sexta-feira, 8 de junho de 2018

“A fumaça de Satanás entrou na Igreja”: o que o Papa quis dizer com isso?


Por: Gelsomino Del Guercio / Redação da Aleteia

lobo cordeiro fumaça

Os tormentos de um pontífice, manifestados numa carta que permaneceu inédita até há poucas semanas

Estamos no começo da década de 1970. São tempos agitados, no mundo e na Igreja. Vivemos a imediata época pós-Concílio Vaticano II. O Papa Paulo VI escreve uma carta que permanecerá inédita até 2018, quando o conteúdo é revelado no livro “La barca di Paolo” (“A barca de Paulo“), do pe. Leonardo Sapienza, regente da Casa Pontifícia.

É 29 de junho de 1972. Paulo VI tem cada vez mais nítida a impressão de que existe algo de profundo e de negativo que aflige a Igreja crescentemente. O caminho da secularização e a falta de unidade interna estão se tornando dois grandes problemas para a Igreja no mundo inteiro.

Escreve, inquieto, o Papa:

“…Diríamos que, por alguma fresta misteriosa – não, não é misteriosa; por alguma fresta, a fumaça de Satanás entrou no templo de Deus. Há dúvida, há incerteza, há problemática, há inquietação, há insatisfação, há confronto”.

“Não se confia mais na Igreja. Confia-se no primeiro profeta profano que vem nos falar em algum jornal, para correr atrás dele e lhe perguntar se tem a fórmula para a vida verdadeira. Entrou, repito, a dúvida em nossa consciência. E entrou por janelas que deviam estar abertas à luz: a ciência!”.

Nuvens de tempestade

Sentem-se chagas no pós-Concílio:

“…Acreditava-se que, depois do Concílio, viriam dias ensolarados para a história da Igreja. Advieram, porém, jornadas de nuvens, de tempestade, de escuridão, de busca, de incerteza… Tentamos cavar abismos em vez de preenchê-los…”.

Terror e êxtase

Que o Papa não estava tranquilo, percebe-se ainda por outro pensamento que ele tinha escrito oito dias antes, em 21 de junho de 1972. O título, por si, já é perturbador: “O terror e o êxtase“.

Talvez o Senhor

me tenha chamado a este serviço

não já para que eu tome nele alguma atitude,

ou para que eu governe e salve a Igreja das suas dificuldades,

mas para que eu sofra algo pela Igreja

e seja claro que é Ele, e ninguém mais,

quem a guia e quem a salva.

21 de junho de 1963: exatos nove anos antes de escrever esse pensamento, Giovanni Montini era eleito Papa. E, a respeito, tinha escrito:

“…Espero que todos acreditem quando digo que não apenas nunca aspirei como sequer formulei a hipótese de ser eleito para este formidável ofício…”.

Anos depois, em conversa no turbulento 1968 com o escritor francês Jean Guitton, seu amigo, o Papa confidenciava:

“…Eu tive o terror e o êxtase de ser eleito…”.

Uma vez aceito o peso do pontificado, porém, Paulo VI lhe consagrou todas as forças, em meio aos incontáveis obstáculos que, a ele e a qualquer outro pontífice, teriam feito, certamente, pensar na renúncia.

É gravemente pesado o fardo do Vigário de Cristo, porque é o fardo do pastor chamado a dar a vida pelas ovelhas. Oremos pelo Papa e pela Igreja, sob as nuvens de tempestade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário