sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Leite: tomar ou não tomar?

Enquanto as pesquisas apontam para todos os lados, o consumidor se sente perdido na hora de incluir ou não o alimento na dieta

por Jaqueline Sordi e Guilherme Justino


Leite: tomar ou não tomar? Photo Rack/Divulgação

Maior fonte de nutrientes nos primeiros meses de vida, símbolo de uma infância saudável e de uma velhice sadia, o leite durante muito tempo foi considerado parceiro fundamental de uma dieta balanceada. 

Nos últimos anos, entretanto, o homem parece não estar muito certo do papel que este
alimento tem em sua vida. Cercado de mitos, acusado de ser desnecessário e prejudicial em algumas situações, com denúncias de fraude envolvendo sua qualidade, o leite parece estar sub judice de um verdadeiro “tribunal científico”.

Enquanto as pesquisas apontam para todos os lados, o consumidor se sente
perdido na hora de optar por incluir ou não o alimento na dieta. 


Veja os principais argumentos de cada lado:

Contra:
Estudos recentes que relacionam o consumo de leite com diversas doenças — que vão desde alergias ao desenvolvimento do câncer de mama e de próstata – são os principais argumentos de especialistas e consumidores que defendem a restrição ou até a eliminação da bebida do cardápio.

Conforme o nutricionista e farmacêutico Gabriel de Carvalho, introdutor da nutrição funcional no Brasil, enquanto o leite materno é um alimento completo e importante na
formação da massa óssea de crianças, o leite de vaca não apresenta os mesmos
benefícios, e, segundo sua experiência clínica, está associado a distúrbios em diversas partes do corpo.

— Faço testes com todos os meus pacientes e, para a maioria, recomendo eliminar o leite do cardápio. Isso não é um modismo, é o resultado de novas descobertas científicas que promovem mudanças no comportamento alimentar. Infelizmente, o leite faz mal para muitas pessoas — relata.

Estudos indicam que cerca de 70% da população brasileira apresenta algum tipo de intolerância ao açúcar do leite. Isso ocorre pela redução na atividade da lactase, a enzima que digere esse açúcar e que se dá, na maioria das vezes, com o avanço da idade. 

Como consequência, as pessoas que consomem leite e seus derivados apresentam
sintomas como enjoo, inchaço abdominal e problemas digestivos.

Não tão debatida mas até mais comum que a intolerância à lactose, está a hipersensibilidade, ou alergia tardia às proteínas do leite. Para a nutricionista Denise Carreiro, autora de livros sobre o tema, o organismo humano tem dificuldade de digerir algumas proteínas da bebida, em especial a betalactoglobulina e a caseína, o que
pode gerar, com o consumo constante do alimento, processos inflamatórios
e doenças que, logo de cara, nem pensamos em relacionar com o leite.

— As proteínas do leite de vaca podem causar rinite, bronquite, alergias de pele e ainda outros distúrbios como agitação, ansiedade e depressão. Não existem exames bioquímicos no Brasil que avaliem esse tipo de alergia tardia aos alimentos — comenta
a especialista.
A favor
Para a nutricionista Tatiana Maraschin, chefe da Seção de Nutrição Clínica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a recomendação de retirar o leite do cardápio de todos não é apropriada, já que a bebida tem propriedades muito importantes para a alimentação, e só deve ser excluída da dieta em casos específicos.

A especialista explica que, apesar de a porcentagem de intolerantes chamar a atenção, os números não têm aumentado ao longo do tempo:

— Cada vez tem se estudado mais sobre o assunto, e os exames para detectar a intolerância têm ficado mais acessíveis, por isso os números chamam a atenção. Mas
existem diversos graus de intolerância, e muitas pessoas, mesmo que apresentem esse quadro, podem seguir consumindo determinadas quantidades de lactose, seja do leite ou de seus derivados. Elas podem, inclusive, optar por consumir um leite com baixa lactose. O principal é garantir a ingestão e absorção corretas de cálcio em cada faixa etária. 

Tatiana ressalta que o câncer é multifatorial e associá-lo ao consumo de leite é uma simplificação. Sua posição é reforçada pela nutricionista Maria Terezinha Oscar Govinatzki, presidente do Sindicato dos Nutricionistas no Rio Grande do Sul. Segundo a especialista, a importância do leite não está somente na alta quantidade de cálcio que contém — fundamental para manter a massa óssea do corpo e evitar doenças como a osteoporose na fase adulta —, mas sim na biodisponibilidade deste componente, ou seja, no quanto a pessoa consegue absorvê-lo do alimento.

— O leite é um alimento completo, rico em nutrientes essenciais com enorme número de estudos científicos e epidemiológicos que comprovam o seu benefício para todas as faixas etárias. Ele protege o organismo prevenindo uma série de patologias comprovadamente — resume Maria Terezinha.
rccdebelojardim.blogspot.com.br


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