terça-feira, 23 de julho de 2019

Violência - A história das irmãs russas que mataram o pai abusador e podem acabar presas


Processo contra as três jovens Khachaturian revela que elas sofreram anos de agressões físicas e sexuais e evidencia uma epidemia de violência contra a mulher na Rússia


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Naquela tarde de julho, quando Mikhail Khachaturian chegou em sua casa, no norte de Moscou (Rússia), ficou furioso. Daquela vez porque considerou que a sala estava desarrumada. Tinha visto inclusive um fio de cabelo longo e escuro no chão. E ficou revoltado. No dia anterior, o motivo tinha sido outro. E antes desse, outro. Enfurecido, chamou suas filhas Krestina, Angelina e Maria para a sala, uma de cada vez. E as borrifou com um spray de pimenta que tinha preparado. Depois, dormiu a sesta em sua cadeira de balanço. As garotas, de 17, 18 e 19 anos, não aguentaram mais. Esperaram Mikhail, de 57 anos, dormir e começaram a golpeá-lo com um martelo e uma faca de cozinha, segundo a promotoria. Quando o homem acordou e começou a bater nelas, uma das garotas o esfaqueou até ele cair.

Krestina, Angelina e Maria enfrentam agora, um ano depois do ocorrido, acusações de assassinato premeditado. Com penas de até 20 anos de prisão para as duas mais velhas e 10 anos para a mais jovem, que naquela ocasião era menor de idade. Mas o caso revelou que naquela casa do modesto bairro de Bibirevo, enfeitada com cruzes e outros ícones religiosos, as três garotas de cabelos escuros e enormes olhos castanhos viviam um pesadelo. Levavam anos sofrendo abusos físicos e sexuais de seu pai, segundo os relatórios judiciais, com quem viviam sozinhas desde 2015, quando ele expulsou a mãe das jovens de casa e ameaçou matá-la juntamente com as filhas se ela voltasse para levá-las. “Estavam aterrorizadas. Viviam praticamente escravizadas em um ambiente irrespirável e temiam por sua vida”, assinala um de seus advogados, Alexei Liptser, que alega que as jovens agiram em legítima defesa.

O caso das irmãs Khachaturian abalou a sociedade russa. Também colocou em evidência a constante inação − e até a normalização − das autoridades diante de um problema de dimensões colossais na Rússia: a violência doméstica. Não há estatísticas. Mas, segundo um estudo feito em 2012 pelo Ministério do Interior, 600.000 mulheres sofrem violência doméstica a cada ano. E entre 12.000 e 14.000 morrem nas mãos de seus parceiros ou familiares − uma a cada 40 minutos. Uma cifra muito semelhante à revelada pela ONU em um relatório de 2010.

A história de Krestina, Angelina e Maria está provocando uma mobilização social. Milhares de pessoas já manifestaram seu apoio às três jovens, de atrizes e youtubers famosos até a defensora de direitos humanos do Kremlin. E vem ocorrendo uma série de piquetes solitários − uma fórmula para driblar a proibição de protestar −, atividades culturais e campanhas nas redes sociais para pedir sua absolvição. Uma petição online já acumula quase 300.000 assinaturas, e foi desencadeada uma campanha como o Me Too dos Estados Unidos. No entanto, em um país muito conservador e patriarcal, no qual a Igreja ortodoxa tem grande influência, também há grupos que negam que esta violência seja um problema. Eles também se manifestaram, mas para exigir uma condenação dura e exemplar para as três jovens.

A Rússia (144 milhões de habitantes) é um dos poucos países do mundo desenvolvido que não tem uma lei específica contra a violência doméstica. E muito menos para combater a violência machista ou os feminicídios. Em 2017, em vez de avançar na proteção das vítimas, o Governo russo descriminalizou alguns casos de agressão doméstica envolvendo infratores primários. Uma reforma legal que veio depois de uma retumbante campanha da Igreja ortodoxa e dos deputados mais conservadores, que há anos se opõem até mesmo ao termo “violência doméstica”, por considerá-lo um produto das “ideias do feminismo radical” usado para “perseguir” os homens.

Agora, segundo a lei russa, uma primeira agressão sem lesões graves contra o companheiro ou os filhos é uma “falta administrativa”, punida com 15 dias de detenção e uma multa equivalente a 1.700 reais. Um segundo delito desse tipo dentro no período de um ano é punido com uma multa equivalente a 2.100 reais e três meses da prisão ou 240 horas de trabalho comunitário.

O resultado da reforma legal foi dramático, afirma Iulia Gorbunova, pesquisadora da ONG Human Rights Watch. Não existe a opção de obter uma ordem de proteção. E os recursos à disposição das vítimas − casas de acolhida, por exemplo − são ínfimos, lamenta. Se antes já era difícil denunciar um caso, com a reforma legal ficou ainda mais difícil, assinala.

Mas Aurelia Dunduc, mãe de Krestina, Angelina e Maria, já tinha dado esse passo. Sentada na área de alimentação de um escuro centro comercial de Moscou, a mulher, de 40 anos, ressalta que foi várias vezes à polícia para denunciar as surras e humilhações às quais era submetida por Mikhail Khachaturian, que depois de seus negócios nos anos noventa com pequenas máfias locais, vivia de renda e de uma pensão. “Não fizeram nada. Engavetaram a denúncia e me disseram para voltar por onde tinha vindo”, diz ela em voz muito baixa. Ao lado, uma garçonete arruma as mesas aos empurrões. E Dunduc salta com cada ruído.

Acompanhada por uma de suas amigas, a mulher, magra e de poucas palavras, diz que seu marido tinha bons contatos na polícia e na procuradoria do distrito. Dunduc, que é moldava, conta que os maus-tratos começaram pouco depois do casamento com Mikhail Khachaturian, de origem armênia. Ela tinha 19 anos e ele, 37.

Dunduc diz que não sabia que suas filhas sofriam abusos. Acredita que as garotas a protegiam e que, por saberem que suas denúncias não serviriam para nada, preferiram se calar. Algumas de suas amigas sabiam o que estava ocorrendo, embora sem muitos detalhes. Victoria Kuropatkina, íntima de Krestina, conta que sabia de parte dos abusos, mas afirma que sua amiga a proibira de ir às autoridades porque temia as consequências. Para Victoria e para ela e suas irmãs.

Aurelia Dunduc com uma de suas filhas em uma audiência em Moscou, em 26 de junho.
Em público, Angelina, Krestina e Maria eram três jovens tímidas. Muito estudiosas. A mais nova adora o cinema, conta Dunduc. Angelina gosta de ver séries, tirar selfies com suas amigas e passar o tempo em alguma cafeteria. Krestina, a mais velha, é muito boa em matemática e sonhava em estudar contabilidade, até que suas notas caíram por faltar às aulas.


Muito antes daquele julho de 2018 em que tudo explodiu, as garotas tinham parado de ir à escola. Seu pai quase não as deixava sair de casa. No entanto, criticam os advogados, as autoridades educacionais não investigaram a fundo o caso. Também não houve nenhuma investigação depois da tentativa de suicídio de Krestina, desencadeada por uma das agressões sexuais de seu pai, assinala o advogado Liptser. Na sexta-feira, o Ministério Público iniciou um processo póstumo contra Khachaturian pelos supostos abusos, o que pode provocar uma reviravolta no caso.

Krestina, Angelina e Maria estão em liberdade sob fiança, mas isoladas. Não podem se comunicar entre si nem com as testemunhas do caso ou com a mídia. “Estão bem, na medida do possível”, diz seu advogado. E acrescenta: “Seja no banco dos réus ou isoladas em casa, repetem que pelo menos não sofrem torturas e surras todos os dias”.



Alimentos Tec - Gafanhotos e grilos são os novos superalimentos?


Novo estudo revela que os insetos são fontes de antioxidante, substância que combate os radicais livres e previne o surgimento de tumores cancerígenos


Gafanhoto
  
Gafanhotos e grilos, por exemplo, contêm cinco vezes mais poder antioxidante do que o suco de laranja natural — considerado uma das principais fontes de vitamina C (um tipo de antioxidante)


Novo estudo indica que comer insetos, como cigarras e bicho da seda, pode ajudar na prevenção do câncer. A pesquisa, publicada na revista Fontiers in Nutrition, revela que os insetos são excelentes fontes de antioxidante, substância que combate os radicais livres e protege o DNA contra danos que podem desencadear o surgimento de tumores cancerígenos.

De acordo com os pesquisadores, gafanhotos e grilos, por exemplo, contêm cinco vezes mais poder antioxidante do que o suco de laranja natural — considerado uma das principais fontes de vitamina C (um tipo de antioxidante). “Os insetos que podem ser ingeridos por pessoas e animais são uma excelente fonte de proteína, ácidos graxos poli-insaturados, minerais, vitaminas e fibras”, disse Mauro Serafini, principal autor do estudo, ao Daily Mail. 

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Os cientistas ainda ressaltaram que pelo menos dois bilhões de pessoas têm como parte da dieta o consumo regular de insetos — o que pode estar garantindo proteção contra o câncer, além de assegurar melhor saúde geral. As populações que mais rejeitam a ideia de adicioná-los a dieta são os ocidentais.



Estudo

Para chegar a essa conclusão, a equipe da Universidade de Teramo, na Itália, analisou 12 tipos de insetos diferentes e dois tipos de invertebrados que podem ser consumidos na alimentação. Entre os insetos estavam: larva da farinha, vermes de búfalo, cigarras, formigas pretas, lagartas africanas, bichos da seda, gafanhotos, grilos, mini grilos, insetos gigantes da água, centopeias gigantes da Amazônia, tarântulas zebra tailandesas e escorpiões negros.

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Antes de moer os bichos, os pesquisadores removeram partes do corpo que não podem ser consumidas (asas ou ferrões); em seguida, o conteúdo moído foi separado de acordo com o tipo: solúvel em gordura ou em água. A partir daí, a equipe analisou todos os insetos para verificar a quantidade de antioxidantes disponível.


A análise mostrou que as melhores fontes da substância são grilos, gafanhotos e bichos da seda. Outra boa fonte são cigarras noturnas e lagartas africanas, que contêm o dobro de antioxidantes encontrados no azeite de oliva. A equipe descobriu também que gafanhotos, formigas pretas e larvas da farinha são as melhores fontes de polifenóis — substância com propriedades anticâncer, anti-inflamatórias e antioxidantes.

Já insetos carnívoros — que se alimentam de outros insetos ou animais mortos — não oferecem a mesma quantidade de antioxidante. Entre eles estão: formigas pretas, tarântulas zebra tailandesas, escorpiões negros e insetos gigantes da água.

“No futuro, poderemos adaptar os regimes alimentares para a criação de insetos, a fim de aumentar seu conteúdo antioxidante para consumo animal ou humano”, disse Serafini. O pesquisador destacou que o consumo de insetos também é uma forma de proteger o meio ambiente.

A equipe ressaltou que, apesar dos resultados, são necessárias mais pesquisas para confirmar se o consumo de insetos fornece realmente está alta quantidade de antioxidantes ou se o potencial é perdido durante a digestão.

Poder antioxidante

Os antioxidantes são substâncias que evitam o oxidação de moléculas. Uma das funções mais importantes dos antioxidantes é reduzir o número de radicais livres — moléculas que podem surgir com a oxidação. Elas fazem parte do organismo, mas quando produzidas em altos níveis, podem danificar o DNA e outras partes da célula, o que pode desencadear doenças, incluindo o câncer. Entre os fatores que podem contribuir para o aumento dos radicais livres estão a radiação e toxinas do ambiente.

Portanto, uma alimentação rica em antioxidantes traz inúmeros benefícios para a saúde. Entre os alimentos ricos em antioxidantes estão: laranja e morango (vitamina C); cenoura e damasco (betacaroteno); milho e amendoim (vitamina E); feijão e cereais integrais (zinco); tomate e melancia (licopeno); e frutas vermelhas e nozes (ácido elágico).

Agora, os cientistas indicam que insetos comestíveis podem ser ainda mais poderosos do que muitos alimentos convencionais.

CATÓLICLIPE - PE. FÁBIO DE MELO CANTA: HOJE LIVRE SOU

Cientistas católicos e suas grandes descobertas | insulina - São José Moscati

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São José Moscati (canonizado pelo Papa João Paulo II em 1987) foi um médico, professor e pesquisador que dedicou sua vida a recuperar a saúde física e espiritual dos pacientes. Embora tenham lhe oferecido vários trabalhos muito bem remunerados, eles sempre pensou que sua missão era ajudar os pobres.

A mãe dele morreu de diabetes em 1914. Depois disso, ele procurou uma maneira de ajudar os outros pacientes a não ter o mesmo fim. Foi, portanto, um dos primeiros médicos napolitanos a experimentar a insulina no tratamento do diabetes. 



O que acontecerá depois da morte | Pregação - Frei Gilson

Cientistas católicos e suas grandes descobertas | A teoria do Big Bang - Georges Lemaître

A reportagem é de Alberto López, publicado por El País, 17-07-2018. A tradução é de Henrique Denis Lucas.

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O físico e matemático belga, que combinou ciência e fé em seus trabalhos, foi o primeiro a falar da origem do universo em expansão e com um passado infinito

Ciência e fé não costumam dar bons casamentos, mas há exceções, como a do cientista e sacerdote católico belga Georges Lemaître, que não é apenas um exemplo reconhecido pela comunidade científica, mas que, com grande humildade, foi capaz de corrigir o próprio Albert Einstein. Estamos falando do padre da Teoria do Big Bang, que tentou demonstrar a origem do universo.

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Sem renunciar à sua fé católica, Lemaître falou de um passado infinito do universo, mas que não entrava em contradição com sua crença em um Deus criador do mundo, já que tanto Aristóteles quanto São Tomás de Aquino mostraram que a criação de um universo não precisaria de um começo no tempo.

Sua precocidade para a ciência, destacando-se em matemática e física, era paralela à sua vocação, já que aos 9 anos ele decidiu que seria sacerdote. Ele alcançou sucesso em ambos os âmbitos graças ao conselho de seu pai para que primeiro estudasse e depois fosse ordenado padre. Ele conseguiu bolsas de estudo, viajou pelo mundo e obteve reconhecimento, mas sua humildade permitiu que as honras e fama de suas descobertas e contribuições para a astronomia e astrofísica fossem creditadas a outros.

Talvez a definição mais precisa de Lemaître e suas descobertas tenha sido dada pelo próprio Albert Einstein, ao escutá-lo em uma conferência na Califórnia. Em pé, ele afirmou que a teoria da origem do universo "é a mais bela e satisfatória explicação da Criação que em algum momento eu tenha escutado".

Georges Henri Joseph Édouard Lemaître nasceu em 17 de julho de 1894, na localidade belga de Charleroi. Ele era o mais velho entre os quatro irmãos e desde muito cedo mostrou sua precocidade em matemática e física, mas também em sua vocação pessoal, anunciando a seus pais, aos nove anos de idade, que queria ser padre.

Encorajado por seu pai, Georges Lemaître decidiu estudar primeiro, antes de entrar no seminário, e matriculou-se na Escola Superior Jesuíta do Sagrado Coração, em Charleroi, onde destacou-se em química, física e matemática. Em 1910, seu pai conseguiu um novo emprego e mudou-se com a família para Bruxelas. O jovem Lemaître, já com 16 anos, matriculou-se em outra escola jesuíta, o Colégio Saint Michel, onde seus professores descobriram suas habilidades excepcionais em matemática e física.

Embora ainda gostasse da ideia de se tornar padre, Georges decidiu estudar engenharia em vez de teologia. Em 1911 ingressou na Universidade Católica de Lovaina para fazer o curso de engenharia. Em julho de 1913, obteve o diploma e começou a trabalhar como engenheiro de minas.

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A Primeira Guerra Mundial forçou-o a parar seus estudos e servir como voluntário no exército belga, alcançando o posto de Primeiro-Sargento. Por sua bravura, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra, além de ter sido expulso de uma missão após ter dito ao instrutor que seus cálculos balísticos estavam errados. No entanto, as atrocidades vistas na guerra amplificaram sua vocação sacerdotal. Algum colega de aula viria a recordar posteriormente que sua vocação de fé e da ciência se mantinham em tamanha sincronia que ele era visto por aí lendo o livro de Gênesis da Bíblia da mesma maneira que lia artigos de equações de físicos franceses.

Retomou seus estudos e em 1920, aos 26 anos, foi premiado com a mais alta distinção, um doutorado em Ciências Matemáticas por sua tese 'A aproximação de funções reais de várias variáveis'. Georges Lemaître também obteve um bacharelado em filosofia baseado no sacerdote italiano do século XIII, São Tomás de Aquino.

Seu passo seguinte foi dar início à sua caminhada para tornar-se padre, ao ingressar na Casa de Saint Rombaut, em outubro de 1920. Seus professores, notando seu interesse contínuo em matemática e física, sugeriram que ele estudasse o trabalho de Albert Einstein. Lemaître assim o fez, aprendendo sobre o cálculo do tensor e a relatividade geral dos livros escritos pelo famoso astrônomo matemático Arthur Eddington.

Em 1922, Lemaître apresentou a tese 'A Física de Einstein', que rendeu-lhe uma bolsa de estudos do governo belga e a possibilidade de ir para a Universidade de Cambridge (Inglaterra), como pesquisador de astronomia. Quase em paralelo, foi ordenado sacerdote em setembro de 1923, aos 29 anos. No entanto, ao invés de exercer como padre em uma paróquia ou colégio, Lemaître utilizou a bolsa para estudar a teoria da relatividade geral e trabalhar pessoalmente com Eddington, que sugeriu a Lemaître que começasse a trabalhar em um doutorado sobre o universo.

Eddington pediu a Lemaitre que aplicasse as regras da relatividade geral ao conteúdo de seu trabalho para ver quais seriam os resultados. Lemaître descobriu duas soluções para o problema de Eddington: a primeira consistia em uma proposta feita por Einstein, em 1917, de um universo fechado, estável e estático, cuja densidade de energia em massa fosse constante; a segunda estava relacionada com a proposta de Willem de Sitter, também em 1917, de um universo cujo comportamento em grande escala fosse dominado pela constante cosmológica (a densidade de energia do espaço vazio).

Georges Lemaître cruzou o Atlântico para conduzir pesquisas na Universidade de Harvard e também matriculou-se como aluno para um doutorado em Física no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Durante sua estada nos Estados Unidos, viajou muito e conheceu os mais importantes astrônomos e físicos do país, incluindo Forest Ray Moulton, William Duncan MacMillan, Vesto Slipher, Edwin Hubble e Robert Millikan.

Georges retornou à Bélgica no verão de 1925 e, apoiado e recomendado por Eddington, foi nomeado professor associado de matemática na Universidade Católica de Lovaina. Em 1927, defendeu sua tese no MIT: 'O campo gravitacional em uma esfera fluida de densidade invariante uniforme, segundo a teoria da relatividade'.

Neste novo papel de pesquisador e divulgador, Georges Lemaître realizou a derivação do que hoje é conhecida como a Lei de Hubble, que relata a velocidade com que uma galáxia se afasta e a sua distância. A famosa Conferência Solvay de 1927 contou com a presença da maioria dos principais físicos. Einstein também participou e falou com Lemaître, dizendo-lhe que suas ideias já haviam sido apresentadas por Friedmann, em 1922. Além disso, disse-lhe que, por mais que acreditasse que suas soluções para as equações da relatividade geral estivessem matematicamente corretas, traziam soluções que não eram fisicamente possíveis. Especificamente, Einstein disse-lhe: "Seus cálculos estão corretos, mas sua compreensão da física é abominável".

Einstein não estava sozinho ao achar as ideias de Lemaître inaceitáveis. Pelo contrário, essa era a opinião de quase todos os cientistas. No entanto, em 1929, Hubble publicou um trabalho que apresentava grandes evidências de um universo em expansão, contradizendo a teoria de um universo estático, até então aceita.

Eddington e outros membros da Real Sociedade Astronômica (Royal Astronomical Society) começaram a trabalhar para tentar resolver o problema originado pela discrepância entre a teoria e a observação, com uma parte da teoria de Lemaître que os cientistas - incluindo Eddington - acharam impossível de aceitar: como foi que o universo teve um começo em um tempo finito no passado, da mesma forma que a religião católica defende no livro de Gênesis?

Lemaître respondeu às objeções a sua teoria em um documento publicado na revista Nature, em maio de 1931. "Se o mundo começou com um único quantum, as noções de espaço e tempo não teriam nenhum significado no princípio; só começariam a ter algum significado sensato quando o quantum original fosse dividido em um número suficiente de quanta. Se esta sugestão estiver correta, o começo do mundo aconteceu um pouco antes do começo do espaço e do tempo". Em realidade, Lemaître sempre expressou que era importante manter uma separação entre as idéias científicas e as crenças religiosas sobre a criação.

Esta foi a primeira formulação explícita da Teoria do Big Bang, atualmente aceita e que naquele momento também era aceita pela maioria dos cientistas e a qual Georges chamou de "hipótese do átomo primordial". Em 1933, Einstein e Lemaître disponibilizaram-se a ministrar uma série de conferências na Califórnia. Depois de ouvir Lemaître explicar sua teoria em um desses seminários, Einstein levantou-se e disse: "Esta é a mais bela e satisfatória explicação da Criação que em algum momento eu tenha escutado".

As ideias de Georges Lemaître chegaram à imprensa popular, que o descreveu como o principal líder do momento. Um artigo no 'New York Times' mostrou uma foto dele e Einstein com a legenda: "Eles têm um profundo respeito e admiração um pelo outro". E é o fato de que Lemaître tenha sido tanto um cientista quanto um padre católico que gerou certo fascínio na imprensa popular, até o ponto em que um jornalista escreveu acerca dele: "Não há conflito entre religião e ciência, repete Lemaître diversas vezes... Seu ponto de vista é interessante e importante não apenas porque ele é um padre católico ou um dos principais matemáticos e físicos de nosso tempo, mas porque ele é ambos".

O maior opositor das hipóteses de Lemaître foi o astrônomo inglês Fred Hoyle, um dos arquitetos do modelo Estacionário. Na verdade, foi ele quem deu seu nome à teoria do Big Bang em uma entrevista de rádio para a BBC e o fez de maneira depreciativa.

Para o sacerdote belga Georges Lemaître, a história do universo divide-se em três períodos: o primeiro é chamado de "a explosão do átomo primitivo", segundo o qual há cinco bilhões de anos existia um núcleo de matéria hiperdensa e instável que explodiu sob a forma de super-radioatividade. Esta explosão propagou-se durante um bilhão de anos e os astrônomos percebem até hoje seus efeitos sobre os raios cósmicos e as emissões X.

Depois vem o período de equilíbrio ou o universo estático de Einstein. Ele afirma que, após a explosão, estabelece-se um equilíbrio entre as forças de repulsão cósmicas na origem do acontecimento e as forças de gravitação. É durante esta fase de equilíbrio - que dura dois bilhões de anos - que se formam nós que dão origem às estrelas e galáxias.

Finalmente, acontecem os períodos de expansão, iniciados há 2 bilhões de anos, que demonstrariam que o universo está se expandindo a uma velocidade de 170 quilômetros por segundo de maneira indefinida.

Em 1948, George Gamov propôs uma nova descrição do começo do universo. E, embora ele seja considerado atualmente como o pai da teoria do Big Bang, as linhas mestras já estavam presentes de uma maneira muito clara na cosmologia de Lemaître.

O renomado padre belga obteve vários cargos na Pontifícia Academia das Ciências, sendo assessor pessoal do papa Pio XII e presidente da mesma em 1960. Em 1979, durante o discurso do Papa São João Paulo II à Pontifícia Academia das Ciências, por ocasião da comemoração do nascimento de Albert Einstein, ele citou algumas palavras de Lemaître sobre a relação entre a Igreja e a ciência:

"Por acaso a Igreja poderia ter necessidade de ciência? Não: a cruz e o Evangelho lhe bastam. Mas nada que seja humano é alheio ao cristianismo. Como poderia a Igreja se desinteressar na mais nobre das ocupações estritamente humanas: a investigação da verdade?"

Ao fim da sua vida, Georges Lemaître dedicou-se cada vez mais aos cálculos numéricos. Seu interesse pelos incipientes computadores e pela informática acabou por fasciná-lo completamente.

Ele morreu na cidade belga de Lovaina, em 20 de junho de 1966, aos 71 anos, dois anos depois de ter escutado a notícia da descoberta da radiação cósmica de fundo de microondas cósmicas, que era a prova definitiva de sua teoria astronômica fundamental do Big Bang.

O nome em uma cratera na Lua e em um veículo espacial da Agência Espacial Europeia (a ATV5), que nem sequer existe mais, são dois reconhecimentos quase insignificantes para a estatura humana e sua contribuição para a compreensão da origem do universo que nos acolhe.