Maëlys Delvolvé
O "gênio
feminino" é algo que todas as mulheres possuem
Em seu livro My Body
Doesn’t Belong to You, Marianne Durano, professora de filosofia e mãe de dois
filhos, denuncia a violência tecnológica e médica sofrida pelas mulheres de
nossa época.
Ela discute tópicos
importantes, como práticas ginecológicas abusivas, pílula contraceptiva,
gravidez vista como uma doença, locais de trabalho inadequados, tecnologia
reprodutiva assistida e barriga de aluguel.
Mas este livro não é
apenas um inventário de todas as intervenções tecnológicas atuais que alienam
uma mulher de seu corpo. Por meio de seu testemunho pessoal como mulher e mãe,
Marianne Durano propõe maneiras de ajudar as mulheres a recuperar seus corpos,
nos contextos pessoal, social e político. Essas propostas, fundamentadas em um
pensamento filosófico sólido, são a verdadeira força do livro.
Como podemos valorizar
o corpo feminino em uma sociedade que busca negar suas características
específicas? A resposta de Marianne Durano é simples: deixando de ver uma
mulher como um homem mais fraco. No último capítulo de seu livro, a autora
explica como nossa sociedade foi influenciada por uma filosofia que, de
Aristóteles a Simone de Beauvoir, mostra desprezo pelo corpo feminino ou
simplesmente o ignora.
Em resposta a essa
rejeição histórica, Durano propõe o corpo feminino, com todas as suas
características particulares, como sujeito próprio da reflexão filosófica. Isso
requer o reconhecimento de que o corpo de uma mulher é diferente do de um
homem, porque pode acolher a vida. O potencial para a maternidade não é
insignificante. O corpo feminino deve ser considerado um corpo materno, um
lugar de onde brota a vida.
Para Durano, a
maternidade é uma característica fundamental do corpo feminino. Ela denuncia a
ideia hierárquica de que a masculinidade tem precedência e que as mulheres
devem negar sua feminilidade para se parecerem mais com os homens, alcançando
assim a igualdade utópica. Reconhecer e valorizar a incrível capacidade de uma
mulher de acolher a vida é essencial para ajudar as mulheres a abraçar sua
feminilidade.
Autoconhecimento e
autoaceitação
Como podemos impedir
que nosso corpo seja apropriado por laboratórios farmacêuticos e um sistema
médico invasivo? Aprendendo a conhecer a nós mesmas e a ouvir nossos corpos sem
sufocá-los com hormônios. Para conseguir isso, Marianne Durano pede melhores
informações sobre métodos naturais de controle de natalidade, que dependem do
conhecimento da mulher sobre seus ciclos.
Muitas vezes
apresentados como ineficazes e obsoletos, esses métodos são de fato muito
confiáveis se forem bem compreendidos e praticados. Muitas organizações
oferecem cursos sobre esses métodos, e vários aplicativos permitem que as
mulheres acompanhem seus ciclos e anotem suas observações diárias. Aprender a
conhecer e respeitar o seu corpo é uma ótima maneira de cuidar da sua
fertilidade.
Estações
Compreender seu ciclo
pode permitir que uma mulher reconheça como seu corpo experimenta as quatro
estações do mês: inverno, fase da morte e renascimento, coincide com a
menstruação; primavera, quando o corpo se prepara para a ovulação; verão, fase
de plenitude que se segue à ovulação; e outono, pouco antes da próxima
menstruação.
Uma mulher não segue a
mesma trajetória linear que um homem em sua relação com o tempo. Seu corpo
diverge naturalmente das demandas do local de trabalho atualmente definido para
ser igualmente produtivo todos os dias do mês.
Para ajudar as mulheres
a se orgulharem de sua feminilidade, a sociedade deve respeitar sua natureza.
Segundo Marianne Durano, é necessário considerar a relação de uma mulher com o
tempo como distinta da de um homem. Todo mês, ela vive uma morte e renascimento,
sinais de sua fertilidade e potencial maternidade.
Gravidez
Marianne Durano também
denuncia a maneira pela qual nossa sociedade vê a gravidez como uma patologia,
o que pode deixar as mulheres grávidas assoladas por incertezas e angústias, às
vezes até mesmo em isolamento. Como podemos evitar essa visão profundamente
tendenciosa da gravidez?
Uma maneira de combater
essa mentalidade é incentivar associações que apoiam mulheres grávidas. Outra é
apoiar os ginecologistas que capacitam as mulheres – que não consideram a
gravidez uma doença.
É importante que toda
mulher grávida seja bem apoiada, inclusive após o parto. Durano destaca a
importância da “quarentena” pós-parto – um período de 40 dias após o parto,
durante o qual a mãe se recupera do esforço da gravidez e do parto. A
importância dessas poucas semanas não deve ser negligenciada. A família e os
amigos devem cercar a nova mãe com amor para ajudá-la a cuidar de si mesma e do
recém-nascido.
A mudança começa em
cada um de nós
Para que essas mudanças
se enraízem, elas devem ser adotadas pela sociedade. Marianne Durano defende
uma reorganização da sociedade a partir do lar, não das finanças. De fato, o
significado original da palavra grega “oikos”, da qual derivamos “economia”, é
“lar comum”. Um retorno ao lar implicaria uma apreciação renovada pelas
profissões de ajuda e pela educação. Essas profissões, frequentemente ocupadas
por mulheres, são frequentemente desvalorizadas.
Temos que esperar por
mudanças sociais e políticas para viver plenamente nossa feminilidade? Para
Marianne Durano, que define o corpo feminino como um lugar de liberdade por
excelência, a mudança começa em casa, na autogovernança.
Todo atividade
doméstica, como cozinhar, cuidar da casa, cuidar dos filhos, deve ser vivida
como meio de reforçar a verdadeira feminilidade. Nesse sentido, as mulheres têm
um papel essencial a desempenhar na formação do futuro, especificamente na
manutenção do respeito à vida e na transmissão de valores às gerações mais
jovens. Devemos arregaçar as mangas e abraçar nosso gênio feminino!
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