pesquisador destacou que o consumo de insetos também é uma forma de proteger o
meio ambiente.
A equipe ressaltou que,
apesar dos resultados, são necessárias mais pesquisas para confirmar se o
consumo de insetos fornece realmente está alta quantidade de antioxidantes ou
se o potencial é perdido durante a digestão.
Poder antioxidante
Os antioxidantes são
substâncias que evitam o oxidação de moléculas. Uma das funções mais
importantes dos antioxidantes é reduzir o número de radicais livres — moléculas
que podem surgir com a oxidação. Elas fazem parte do organismo, mas quando
produzidas em altos níveis, podem danificar o DNA e outras partes da célula, o
que pode desencadear doenças, incluindo o câncer. Entre os fatores que podem
contribuir para o aumento dos radicais livres estão a radiação e toxinas do
ambiente.
Portanto, uma
alimentação rica em antioxidantes traz inúmeros benefícios para a saúde. Entre
os alimentos ricos em antioxidantes estão: laranja e morango (vitamina C);
cenoura e damasco (betacaroteno); milho e amendoim (vitamina E); feijão e
cereais integrais (zinco); tomate e melancia (licopeno); e frutas vermelhas e
nozes (ácido elágico).
Agora, os cientistas
indicam que insetos comestíveis podem ser ainda mais poderosos do que muitos
alimentos convencionais.
Cientistas católicos e suas grandes descobertas | insulina - São José Moscati

São José Moscati (canonizado pelo Papa João Paulo II em 1987) foi um médico, professor e pesquisador que dedicou sua vida a recuperar a saúde física e espiritual dos pacientes. Embora tenham lhe oferecido vários trabalhos muito bem remunerados, eles sempre pensou que sua missão era ajudar os pobres.
A mãe dele morreu de
diabetes em 1914. Depois disso, ele procurou uma maneira de ajudar os outros
pacientes a não ter o mesmo fim. Foi, portanto, um dos
primeiros médicos napolitanos a experimentar a insulina no tratamento do
diabetes.
Cientistas católicos e suas grandes descobertas | A teoria do Big Bang - Georges Lemaître
A reportagem é de Alberto López, publicado por El País, 17-07-2018. A tradução é de Henrique Denis Lucas.

O físico e matemático
belga, que combinou ciência e fé em seus trabalhos, foi o primeiro a falar da
origem do universo em expansão e com um passado infinito
Ciência e fé não
costumam dar bons casamentos, mas há exceções, como a do cientista e sacerdote
católico belga Georges Lemaître, que não é apenas um exemplo reconhecido pela
comunidade científica, mas que, com grande humildade, foi capaz de corrigir o
próprio Albert Einstein. Estamos falando do padre da Teoria do Big Bang, que
tentou demonstrar a origem do universo.

Sem renunciar à sua fé
católica, Lemaître falou de um passado infinito do universo, mas que não
entrava em contradição com sua crença em um Deus criador do mundo, já que tanto
Aristóteles quanto São Tomás de Aquino mostraram que a criação de um universo
não precisaria de um começo no tempo.
Sua precocidade para a
ciência, destacando-se em matemática e física, era paralela à sua vocação, já
que aos 9 anos ele decidiu que seria sacerdote. Ele alcançou sucesso em ambos
os âmbitos graças ao conselho de seu pai para que primeiro estudasse e depois
fosse ordenado padre. Ele conseguiu bolsas de estudo, viajou pelo mundo e
obteve reconhecimento, mas sua humildade permitiu que as honras e fama de suas
descobertas e contribuições para a astronomia e astrofísica fossem creditadas a
outros.
Talvez a definição mais
precisa de Lemaître e suas descobertas tenha sido dada pelo próprio Albert Einstein,
ao escutá-lo em uma conferência na Califórnia. Em pé, ele afirmou que a teoria
da origem do universo "é a mais bela e satisfatória explicação da Criação
que em algum momento eu tenha escutado".
Georges Henri Joseph
Édouard Lemaître nasceu em 17 de julho de 1894, na localidade belga de
Charleroi. Ele era o mais velho entre os quatro irmãos e desde muito cedo
mostrou sua precocidade em matemática e física, mas também em sua vocação
pessoal, anunciando a seus pais, aos nove anos de idade, que queria ser padre.
Encorajado por seu pai,
Georges Lemaître decidiu estudar primeiro, antes de entrar no seminário, e
matriculou-se na Escola Superior Jesuíta do Sagrado Coração, em Charleroi, onde
destacou-se em química, física e matemática. Em 1910, seu pai conseguiu um novo
emprego e mudou-se com a família para Bruxelas. O jovem Lemaître, já com 16
anos, matriculou-se em outra escola jesuíta, o Colégio Saint Michel, onde seus
professores descobriram suas habilidades excepcionais em matemática e física.
Embora ainda gostasse
da ideia de se tornar padre, Georges decidiu estudar engenharia em vez de
teologia. Em 1911 ingressou na Universidade Católica de Lovaina para fazer o
curso de engenharia. Em julho de 1913, obteve o diploma e começou a trabalhar
como engenheiro de minas.


A Primeira Guerra
Mundial forçou-o a parar seus estudos e servir como voluntário no exército
belga, alcançando o posto de Primeiro-Sargento. Por sua bravura, foi
condecorado com a medalha da Cruz de Guerra, além de ter sido expulso de uma
missão após ter dito ao instrutor que seus cálculos balísticos estavam errados.
No entanto, as atrocidades vistas na guerra amplificaram sua vocação
sacerdotal. Algum colega de aula viria a recordar posteriormente que sua
vocação de fé e da ciência se mantinham em tamanha sincronia que ele era visto
por aí lendo o livro de Gênesis da Bíblia da mesma maneira que lia artigos de
equações de físicos franceses.
Retomou seus estudos e
em 1920, aos 26 anos, foi premiado com a mais alta distinção, um doutorado em
Ciências Matemáticas por sua tese 'A aproximação de funções reais de várias
variáveis'. Georges Lemaître também obteve um bacharelado em filosofia baseado
no sacerdote italiano do século XIII, São Tomás de Aquino.
Seu passo seguinte foi
dar início à sua caminhada para tornar-se padre, ao ingressar na Casa de Saint
Rombaut, em outubro de 1920. Seus professores, notando seu interesse contínuo
em matemática e física, sugeriram que ele estudasse o trabalho de Albert
Einstein. Lemaître assim o fez, aprendendo sobre o cálculo do tensor e a
relatividade geral dos livros escritos pelo famoso astrônomo matemático Arthur
Eddington.
Em 1922, Lemaître
apresentou a tese 'A Física de Einstein', que rendeu-lhe uma bolsa de estudos
do governo belga e a possibilidade de ir para a Universidade de Cambridge
(Inglaterra), como pesquisador de astronomia. Quase em paralelo, foi ordenado
sacerdote em setembro de 1923, aos 29 anos. No entanto, ao invés de exercer
como padre em uma paróquia ou colégio, Lemaître utilizou a bolsa para estudar a
teoria da relatividade geral e trabalhar pessoalmente com Eddington, que
sugeriu a Lemaître que começasse a trabalhar em um doutorado sobre o universo.
Eddington pediu a
Lemaitre que aplicasse as regras da relatividade geral ao conteúdo de seu trabalho
para ver quais seriam os resultados. Lemaître descobriu duas soluções para o
problema de Eddington: a primeira consistia em uma proposta feita por Einstein,
em 1917, de um universo fechado, estável e estático, cuja densidade de energia
em massa fosse constante; a segunda estava relacionada com a proposta de Willem
de Sitter, também em 1917, de um universo cujo comportamento em grande escala
fosse dominado pela constante cosmológica (a densidade de energia do espaço
vazio).
Georges Lemaître cruzou
o Atlântico para conduzir pesquisas na Universidade de Harvard e também
matriculou-se como aluno para um doutorado em Física no MIT (Instituto de
Tecnologia de Massachusetts). Durante sua estada nos Estados Unidos, viajou
muito e conheceu os mais importantes astrônomos e físicos do país, incluindo
Forest Ray Moulton, William Duncan MacMillan, Vesto Slipher, Edwin Hubble e
Robert Millikan.
Georges retornou à
Bélgica no verão de 1925 e, apoiado e recomendado por Eddington, foi nomeado
professor associado de matemática na Universidade Católica de Lovaina. Em 1927,
defendeu sua tese no MIT: 'O campo gravitacional em uma esfera fluida de
densidade invariante uniforme, segundo a teoria da relatividade'.
Neste novo papel de
pesquisador e divulgador, Georges Lemaître realizou a derivação do que hoje é
conhecida como a Lei de Hubble, que relata a velocidade com que uma galáxia se
afasta e a sua distância. A famosa Conferência Solvay de 1927 contou com a presença
da maioria dos principais físicos. Einstein também participou e falou com
Lemaître, dizendo-lhe que suas ideias já haviam sido apresentadas por
Friedmann, em 1922. Além disso, disse-lhe que, por mais que acreditasse que
suas soluções para as equações da relatividade geral estivessem matematicamente
corretas, traziam soluções que não eram fisicamente possíveis. Especificamente,
Einstein disse-lhe: "Seus cálculos estão corretos, mas sua compreensão da
física é abominável".
Einstein não estava
sozinho ao achar as ideias de Lemaître inaceitáveis. Pelo contrário, essa era a
opinião de quase todos os cientistas. No entanto, em 1929, Hubble publicou um
trabalho que apresentava grandes evidências de um universo em expansão,
contradizendo a teoria de um universo estático, até então aceita.
Eddington e outros
membros da Real Sociedade Astronômica (Royal Astronomical Society) começaram a
trabalhar para tentar resolver o problema originado pela discrepância entre a
teoria e a observação, com uma parte da teoria de Lemaître que os cientistas -
incluindo Eddington - acharam impossível de aceitar: como foi que o universo
teve um começo em um tempo finito no passado, da mesma forma que a religião
católica defende no livro de Gênesis?
Lemaître respondeu às
objeções a sua teoria em um documento publicado na revista Nature, em maio de
1931. "Se o mundo começou com um único quantum, as noções de espaço e
tempo não teriam nenhum significado no princípio; só começariam a ter algum
significado sensato quando o quantum original fosse dividido em um número
suficiente de quanta. Se esta sugestão estiver correta, o começo do mundo
aconteceu um pouco antes do começo do espaço e do tempo". Em realidade,
Lemaître sempre expressou que era importante manter uma separação entre as
idéias científicas e as crenças religiosas sobre a criação.
Esta foi a primeira
formulação explícita da Teoria do Big Bang, atualmente aceita e que naquele
momento também era aceita pela maioria dos cientistas e a qual Georges chamou
de "hipótese do átomo primordial". Em 1933, Einstein e Lemaître
disponibilizaram-se a ministrar uma série de conferências na Califórnia. Depois
de ouvir Lemaître explicar sua teoria em um desses seminários, Einstein
levantou-se e disse: "Esta é a mais bela e satisfatória explicação da
Criação que em algum momento eu tenha escutado".
As ideias de Georges
Lemaître chegaram à imprensa popular, que o descreveu como o principal líder do
momento. Um artigo no 'New York Times' mostrou uma foto dele e Einstein com a
legenda: "Eles têm um profundo respeito e admiração um pelo outro". E
é o fato de que Lemaître tenha sido tanto um cientista quanto um padre católico
que gerou certo fascínio na imprensa popular, até o ponto em que um jornalista
escreveu acerca dele: "Não há conflito entre religião e ciência, repete
Lemaître diversas vezes... Seu ponto de vista é interessante e importante não
apenas porque ele é um padre católico ou um dos principais matemáticos e
físicos de nosso tempo, mas porque ele é ambos".
O maior opositor das
hipóteses de Lemaître foi o astrônomo inglês Fred Hoyle, um dos arquitetos do
modelo Estacionário. Na verdade, foi ele quem deu seu nome à teoria do Big Bang
em uma entrevista de rádio para a BBC e o fez de maneira depreciativa.
Para o sacerdote belga
Georges Lemaître, a história do universo divide-se em três períodos: o primeiro
é chamado de "a explosão do átomo primitivo", segundo o qual há cinco
bilhões de anos existia um núcleo de matéria hiperdensa e instável que explodiu
sob a forma de super-radioatividade. Esta explosão propagou-se durante um
bilhão de anos e os astrônomos percebem até hoje seus efeitos sobre os raios
cósmicos e as emissões X.
Depois vem o período de
equilíbrio ou o universo estático de Einstein. Ele afirma que, após a explosão,
estabelece-se um equilíbrio entre as forças de repulsão cósmicas na origem do
acontecimento e as forças de gravitação. É durante esta fase de equilíbrio -
que dura dois bilhões de anos - que se formam nós que dão origem às estrelas e
galáxias.
Finalmente, acontecem
os períodos de expansão, iniciados há 2 bilhões de anos, que demonstrariam que
o universo está se expandindo a uma velocidade de 170 quilômetros por segundo
de maneira indefinida.
Em 1948, George Gamov
propôs uma nova descrição do começo do universo. E, embora ele seja considerado
atualmente como o pai da teoria do Big Bang, as linhas mestras já estavam
presentes de uma maneira muito clara na cosmologia de Lemaître.
O renomado padre belga
obteve vários cargos na Pontifícia Academia das Ciências, sendo assessor
pessoal do papa Pio XII e presidente da mesma em 1960. Em 1979, durante o
discurso do Papa São João Paulo II à Pontifícia Academia das Ciências, por
ocasião da comemoração do nascimento de Albert Einstein, ele citou algumas
palavras de Lemaître sobre a relação entre a Igreja e a ciência:
"Por acaso a
Igreja poderia ter necessidade de ciência? Não: a cruz e o Evangelho lhe
bastam. Mas nada que seja humano é alheio ao cristianismo. Como poderia a
Igreja se desinteressar na mais nobre das ocupações estritamente humanas: a
investigação da verdade?"
Ao fim da sua vida,
Georges Lemaître dedicou-se cada vez mais aos cálculos numéricos. Seu interesse
pelos incipientes computadores e pela informática acabou por fasciná-lo
completamente.
Ele morreu na cidade
belga de Lovaina, em 20 de junho de 1966, aos 71 anos, dois anos depois de ter
escutado a notícia da descoberta da radiação cósmica de fundo de microondas
cósmicas, que era a prova definitiva de sua teoria astronômica fundamental do Big
Bang.
O nome em uma cratera
na Lua e em um veículo espacial da Agência Espacial Europeia (a ATV5), que nem
sequer existe mais, são dois reconhecimentos quase insignificantes para a
estatura humana e sua contribuição para a compreensão da origem do universo que
nos acolhe.
Assinar:
Postagens (Atom)