Por: Miguel Pastorino
Na maioria das vezes,
nossa incapacidade de lidar com conflitos ou ser empáticos nos leva ao caminho
fácil de nos livrarmos do outro com o rótulo de "pessoa tóxica"
A qualidade de vida das
pessoas depende da qualidade de seus relacionamentos, pois eles são a
substância da vida. E a qualidade de nossos relacionamentos depende da
qualidade de nossa comunicação, em todas as áreas de nossas vidas.
Atualmente, um dos
grandes desafios no ambiente de trabalho é aprender a se relacionar com pessoas
que são fonte de conflito constante e que são rotuladas de “tóxicas”.
Alguns autores usam o
termo “pessoa tóxica” para se referir a pessoas que causam esgotamento
emocional. Mas aqueles que convivem com tais pessoas costumam qualificá-las
também de narcisistas, vitimistas, manipuladoras, neuróticas, agressivas e uma
longa lista que mistura transtornos psiquiátricos com características de
temperamento.
O adjetivo “tóxico”
acaba sendo aplicado indiscriminadamente a qualquer um que tenha problemas de
relacionamento ou esteja passando por um momento ruim em sua vida. Existem os
que afirmam que existem “relações tóxicas”, mas não “pessoas tóxicas”.
Quando alguém é
rotulado de “tóxico” em alguma área, parece ser tratado como uma espécie de
“praga social” da qual devemos nos distanciar, quando muitas vezes trata-se
apenas de uma pessoa passando por alguma situação crítica.
A falta de uma educação
sólida das emoções e o fato de viver no meio de uma crise cultural que atinge
as famílias favorece o aumento do número de pessoas com baixa auto-estima. Tais
pessoas são sensíveis a qualquer comentário e tentam culpar os outros por tudo
de negativo, ou ainda manifestam o desejo de controlar e manipular tudo.
Há muitas pessoas que,
por não terem sido educadas dentro de limites saudáveis, não toleram a menor
frustração e se tornam insuportáveis para aqueles que vivem ou trabalham com
elas. Mas também é verdade que qualquer um de nós, em um contexto cheio de
problemas e estresse, também pode ser insuportável para os outros.
Mas nada disso
significa que as pessoas, quando se tornam muito conflituosas, são algum tipo
de vírus a ser evitado. Na maioria das vezes, nossa incapacidade de lidar com
os conflitos ou de ser empáticos nos leva ao caminho mais fácil de nos
livrarmos do outro rotulando-o de “pessoa tóxica”. Insisto, ninguém está livre
de ser vítima de uma pessoa transtornada ou de um predador emocional, mas isso
não significa patologizar tudo que me incomoda.
A resposta: compaixão e
alegria
Compaixão é “sentir a
dor do outro”, é sentir com o outro. Mas a compaixão vai muito além de
compartilhar o sofrimento ou outros sentimentos dos outros, porque nos move
para resgatar o outro, para compreendê-lo profundamente. As pessoas são
resgatadas da solidão quando alguém se conecta com suas emoções mais profundas.
O ato de entender não é
concordar com o outro no que ele pensa ou diz, mas colocar-me em seu lugar. Não
apenas para entender o que diz, mas por que diz, o que diz, o que sente,
tentando ir além do que percebemos. O entendimento envolve sair de nós mesmos e
entrar no mundo do outro, em seus pensamentos e sentimentos, e para isso é
necessário aprender a ouvir em profundidade.
Quem tem uma
auto-estima saudável pode enfrentar essas situações de conflito com a paz e sem
perder a alegria, pois entende que, na maioria dos casos, o que os outros
atribuem a ele não necessariamente tem a ver consigo mesmo.
O primeiro e mais
eficaz tom na comunicação é a alegria, é sorrir. Não o sorriso superficial, mas
o que brota de dentro, por ser uma pessoa feliz. Todos estão felizes com
pessoas que são realmente felizes, porque não são competitivas ou estão sempre
procurando alguém para atacar com um comentário malicioso. O sorriso é gratuito
e também pode desarmar.
Um sorriso sincero pode
ser um alívio para um coração que está passando por um momento difícil.
Aproximar-se com verdadeiro interesse pela pessoa geralmente faz com que o
outro pare de ser defensivo. E assim eu posso entender que o problema não é
comigo e que eu não preciso me envolver em um conflito que não tem nada a ver
comigo.
Algumas dicas úteis
Amar e ser compassivo
não significa expor-se desnecessariamente ao conflito. Se vemos que pessoas más
estão abertas a nossa compaixão e proximidade, podemos tentar ter uma conversa
que incida sobre elas, não sobre nós. Às vezes, certas pessoas nos abandonam, e
temos de aceitar isso porque é sua decisão, sua liberdade.
Mas é importante que, quando
você puder oferecer um diálogo com alguém conflituoso, tenha as conversas
breves e suaves, não em excesso, para não gerar expectativas que depois são
frustradas. Ao ouvir atentamente e orientar o outro a falar dos problemas dele,
falando o mínimo possível, evitaremos interpretar erroneamente ou que a outra
pessoa interprete mal nossas palavras.
Há pessoas com baixa
auto-estima que sempre deixam de lado as coisas positivas para destacar um
comentário negativo ou interpretação errada. Quando alguém é muito
auto-referencial, ela pensa em tudo de acordo consigo mesma. Por isso é
importante ser claro e conciso.
Os gestos da gratuidade
diária, pequenas coisas simples, não custam nada e fazem muito bem às pessoas
conflituosas. Pessoas que se sentem muito solitárias e isoladas não esperam
nada de ninguém e a gratuidade tende a surpreendê-las, especialmente em um
mundo dominado pela lógica do interesse.
Finalmente, é
importante conhecer a si mesmo, aceitar e fortalecer sua própria auto-estima,
aprendendo que nem sempre as atitudes negativas dos outros em relação a nós são
baseadas em algo que fizemos. Às vezes nem têm a ver conosco. Perceber isso nos
ajuda a nos distanciar e nos vermos com compaixão. Quem exerce sua liderança
com amor e compaixão, ganha autoridade e liberdade.
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