O ambiente
sócio-político-religioso do tempo de São José propiciava não só uma
diversificação efetiva, mas também uma forte discriminação disseminada pelas
diferentes camadas da sociedade.
Assim, o grupo dos
fariseus, além de primar pela busca da ostentação religiosa com uma série de
práticas marcadas por orações, purificações, normas de comportamento e pela
observância estrita da lei em todas as situações da vida pessoal, era
particularmente inimigo dos romanos e evitava todo e qualquer contato com
aqueles que não conheciam a lei ou não eram judeus. Uma sociedade dominada por
estrangeiros como esta caracterizava-se por um certo pluralismo partidário
assim, um outro grupo, formado pelos chamados zelotas, distinguia-se
particularmente pela luta contra os dominadores e, guerrilheiros como eram, não
deixavam evidentemente de sempre carregar armas nas mãos. Era um grupo isolado.
O seu "apartheid" era constituído sobretudo pelas grutas das montanhas
na região da Galiléia. Outro grupo que contribuía bastante para acentuar esta
fisionomia, secionada do povo judeu era formado pelos monges essênios, os
quais, deste o século II a.C., se constituíram em comunidade, vivendo nas
margens ocidentais do mar Morto, numa localidade que hoje conhecemos como
Quamram. Esse grupo levava a vida ascética, acompanhada por uma disciplina
muito rígida. Basta dizer que o membro da comunidade que proferisse uma
blasfêmia era automaticamente expulso do seu meio. Esses monges solitários
cultivavam o solo, consagravam o tempo ao estudo e, sobretudo, empenhavam-se em
levar uma vida muito ascética.
Não bastasse tudo isso,
ocorreu no meio deste povo um grande "racha", que fomentou uma
divisão profunda deste século X antes de Cristo, e que continua até os nossos
dias, entre os judeus e os samaritanos. Esta ferida aberta e ainda não cicatrizada
ocasionou um grande impasse na unidade desse povo. Dali por diante, a Samaria
passou a ser considerada pelos judeus uma terra maldita e seus habitantes
começaram a ser tratados como estrangeiros e pagãos, odiados e indignos de
pertencer ao povo de Israel. Para os judeus, os Samaritanos eram tidos desde
então como heréticos e impuros, pois não aceitavam mais o monte Sião como um
monte santo, mas ao contrário, escolheram o monte Guarizim como lugar santo,
onde construíram um templo, e que não deixou de representar para os judeus uma
grande afronta a Deus e, portanto, uma idolatria.
Dominados pelas
autoridades de Roma, os cidadãos hebreus, entre eles São José, tinham como
líder político Herodes, um caudilho imposto pelo poder real de Roma. Herodes
foi nomeado rei dos judeus pelo Senado romano no ano 46 a. C. Esse indumeu de
mau caráter e muito autoritário espalhou no meio do povo sofrido e desolado
inúmeras confusões e perseguições. Mandou matar todos aqueles que se mostravam
contrários à sua política, inclusive sua esposa, sua sogra e seus dois filhos.
Apesar dessas atrocidades e das inúmeras injustiças que cometeu
arbitrariamente, os anos de seu governo transcorreram num clima de relativa
estabilidade política e de prosperidade, o que fez com que lhe fosse atribuído o
título de político astuto e administrador hábil.
Era justamente nesse
ambiente instável, hostil e opressor que São José, alimentado por sua religião
e fé inabalável em seu Deus, esperava, como os demais cidadãos deste povo , a
libertação através de um grande acontecimento, prometido por Deus ao longo dos
séculos e anunciado pela boca dos profetas, na pessoa do Messias.
Embora fosse
desconhecido e ignorado nesse ambiente tenso, São José não passava
desapercebido aos olhos de Deus, pois se fazia mister que a estada do Messias
prometido no meio desse povo tivesse os préstimos de um homem magnânimo como
ele, a tal ponto que o Filho de Deus o preferisse entre todos os grandes da
terra, para revestir-se da sua filiação e assumir a sua condição humana e social.
Considerando toda a
problemática latente na sociedade de José, podemos concluir que havia poucas
possibilidades de desenvolvimento para seus membros, com exceção é claro, de
alguns poucos privilegiados. Além do mais, este povo não se distinguia por riquezas
de bens materiais, levando em consideração que era explorado pelos dominadores
romanos e o solo onde habitava era pobre, como o é até hoje, e desprovido de
recursos naturais. A escassez de chuvas resultante das condições climáticas, a
técnica agrícola rudimentar e a dependência de muitas coisas, aliada a outros
fatores, influíam profundamente na precariedade das condições econômicas e
sócio-políticas do povo. A classe rica da Palestina, devido às suas
possibilidades, tinha uma abertura acentuada para a civilização: conhecia e
apreciava o teatro, o belo e a literatura, e também conhecia e praticava
esportes como o lançamento de dardos, a corrida, a maratona, a luta etc. À
classe pobre, da qual José fazia parte, não restava outra alternativa senão trabalhar
e sofrer privações, explorada pela exorbitância dos impostos cobrados pelos
romanos.
O regime alimentar da
classe pobre era muito simples, como era, aliás as normas alimentares dos
antigos hebreus. Eles faziam duas refeições por dia, uma de manhã e outra , a
principal, bem a tardezinha.
O pão era o alimento da
segunda refeição, pois devia constituir um luxo na mesa de José, assim como na
de todos os pobres, na primeira refeição. Quase não comiam carne, mas em
compensação, não lhes faltavam frutas como tâmaras, muito comum naquele clima,
e também romãs e figos. Não faltavam óleo e vinho, leite, ovos e peixes
pescados no lago de Genesaré. Aliás, a existência desse lago, também conhecido
pelos judeus como mar da Galiléia devido à sua extensão e profundidade, é
elemento que propicia uma beleza indescritível para quem o visita. A presença
desse lago, tornou toda aquela religião um solo fértil, onde a planta cresce e
permite qualquer tipo de vegetal, porque o clima é favorável. O historiador
Flávio Josefo, encantado com essa beleza rara, já se expressava: "Até
mesmo a noz, que aprecia terras frias, cresce ali em abundância, ao lado da
palmeira, que prefere o calor, da figueira e da oliveira, às quais convém uma
temperatura mais amena. Dir-se-ia que ali a natureza se divertiu, colocando os
contrastes lado a lado."
Não havia nada de
luxuoso ou aparatoso na casa de um judeu pobre. Com exceção de Jerusalém e de
alguns outros pontos estratégicos para os romanos na Palestina, não havia
moradias luxuosas. As casas eram muito simples, construídas com paredes de
pedras calcárias ou com tijolos de barro cozido ao sol e cobertas com tetos de
barro amassado. Os moradores dormiam no chão ou em esteiras feitas
especialmente para esse fim. Por isso, uma das primeiras coisas que a
dona-de-casa fazia logo de manhã era desocupar as dependências da casa das
esteiras ou das cobertas usadas para dormir.
Como salientamos, o
povo simples vivia num ambiente marginalizador e classista. As mulheres eram as
que mais sofriam com esse tipo de opressão. Nesse contexto social, os homens
eram tudo e as mulheres não tinham voz nem vez. Eram consideradas inferiores
aos homens, limitando-se ao trabalho caseiro: cozinhavam, faziam limpeza, iam
buscar água na fonte, lavavam a roupa e nada mais. As mulheres podiam
participar das funções nas sinagogas, porém tinham lugares à parte. O mesmo
acontecia no Templo de Jerusalém, onde ocupavam os lugares situados atrás do
espaço reservado aos homens, bem próximo da praça comum, aberta ao comércio de
animais destinados ao sacrifício no próprio Templo. Nas cerimônias não lhes era
permitido usar a palavra nem tinham autoridades para ler a Lei, a
"Torá". Por esse motivo, o testemunho de uma mulher não era levado em
consideração por ninguém, e em público nenhum homem "de boa
reputação" cumprimentava uma mulher (Enquanto a mulher hebréia era
restringida neste ambiente marginalizador, só podendo sair à rua com muita
cautela, a mulher romana gozava de ampla liberdade, freqüentava lugares
públicos, ia aos jogos e aos circos, assistia aos espetáculos dos gladiadores,
estudava, sabia ler e escrever poesias, podia escolher o marido e pedir-lhe sem
inibição o divórcio, e até administrava os seus próprios bens.)
Questões para o
aprofundamento pessoal
1. Descreva o ambiente
sócio-político e religioso do tempo de José.
2. Descreva o regime
alimentar e a situação da mulher no tempo de José.
Sobre este Curso de
Josefologia:
Autor: Pe. José Antônio
Bertloin, OSJ
Contatos com autor:
pebertolin@net21.com.br
Organização do Curso e
Publicação: Centro de Espiritualidade Josefino-Marelliana (Pastoral Josefina)
Nenhum comentário:
Postar um comentário