Voltando da Armênia o Papa Francisco, como de costume, deu
uma coletiva de imprensa no avião. De forma espontânea o Pontífice abarcou
diversos temas que, possivelmente, nessa noite estarão dando a volta ao mundo
segundo as interpretações de cada mídia. Em resumo eis algumas passagens do
Pontífice:
Ideias principais do papa sobre Brexit, uso da palavra
‘genocídio’, dois papas no vaticano e concílio Pan-ortodoxo
“O passo que a UE deve dar para reencontrar a força das suas
raízes é um passo de criatividade e também de sadia “desunião”, ou seja, dar
mais independência e mais liberdade aos Países da União, pensar em outra forma
de união. É preciso ser criativos na oferta de trabalho, na economia […] Há
algo errado naquela União maciça, mas não joguemos fora a criança junto com a
água suja e procuremos recriar. Criatividade e fecundidade são as duas palavras
chaves para a União Europeia”.
O governo turco ofendeu-se mais uma vez com a palavra que o
Papa usou. Entre a explicação de Francisco ele disse que “Nunca falei a palavra
‘genocídio’ com tom ofensivo, mas objetivo”.
A respeito dos “dois papas” no Vaticano, disse: “Só há um
Papa, o outro é emérito. Talvez no futuro possam ter dois ou três, mas são
eméritos”.
Sobre o concílio Pan-Ortodoxo “As coisas que justificaram a
falta de participação de algumas Igrejas (ao concílio Pan-Ortodoxo) são
sinceras, sãos coisas que podem ser resolvidas […] No próximo terão mais”.
Sobre Lutero e a Reforma Protestante
“Acredito que as intenções de Lutero não tenham sido
erradas, era um reformador, talvez alguns métodos não foram corretos, mas
naquele tempo, se lemos a história do Pastor – um alemão luterano que se
converteu e se fez católico – vemos que a Igreja não era precisamente um modelo
a imitar: havia corrupção, mundanismo, apego à riqueza e ao poder. E por isso
ele protestou, era inteligente e deu um passo adiante justificando porquê o
fazia. Hoje protestantes e católicos estamos de acordo na doutrina da
justificação: neste ponto tão importante não havia errado. Ele fez um remédio
para a Igreja, depois esse remédio se consolidou em um estado de coisas, em uma
disciplina, em um modo de fazer, de crer, e depois estava Zwinglio, Calvino e
detrás deles haviam os princípios, “cuius regio eius religio”. Temos que
colocar-nos na história daquele tempo, não é fácil entender. Depois as coisas
seguiram adiante, aquele documento sobre a justificação é um dos mais ricos.
Existem divisões, mas dependem também das Igrejas. Em Buenos Aires haviam duas
igrejas luteranas e pensavam de forma diferente, também na Igreja luterana não
existe unidade. A diversidade é o que talvez nos fez tanto mal a todos e hoje
procuramos o caminho para encontrar-nos depois de 500 anos. Eu acho que o
primeiro que devemos fazer é rezar juntos. Depois devemos trabalhar pelos
pobres, os refugiados, tantas pessoas sofrendo, e, por fim, que os teólogos
estudem juntos procurando… Este é um caminho longo. Certa vez disse brincando:
eu sei quando será o dia da unidade plena, o dia depois da vinda do Senhor. Não
sabemos quando o Espírito Santo fará esta graça. Mas, enquanto isso, devemos
trabalhar juntos pela paz”.
Sobre os gays e cultura cristã
“Eu repito o Catecismo: estas pessoas não devem ser
discriminadas, devem ser respeitadas e acompanhadas pastoralmente. Pode-se
condenar, não por motivos ideológicos, mas por motivos de comportamento
político, certas manifestações muito ofensivas para os demais. Mas estas coisas
não têm nada a ver, o problema é uma pessoa que tem aquela condição, que tem
boa vontade e que procura a Deus. Quem somos nós para julgar? Devemos
acompanhar bem, segundo o que diz o Catecismo. Depois existem tradições em
alguns Países e culturas que têm uma mentalidade diferente sobre este problema.
Eu creio que Igreja, ou melhor, os cristãos, porque a Igreja é santa, não só
devem pedir desculpa como disse aquele cardeal “marxista” (refere-se ao Cardeal
Marx, nde)… mas devem pedir desculpa também aos pobres, às mulheres e às
crianças abusadas, devem pedir desculpa por ter abençoado tantas armas, por não
terem acompanhado tantas famílias. Eu me lembro, de criança, daquela cultura
católica fechada de Buenos Aires: não se podia entrar em casa de divorciados.
Estou falando de oitenta anos atrás. A cultura mudou e graças a Deus, como
cristãos, devemos pedir tantas desculpas, não só sobre isso: perdão Senhor, é
uma palavra que esquecemos. O sacerdote “patrão” e não o sacerdote pai, o
sacerdote que bate e não o sacerdote que abraça e perdoa… mas existem tantos
santos sacerdotes capelães nos hospitais e nas prisões, mas estes não são
vistos, porque a santidade tem pudor. Pelo contrário a falta de pudor é
indiscreta e se mostra. Tantas organizações, com pessoas boas e pessoas não tão
boas. Nós cristãos temos também muitas Teresas de Calcutá… Não devemos
escandalizar-nos, esta é a vida da Igreja. Todos nós somos santos porque temos
o Espírito Santo, mas somos todos pecadores, eu em primeiro lugar”.
Diaconisas e falsas notícias
Sobre a questão das diaconisas o Papa afirmou ter ficado
bravo quando abriu os jornais e viu escrito “A Igreja abre às diaconisas”. “Me
senti um pouco bravo – afirmou – porque isso não é dizer a verdade das coisas”
[…] Um ano e meio atrás fiz uma comissão de mulheres teólogas que trabalharam
com o cardeal Rylko, e fizeram um bom trabalho […] “Para mim a função da mulher
não é tão importante quanto o seu pensamento, que pensa de forma diferente do
homem e não é possível tomar uma boa decisão sem consultar mulheres, como eu
fazia em Buenos Aires”.
Por Zenit
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