Frutas, cereais e vegetais sem agrotóxicos teriam menos metais tóxicos e resíduos de pesticidas do que equivalentes não orgânicos
Frutas, cereais e vegetais orgânicos têm mais antioxidantes e menos metais tóxicos e resíduos de pesticidas do que os seus equivalentes não-orgânicos, revelou o mais amplo estudo na área até o momento, um compilado de 343 pesquisas liderado pela Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
No que afetam a dieta nossa de cada dia, os antioxidantes adicionais significam que a simples troca para frutas, vegetais e cereais orgânicos equivaleria a acrescentar uma ou duas porções diárias desses alimentos. Os orgânicos apresentaram uma concentração entre 19% a 69% superior de antioxidantes, que vêm sendo ligados à redução dos riscos de doenças crônicas, como as cardiovasculares e as neurodegenerativas, além de alguns tipos de câncer. Os benefícios à saúde, entretanto, ainda não foram comprovados.
Em média, foi observada, nos orgânicos, uma concentração 48% menor de cádmio, metal pesado que produz efeitos tóxicos, e os vegetais convencionais apresentaram quatro vezes mais chances de conter resíduos de pesticidas.
Essa é a comparação mais extensa feita até hoje da composição de alimentos orgânicos em relação aos produzidos de maneira convencional. De acordo com o líder do estudo, Carlo Leifert, a descoberta "constitui uma importante contribuição às informações disponíveis atualmente para os consumidores, que até agora eram confusas e, em muitos casos, conflitantes".
Os resultados contradizem um estudo de 2009 da agência reguladora de alimentos britânica, a FSA, que não havia encontrado benefícios nutricionais significativos nos orgânicos. A pesquisa da FSA se baseou em 46 publicações sobre cereais, carnes e produtos lácteos, contra as 343 publicações do mundo inteiro, revisadas por pares e reunidas na análise da Universidade de Newcastle, que foi publicada no British Journal of Nutrition.
- A principal diferença dos dois estudos é o tempo. A pesquisa na área demorou a deslanchar, e agora temos muito mais dados do que tínhamos cinco anos atrás - disse Leifert, professor de Agricultura Ecológica na universidade.
- Nossos resultados são altamente relevantes e vão ajudar tanto cientistas quanto consumidores a se posicionarem frente a informações geralmente conflitantes sobre a densidade de nutrientes dos orgânicos e de alimentos vegetais convencionais - afirmou Charles Benbrook, professor da Universidade do Estado de Washington que participou do estudo.
Embora silencie em relação aos benefícios à saúde, a pesquisa confirma a expectativa de que, sem agrotóxicos, os vegetais produziriam mais antioxidantes, já que muitos servem justamente como um mecanismo de defesa natural das plantas contra pragas e doenças. A agricultura orgânica, ao eliminar o uso de fertilizantes e pesticidas, apresenta, entre as vantagens, a menor degradação do solo e dos rios, embora produza colheitas menos fartas, o que pode implicar no preço.
Dados de 2013 do governo federal indicam que o número de produtores orgânicos individuais no Brasil ultrapassa os 6,7 mil, sendo que existem 10 mil unidades de produção com mais de um agricultor. A maior concentração de produtores está no Nordeste, com quase 3 mil deles e 3,1 mil unidades cadastradas, seguido pelo Sul, com 1,9 mil e 3,1 mil unidades.
Mas o volume de pesquisas sobre o assunto ainda é escasso. De acordo com José Pedro Santiago, engenheiro agrônomo que é diretor da IBD, uma das maiores certificadoras de orgânicos do país, essa é uma necessidade para que os produtos se tornem menos elitistas, fato que ocorre principalmente em função dos preços de mercado:
— Essas pesquisas são raras no mundo e, ainda mais, no Brasil. Ajudam a comprovar diferenças perceptíveis de forma empírica: uma planta que recebe cargas elevadas de adubos solúveis, entre outras coisas, tem de ser diferente de uma criada no ritmo da natureza.
A lei que regula a produção orgânica no Brasil abrange desde temas trabalhistas aos ambientais e sociais. Segundo o Projeto Organics Brasil, após crescimento de 22% em 2013, o mercado de produtos orgânicos deve crescer cerca de 35% neste ano.
Por que isso é importante?
Os antioxidantes são associados à redução dos riscos de doenças crônicas, como cardiovasculares e neurodegenerativas (controle dos níveis de colesterol e prevenção ao Alzheimer, por exemplo), além de diferentes tipos de câncer. Os benefícios à saúde, entretanto, ainda não foram comprovados em estudos conclusivos.
O estudo constatou que os orgânicos apresentaram uma concentração entre 19% e 69% superior de antioxidantes. Levando em conta uma dieta recomendada de cinco frutas e vegetais ao dia, substituí-los por produtos orgânicos equivale a comer uma ou duas porções a mais desses elementos no que se refere à presença de antioxidantes.
Os antioxidantes protegem as células dos efeitos danosos dos radicais livres. Alguns nutrientes, naturalmente presentes ou adicionados nos alimentos, possuem essa propriedade.
Eles agem inibindo a formação das moléculas, impedindo o ataque dos radicais livres e reparando as lesões causadas.
A forma de ação
As células do nosso corpo estão constantemente sujeitas à formação de radicais livres. Fatores externos como poluição e radiação solar e até nosso metabolismo, pela respiração, podem liberar essas moléculas instáveis (por terem perdido um elétron) no organismo. A missão deles é recuperar o elétron por meio das moléculas que estão ao seu redor. Os antioxidantes têm a missão de "devolver" esse elétron ao radical, para neutralizar sua ação nociva.
Onde eles têm atuação
Estudos indicam que a vitamina C protege contra danos pela exposição a radiações e medicamentos. Favorece a formação de dentes e ossos, ajuda na imunidade e na respiração celular. Eficaz contra doenças infecciosas e suplemento no tratamento de câncer. A vitamina E pode impedir danos associados a doenças específicas como Alzheimer e Parkinson. A vitamina A tem apresentado ação preventiva contra vários tipos de câncer como o de mama, estômago, bexiga e pele. Está relacionada ao desenvolvimento dos ossos e à ação protetora na pele e na mucosa. Os flavonoides previnem de doenças cardiovasculares. Tem ação anti-inflamatória, hormonal, anti-hemorrágica, antialérgica e anticâncer. As catequinas podem ser benéficas para algumas doenças como diabetes tipo 1, cardiopatias e infecções virais.
Como se fartar
Entre os nutrientes com ação antioxidante, estão beta-caroteno, vitaminas A, E e C, flavonoides, isoflavona, catequinas, carotenoides, licopeno. Veja em quais alimentos encontrá-los.
Beta-caroteno — presente em alimentos de cor amarela/laranja e vegetais verdes escuros, como mamão, cenoura, abóbora, manga, pêssego, espinafre, couve, chicória, agrião.
Vitamina E — grãos e sementes oleaginosas, como gérmen de trigo, semente de girasol, noz, amêndoa, avelã. Também encontrada em couve, abacate, alface, espinafre, carne magra, produto lácteo e óleo vegetal.
Vitamina C — frutas cítricas como laranja, limão, abacaxi, kiwi.
Flavonoides/isoflavona — suco de uva, vinho tinto, morango, noz, soja.
Carotenoides e vitamina A — legumes e frutas de cor laranja/vermelhas. Alguns carotenoides podem se converter em vitamina A, que também pode ser encontrada, além de em legumes e frutas, em alimentos de origem animal.
Licopeno — alimentos avermelhados, como tomate, melancia, goiaba.