Por: A12
Poderíamos gastar todo
o espaço deste texto trazendo algumas definições de fé mais ou menos bonitas
que foram dadas ao longo da história da Igreja. O autor da carta aos Hebreus,
por exemplo, nos diz de forma muito bela:
“A fé é uma posse
antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se
veem”
HEBREU 11,1
De acordo com essa
definição, a fé é uma posse. Mas uma posse de que? O que é que esperamos e que
ao mesmo tempo já possuímos? Isso não é contraditório em si mesmo?
Em outra passagem São
Paulo diz aos romanos que a fé vem pelo ouvir e o ouvir a palavra de Cristo (Rm
10, 17). Se você está lendo esse texto, provavelmente já ouviu falar de Jesus e
já ouviu Jesus falar por meio da sua Igreja, seja nas Sagradas Escrituras, seja
em uma participação na Liturgia. Mas muitas vezes nossos ouvidos já estão
acostumados com essas palavras e elas acabam tendo dificuldade de chegar ao
mais profundo do nosso ser.
Um bom exercício é
tentar fazer memória daquele anúncio original que nos foi feito. Aquele que fez
nascer em nós a chama da fé. Pode ser que esse anúncio original esteja em nossa
família, assim como para o jovem Timóteo que escutou falar da fé por meio de
sua vó e de sua mãe. Pode ser que esse anúncio original esteja nas experiências
de infância de ir à missa sem entender muito, mas que proporcionaram uma escuta
de um anúncio de Cristo. As possibilidades são infinitas.
Porque o exercício da
fé é importante?
Porque ele traz a fé
para o âmbito do pessoal. Muitas vezes a fé é vista como um conteúdo com o qual
prestamos o assentimento. Nesse sentido a fé não seria muito diferente de uma
adesão a um partido político ou a um grupo de filosofia. Mas ela é muito mais
do que isso, embora esse assentimento esteja também compreendido pela fé. Ela
é, antes de qualquer coisa, um deparar-se com a realidade de Jesus, vivo e
encarnado. De uma maneira misteriosa encontramos sua presença no mundo e sua
divindade, mesmo que velada, nos leva a aderir-nos à Vida Crista que Ele nos
propõe. A vida de oração, se partimos desse encontro real com Cristo, se
prolonga em renovar e aprofundar esse primeiro encontro.
Jesus Cristo é
realmente Deus feito homem. Essa é a realidade que nos é anunciada e que ao
escutar, assentimos com a fé. Junto com a esperança e a caridade, a fé forma o
grupo de virtudes teologais, ou seja, que são dons diretos de Deus. É esse dom
que precisamos descobrir em nossas vidas. E ele com certeza está lá, porque
Deus sai ao encontro de todas as suas criaturas com o desejo de salvá-las do
pecado e inseri-las na vida da Graça. Enquanto peregrinamos nessa terra,
vivemos pela fé, em uma espécie de penumbra, mas confiantes porque nossa fé é
em um Deus que não defrauda.
Sabemos, no entanto,
que a fé vai se acabar em um sentido positivo. Juntamente com a esperança,
quando Jesus se manifestar novamente no final dos tempos e o Reino de Deus for
definitivamente instaurado, só sobrará a caridade, o amor. Fé e esperança terão
cumprido já o seu papel e não serão mais necessárias porque já estaremos em
posse (não mais só antecipadamente) daquilo que o nosso coração mais deseja: O
encontro real e definitivo com Deus.
Ter fé é, então, muito
mais do que acreditar que Deus existe ou que ele vai me dar coisas. É assentir
a verdade de Cristo que nos foi anunciada. É viver desse encontro com Ele cada
vez mais renovado e profundo. É verdadeiramente estar no mundo sem ser do
mundo. É apostar tudo por Cristo, queimando todos os navios que poderiam nos
levar de volta a uma vida sem Ele. É um salto em um clarão ainda meio escuro,
como o sol que de manhã já começa a clarear o dia sem se mostrar ainda em todo
seu esplendor.
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