quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Receita que dá água na boca - Torta de Sardinha da Mamãe


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"De vez em quando vemos notícias, que nos entristecem, de mulheres que dão à luz e em seguida abandonam seus bebês… no hospital, na rua, em sacolas, nas portas de casas, até no lixo…

Se você é como eu, presumo que também fica se questionando: “Por que isso ocorre?”, ou “Qual a real razão que leva uma mulher a não sentir compaixão por seu bebê?”

Cheguei a uma conclusão, ainda que não definitiva: Todo bebê precisa ser adotado no coração de sua mãe. Se esse “clique” não acontece, a mulher apenas gera… e assim, a missão dela acaba sendo a de proporcionar a uma outra mulher a dádiva de ser mãe. Repare que até mesmo um filho adotivo não será acolhido verdadeiramente se for só adotado judicialmente. O papel sozinho, as palavras impressas num documento, não vão acionar o “clique”. Repito: todo filho, biológico ou não, precisa ser adotado no coração da mãe. Esperamos que esse “clique”, vindo de Deus, aconteça naturalmente. A sociedade espera por isso. Talvez até a própria mulher tenha essa expectativa. Mas por motivos diversos, que não cabem a mim julgar, pode ocorrer que esse clique não funcione.

Dentro desse tema, comecei a refletir “ Por que será que, lá no íntimo, eu tenho essa convicção de que sou uma filha adotada no coração da minha mãe?”

Não é porque ela me alimentou, vestiu, penteou, lavou minhas roupas, ensinou, financiou meus gostos e cuidou de mim quando adoeci.

Nem é porque os melhores anos da sua juventude ela doou de bom grado a mim.

Tampouco é porque herdei o timbre da sua voz, o formato de seus olhos, sua morenice e seus quadris.

Não é porque ela me livrou das vezes em que eu me trancava no banheiro e não sabia sair.

Nem é porque me socorreu quando fui atropelada.

Não, não é porque a sua generosidade transcende todo o meu entendimento.

Também não, não é porque adotou meu marido como um filho e a minha filha como uma caçula extra.

Tudo isso foi importante e bem feito por ela, porém, não vamos apenas riscar o verniz. Existe mais debaixo da superfície. Muito mais.

Eis alguns motivos inegáveis pelos quais eu sei que sou sua filha não só de carne, mas também do coração:

É porque me surpreendo repetindo à minha filha as mesmas frases que minha mãe me dizia na minha infância.

É porque me encontro na urgência de ensinar à minha filha tudo o que sei. E muito do que sei, óbvio, veio da minha mãe: minha primeira professora.

É porque eu sinto que os cabelos brancos que coroam a cabeça dela — e começam a faiscar na minha — são uma chamada do ciclo da vida à responsabilidade sublime de tentar cuidar dela tão bem como ela cuidou de mim (e sei, com certo pesar, que jamais poderei retribuir todo esse cuidado na mesma medida).

É porque sua fé e muitos dos seus pontos de vista sobre a vida se fixaram em mim como um legado que atravessará gerações.

É porque sei que posso contar com ela, mesmo estando longe. Se eu a chamar, ela dará um jeito de se fazer presente.

É porque ela me olha com os olhos de misericórdia, que sabem que eu não sou flor que se cheire, mas me aceita mesmo assim.

É porque eu penso que, se eu conseguir ser para minha filha apenas metade do que minha mãe foi e tem sido pra mim, isso já fará de mim uma mãe maravilhosa.

“Mami”, obrigada por não ter se contentado só em me dar à luz, mas por ter me adotado em seu coração! Te amo!

A cozinha era onde ela passava boa parte do dia, nos anos 80, na Terra da Garoa. Em cima do seu fogão esmaltado vermelho sempre havia reluzentes panelas areadas com esmero, contendo a refeição para nutrir a família. Nessa cozinha paulistana, minha mãe me ensinou a comer de tudo, a ler cadernos de receitas escritos com sua letra arredondada, a lavar louça e a fazer a lição de casa.

Era indício certo de um gostoso final de semana quando a famosa torta de sardinha da mamãe nascia perfumada do forno dela. Essa torta sempre cresceu linda, com cara de pizza caseira. Veio da minha avó carioca o hábito de fazê-la aos sábados. A tradição passou para a minha mãe, que fazia em São Paulo , hoje eu faço em Curitiba e ensino a você a receita que minha filha também fará — sabe-se lá em qual cidade…

A sardinha, por ser barata, é considerada a “prima pobre” dos peixes. Que injustiça! Ela tem bastante ômega-3, uma gordura boa para o coração e para o cérebro. Combate o colesterol ruim, contribui para reduzir a pressão arterial e é rica em vitamina B12, mantendo o bom funcionamento do sistema nervoso.


__Torta
Torta de Sardinha da mamãe

- 10 colheres de sopa de farinha de trigo (usei integral, mas minha mãe sempre usa a tradicional)

- 2 colheres de sopa de maizena

- 2 colheres de sopa de fermento

- 3 ovos

- 1 xíc. de óleo

- 2 xíc. de leite

Todas as colheres de sopa devem ser com medidas “de mãe” — “fazendo morro“.

Bata os ingredientes no liquidificador, coloque a massa em fôrma untada e enfarinhada. Faça um molho a seu gosto com sardinhas, molho de tomate, cebola, pimentão, cheiro verde, queijo, milho, orégano ou o que preferir. Cubra a massa com esse molho e leve ao forno até a massa dourar nas bordas."


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