Por: Por Dom Aloísio A.
Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul, via CNBB
Nos anos da juventude,
quando a vida se apresentava particularmente cheia de desafios, sonhos e
utopias, com freqüência, nós usávamos a expressão: Saudades do infinito. Num
primeiro momento, certamente, ela se identificava como algo indefinido e vago,
por vezes, como sentimento de saudade. À medida que os anos passaram, os
estudos de filosofia se encarregaram de provocar novamente em nós a citada
expressão, sobretudo, quando ouvíamos de nossos professores que o ser humano
estava num constante vir-a-ser, sem identidade pronta ou definida, sempre se
projetando para o futuro.
Nesta fase da vida, a teologia ainda não nos havia
revelado a profunda experiência pela qual o filósofo e teólogo Santo Agostinho
(séc. V) tinha passado, até encontrar-se verdadeiramente com Deus, quando
proclama magistralmente: “Nos fizestes para vós e o nosso coração não descansa
enquanto não repousar em vós” (Santo Agostinho, Confissões, I, 1,1).
A partir
da fé, podemos entender Santo Agostinho na sua busca incansável sobre a verdade
e a plenitude de sua vida. Ele também sentia saudades do infinito, mas sua
conversão, que o fez encontrar o Senhor, demorou a chegar: “Tarde te amei,
Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim e eu te
buscava fora de mim (…) Brilhaste e resplandeceste diante de mim, e expulsaste
a cegueira dos meus olhos.
Exalaste o teu Espírito e aspirei teu perfume, e
desejei-te. Saboreei-te, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e
abrasei-me na tua paz” (Confissões 10, 27-29). Como Santo Agostinho, cada um de
nós pode contar sua experiência de encontro de fé com a pessoa de Jesus Cristo
e que mudou a nossa vida, ou seja, quando começamos a viver a partir dele como
“sujeitos novos”, como discípulos missionários (cf. DAp 243).
Anos atrás, a Revista
Cidade Nova editou artigo, com o título: “Matar a ‘Saudade do Infinito’”, do
psicólogo clínico, Diviol Rufino (cf. Ed 569, Ano LV, setembro de 2013, p. 40).
Nada melhor para ampliar o leque das ciências que abordam o tema da Saudade do
Infinito. Após afirmar com que se ocupa a jovem ciência da psicologia, o autor
afirma: “Muitos profissionais desse campo descobrem que existe uma ferida que
esta ciência, por si mesma, não pode curar: a ‘saudade do infinito’, ou seja,
do transcendente.
A mera racionalidade não atende essa expectativa”. Para
confirmar seu modo de pensar, o autor cita um profundo conhecedor da
experiência humana do pós-guerra, Igino Giordani, quando este psicólogo
profeticamente afirmava: “É porque rejeitamos os ensinamentos da religião que
nos é difícil perceber as mutilações mais graves do laicismo.
Ter afastado a
religião da nossa vida significa ter reduzido a cultura à erudição, a vida à
técnica, a ciência aos manuais. Significa ter privado o espírito do homem dos
valores do espírito. Significa ter tirado da sociedade os princípios
constitutivos, para compor-se e reger-se; ter tirado dela o critério de escolha
entre o bem e o mal, com o senso de responsabilidade e a consciência da culpa…
O homem aprende como se faz uma máquina e ignora como ele próprio é feito. Sabe
para que serve a atmosfera e ignora para que serve a sua alma” (idem).
Por isso, caros
diocesanos e demais irmãos, nunca abafemos a saudade do infinito, pois ela é
fundamental em nossa vida para encontrarmos seu verdadeiro sentido! Enquanto
continuamos nossas férias ou tempo de trabalho, pensemos nisso.
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