"De vez em quando vemos
notícias, que nos entristecem, de mulheres que dão à luz e em seguida abandonam
seus bebês… no hospital, na rua, em sacolas, nas portas de casas, até no lixo…
Se você é como eu,
presumo que também fica se questionando: “Por que isso ocorre?”, ou “Qual a
real razão que leva uma mulher a não sentir compaixão por seu bebê?”
Cheguei a uma conclusão,
ainda que não definitiva: Todo bebê precisa ser adotado no coração de sua mãe.
Se esse “clique” não acontece, a mulher apenas gera… e assim, a missão dela
acaba sendo a de proporcionar a uma outra mulher a dádiva de ser mãe. Repare
que até mesmo um filho adotivo não será acolhido verdadeiramente se for só
adotado judicialmente. O papel sozinho, as palavras impressas num documento,
não vão acionar o “clique”. Repito: todo filho, biológico ou não, precisa ser
adotado no coração da mãe. Esperamos que esse “clique”, vindo de Deus, aconteça
naturalmente. A sociedade espera por isso. Talvez até a própria mulher tenha
essa expectativa. Mas por motivos diversos, que não cabem a mim julgar, pode
ocorrer que esse clique não funcione.
Dentro desse tema,
comecei a refletir “ Por que será que, lá no íntimo, eu tenho essa convicção de
que sou uma filha adotada no coração da minha mãe?”
Não é porque ela me
alimentou, vestiu, penteou, lavou minhas roupas, ensinou, financiou meus gostos
e cuidou de mim quando adoeci.
Nem é porque os
melhores anos da sua juventude ela doou de bom grado a mim.
Tampouco é porque
herdei o timbre da sua voz, o formato de seus olhos, sua morenice e seus
quadris.
Não é porque ela me
livrou das vezes em que eu me trancava no banheiro e não sabia sair.
Nem é porque me
socorreu quando fui atropelada.
Não, não é porque a sua
generosidade transcende todo o meu entendimento.
Também não, não é
porque adotou meu marido como um filho e a minha filha como uma caçula extra.
Tudo isso foi
importante e bem feito por ela, porém, não vamos apenas riscar o verniz. Existe
mais debaixo da superfície. Muito mais.
Eis alguns motivos
inegáveis pelos quais eu sei que sou sua filha não só de carne, mas também do
coração:
É porque me surpreendo
repetindo à minha filha as mesmas frases que minha mãe me dizia na minha
infância.
É porque me encontro na
urgência de ensinar à minha filha tudo o que sei. E muito do que sei, óbvio,
veio da minha mãe: minha primeira professora.
É porque eu sinto que
os cabelos brancos que coroam a cabeça dela — e começam a faiscar na minha —
são uma chamada do ciclo da vida à responsabilidade sublime de tentar cuidar
dela tão bem como ela cuidou de mim (e sei, com certo pesar, que jamais poderei
retribuir todo esse cuidado na mesma medida).
É porque sua fé e
muitos dos seus pontos de vista sobre a vida se fixaram em mim como um legado
que atravessará gerações.
É porque sei que posso
contar com ela, mesmo estando longe. Se eu a chamar, ela dará um jeito de se
fazer presente.
É porque ela me olha
com os olhos de misericórdia, que sabem que eu não sou flor que se cheire, mas
me aceita mesmo assim.
É porque eu penso que,
se eu conseguir ser para minha filha apenas metade do que minha mãe foi e tem
sido pra mim, isso já fará de mim uma mãe maravilhosa.
“Mami”, obrigada por
não ter se contentado só em me dar à luz, mas por ter me adotado em seu coração!
Te amo!
A cozinha era onde ela
passava boa parte do dia, nos anos 80, na Terra da Garoa. Em cima do seu fogão
esmaltado vermelho sempre havia reluzentes panelas areadas com esmero, contendo
a refeição para nutrir a família. Nessa cozinha paulistana, minha mãe me
ensinou a comer de tudo, a ler cadernos de receitas escritos com sua letra
arredondada, a lavar louça e a fazer a lição de casa.
Era indício certo de um
gostoso final de semana quando a famosa torta de sardinha da mamãe nascia
perfumada do forno dela. Essa torta sempre cresceu linda, com cara de pizza
caseira. Veio da minha avó carioca o hábito de fazê-la aos sábados. A tradição
passou para a minha mãe, que fazia em São Paulo , hoje eu faço em Curitiba e
ensino a você a receita que minha filha também fará — sabe-se lá em qual
cidade…
A sardinha, por ser
barata, é considerada a “prima pobre” dos peixes. Que injustiça! Ela tem
bastante ômega-3, uma gordura boa para o coração e para o cérebro. Combate o
colesterol ruim, contribui para reduzir a pressão arterial e é rica em vitamina
B12, mantendo o bom funcionamento do sistema nervoso.
Torta de Sardinha da
mamãe
- 10 colheres de sopa
de farinha de trigo (usei integral, mas minha mãe sempre usa a tradicional)
- 2 colheres de sopa de
maizena
- 2 colheres de sopa de
fermento
- 3 ovos
- 1 xíc. de óleo
- 2 xíc. de leite
Todas as colheres de
sopa devem ser com medidas “de mãe” — “fazendo morro“.
Bata os ingredientes no
liquidificador, coloque a massa em fôrma untada e enfarinhada. Faça um molho a
seu gosto com sardinhas, molho de tomate, cebola, pimentão, cheiro verde,
queijo, milho, orégano ou o que preferir. Cubra a massa com esse molho e leve
ao forno até a massa dourar nas bordas."
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