quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Feminilidade: o que é e como adotá-la como mulher moderna


Maëlys Delvolvé


O "gênio feminino" é algo que todas as mulheres possuem

Em seu livro My Body Doesn’t Belong to You, Marianne Durano, professora de filosofia e mãe de dois filhos, denuncia a violência tecnológica e médica sofrida pelas mulheres de nossa época.
Ela discute tópicos importantes, como práticas ginecológicas abusivas, pílula contraceptiva, gravidez vista como uma doença, locais de trabalho inadequados, tecnologia reprodutiva assistida e barriga de aluguel.

Mas este livro não é apenas um inventário de todas as intervenções tecnológicas atuais que alienam uma mulher de seu corpo. Por meio de seu testemunho pessoal como mulher e mãe, Marianne Durano propõe maneiras de ajudar as mulheres a recuperar seus corpos, nos contextos pessoal, social e político. Essas propostas, fundamentadas em um pensamento filosófico sólido, são a verdadeira força do livro.

Como podemos valorizar o corpo feminino em uma sociedade que busca negar suas características específicas? A resposta de Marianne Durano é simples: deixando de ver uma mulher como um homem mais fraco. No último capítulo de seu livro, a autora explica como nossa sociedade foi influenciada por uma filosofia que, de Aristóteles a Simone de Beauvoir, mostra desprezo pelo corpo feminino ou simplesmente o ignora.

Em resposta a essa rejeição histórica, Durano propõe o corpo feminino, com todas as suas características particulares, como sujeito próprio da reflexão filosófica. Isso requer o reconhecimento de que o corpo de uma mulher é diferente do de um homem, porque pode acolher a vida. O potencial para a maternidade não é insignificante. O corpo feminino deve ser considerado um corpo materno, um lugar de onde brota a vida.

Para Durano, a maternidade é uma característica fundamental do corpo feminino. Ela denuncia a ideia hierárquica de que a masculinidade tem precedência e que as mulheres devem negar sua feminilidade para se parecerem mais com os homens, alcançando assim a igualdade utópica. Reconhecer e valorizar a incrível capacidade de uma mulher de acolher a vida é essencial para ajudar as mulheres a abraçar sua feminilidade.

Autoconhecimento e autoaceitação

Como podemos impedir que nosso corpo seja apropriado por laboratórios farmacêuticos e um sistema médico invasivo? Aprendendo a conhecer a nós mesmas e a ouvir nossos corpos sem sufocá-los com hormônios. Para conseguir isso, Marianne Durano pede melhores informações sobre métodos naturais de controle de natalidade, que dependem do conhecimento da mulher sobre seus ciclos.

Muitas vezes apresentados como ineficazes e obsoletos, esses métodos são de fato muito confiáveis ​​se forem bem compreendidos e praticados. Muitas organizações oferecem cursos sobre esses métodos, e vários aplicativos permitem que as mulheres acompanhem seus ciclos e anotem suas observações diárias. Aprender a conhecer e respeitar o seu corpo é uma ótima maneira de cuidar da sua fertilidade.

Estações

Compreender seu ciclo pode permitir que uma mulher reconheça como seu corpo experimenta as quatro estações do mês: inverno, fase da morte e renascimento, coincide com a menstruação; primavera, quando o corpo se prepara para a ovulação; verão, fase de plenitude que se segue à ovulação; e outono, pouco antes da próxima menstruação.

Uma mulher não segue a mesma trajetória linear que um homem em sua relação com o tempo. Seu corpo diverge naturalmente das demandas do local de trabalho atualmente definido para ser igualmente produtivo todos os dias do mês.

Para ajudar as mulheres a se orgulharem de sua feminilidade, a sociedade deve respeitar sua natureza. Segundo Marianne Durano, é necessário considerar a relação de uma mulher com o tempo como distinta da de um homem. Todo mês, ela vive uma morte e renascimento, sinais de sua fertilidade e potencial maternidade.

Gravidez

Marianne Durano também denuncia a maneira pela qual nossa sociedade vê a gravidez como uma patologia, o que pode deixar as mulheres grávidas assoladas por incertezas e angústias, às vezes até mesmo em isolamento. Como podemos evitar essa visão profundamente tendenciosa da gravidez?

Uma maneira de combater essa mentalidade é incentivar associações que apoiam mulheres grávidas. Outra é apoiar os ginecologistas que capacitam as mulheres – que não consideram a gravidez uma doença.

É importante que toda mulher grávida seja bem apoiada, inclusive após o parto. Durano destaca a importância da “quarentena” pós-parto – um período de 40 dias após o parto, durante o qual a mãe se recupera do esforço da gravidez e do parto. A importância dessas poucas semanas não deve ser negligenciada. A família e os amigos devem cercar a nova mãe com amor para ajudá-la a cuidar de si mesma e do recém-nascido.

A mudança começa em cada um de nós

Para que essas mudanças se enraízem, elas devem ser adotadas pela sociedade. Marianne Durano defende uma reorganização da sociedade a partir do lar, não das finanças. De fato, o significado original da palavra grega “oikos”, da qual derivamos “economia”, é “lar comum”. Um retorno ao lar implicaria uma apreciação renovada pelas profissões de ajuda e pela educação. Essas profissões, frequentemente ocupadas por mulheres, são frequentemente desvalorizadas.

Temos que esperar por mudanças sociais e políticas para viver plenamente nossa feminilidade? Para Marianne Durano, que define o corpo feminino como um lugar de liberdade por excelência, a mudança começa em casa, na autogovernança.

Todo atividade doméstica, como cozinhar, cuidar da casa, cuidar dos filhos, deve ser vivida como meio de reforçar a verdadeira feminilidade. Nesse sentido, as mulheres têm um papel essencial a desempenhar na formação do futuro, especificamente na manutenção do respeito à vida e na transmissão de valores às gerações mais jovens. Devemos arregaçar as mangas e abraçar nosso gênio feminino!

Nenhum comentário:

Postar um comentário