Aleteia Brasil
O sacerdote foi alvo da
ira de "justiceiros virtuais" ao declarar que “a saidinha deveria ser
permitida só no dia de finados, para que visitassem os túmulos dos que eles
mataram”
A legislação brasileira
permite a popularmente chamada “saidinha” de criminosos da prisão por ocasiões
especiais como, entre outras, o dia das mães e o dia dos pais. A medida, que
por si só já levanta controvérsias entre a população, se torna particularmente
polêmica nessas duas datas quando os beneficiados por ela são pessoas condenadas
por terem matado precisamente os próprios genitores ou filhos.
Neste dia dos pais, um
dos beneficiados pela “saidinha” foi Alexandre Nardoni, condenado pelo
assassinato da própria filha, Isabella, de 5 anos de idade. Nardoni jogou a
menina pela janela de seu apartamento no sexto andar de um edifício em São
Paulo, num caso que estarreceu e comoveu profundamente o Brasil em 2008.
O pe. Fábio de Melo, um
dos sacerdotes mais conhecidos do país, publicou a respeito o seguinte
comentário em seu perfil no Twitter:
“A saidinha deveria ser permitida somente
no dia de finados. Para que visitassem os túmulos dos que eles mataram”.
Justiceiros virtuais
Foi o bastante para que
os assim chamados “justiceiros virtuais” atacassem o padre, apelando, como de
costume, para um contraditório discurso de “amor ao próximo”. É sempre curioso
observar que, em nome de um suposto “amor”, os justiceiros virtuais não hesitam
em destilar ódio, ataques pessoais e até ameaças de violência física.
Aliás, o próprio padre
foi por eles tachado de “justiceiro”, além de “desonesto, desinformado e
canalha”.
Discussão tergiversada
Entre os que se
declararam contrários à opinião do padre esteve a professora universitária e
militante pró-aborto Débora Diniz, que escreveu que “as saidinhas são parte de
um calendário de retorno à vida social. A prisão não é lugar eterno”.
O comentário, que tem
formas ponderadas, é, no entanto, uma tergiversação da crítica do padre, que em
momento algum questionou a reinserção social e muito menos o perdão. Ele
próprio deixa claro:
“Já atuei na pastoral carcerária. Sei sobre
a necessidade da ressocialização dos presos. Eu apenas salientei sobre a Justiça
não ser capaz de preservar, para os que sofrem suas perdas, o simbolismo das
datas, libertando os responsáveis pelas mortes de seus entes queridos. Só
isso”.
A tergiversação do
assunto, aliás, desperta outras discussões paralelas bastante relevantes: não
será o caso de se analisar mais a fundo quais são os embasamentos de uma
ideologia que considera “direito” exterminar bebês em gestação, ao passo que
problematiza o direito da sociedade a questionar um indulto pontual concedido
em pleno dia dos pais a um homem que assassinou a própria filha de 5 anos?
O enviesamento
ideológico não é novidade alguma nos supostos “debates” sobre “direitos”. A
mesma Débora Diniz teve sua postura questionada em 2016 pelo pe. Silvio
Roberto, diretor da Casa Pró-Vida Mãe Imaculada, por conta de uma entrevista
que ela deu ao programa Fantástico, da Rede Globo. A atração televisiva levou
ao público, na ocasião, uma reportagem unilateral sobre o aborto e sua suposta
realidade no Brasil:
Era da problematização
O nome do pe. Fábio
chegou a figurar entre os assuntos mais comentados da rede social, entre
postagens que o apoiavam e outras que o execravam “em nome do amor”. Mas o
sacerdote passou longe de se intimidar com a grita dos “odiadores” que se
consideram “do bem” e que pregam seu “amor ao próximo” atacando os outros. Pe.
Fábio resumiu:
“É o grupinho da discordância, resultado
nefasto da era da problematização. Sabem perfeitamente que a indignação pública
é um fato. Não estamos questionando o que a lei permite. Estamos indignados é
com o que a lei permite”.
O padre resolveu
abandonar o Twitter após as manifestações de “amor ao próximo” dos justiceiros
virtuais:
“Meus queridos, vou ficando por aqui. Tenho
uma saúde emocional a ser cuidada. Sei o quanto já provei a solidão provocada
pela depressão, pelo pânico. Tomar remédios só faz sentido quando evitamos os
gatilhos dos desconfortos. Este lugar deixou de ser saudável pra mim. Obrigado!
Desde ontem, quando expressei minha
indignação sobre a ‘saidinha’, estou sendo acusado de justiceiro, desonesto,
desinformado, canalha e outros nomes impublicáveis. Só reitero. Já atuei na
pastoral carcerária. Sei sobre a necessidade da ressocialização dos presos. Eu
apenas salientei sobre a justiça não ser capaz de preservar, para os que sofrem
suas perdas, o simbolismo das datas, libertando os responsáveis pelas mortes de
seus entes queridos. Só isso”.
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