Dependendo de sua flora intestinal, o pão feito de farinha
branca pode ser uma ideia mais interessante. É o que diz esta pesquisa
norte-americana
Por Guilherme Eler, da Superinteressante
Uma dieta que substitui a farinha branca pelos grãos
integrais vai ser sempre mais benéfica para a saúde, certo? Não
necessariamente.
Pelo menos no que diz respeito aos pães, essa relação parece
depender mais de quem come do que da composição da comida.
Algumas pessoas podem funcionar melhor comendo os pães
convencionais do que suas alternativas mais naturebas. Segundo um estudo
publicado na revista Cell Metabolism, a resposta para essa diferença está em
nossa flora intestinal.
A pesquisa contou com a participação de 20 voluntários
saudáveis, entre 27 e 66 anos. Metade deles foi desafiada a seguir à risca uma
dieta em que 25% das calorias diárias totais eram conseguidas com o consumo de
pães de farinha branca – daqueles industrializados e cheios dos conservantes,
que você pode achar facilmente no mercado.
O outro time tinha de consumir um pão especialmente
desenvolvido para o estudo, feito com farinha integral e entregue fresquinho no
conforto de cada lar.
Depois de uma semana com um dos pães, eles trocavam de dieta.
Quem consumiu a receita feita à base de grãos migrava para o grupo do pão
branco e vice-versa.
Para garantir que os resultados variassem o mínimo possível,
mesmo com os diferentes hábitos alimentares, os pesquisadores determinaram
algumas regras rígidas.
Os participantes não podiam consumir trigo de nenhuma outra
fonte, a não ser essas duas pré-estabelecidas.
O pão era a primeira coisa que eles deveriam comer no dia,
logo ao acordar, e o único alimento que podiam consumir à noite. As cobaias não
podiam, também, fazer exercícios físicos até duas horas depois de terem
ingerido os benditos pãezinhos.
Tudo isso para evitar alterações profundas na resposta
glicêmica dos pacientes – ou seja, na velocidade que os níveis de açúcar no
sangue crescem após o consumo dos alimentos.
Os carboidratos são quebrados em açúcares pela digestão, e a
insulina realiza a tarefa de levar esse açúcar para as células por meio do
sangue. É aí que eles se transformam em energia para o corpo.
Se o ato de comer um bolo de chocolate lhe dá um pico de
energia maior que comer uma maçã, você pode agradecer exatamente a esse
processo.
Os cientistas acompanharam de perto a quantidade de açúcar
presente no sangue das cobaias, para assim mapear melhor a influência de cada
pão na dieta. Eram considerados também os níveis de glicose ao acordar, a
quantidade de minerais essenciais como cálcio, ferro e magnésio presentes no
sangue, colesterol, e também enzimas do fígado e rins.
Além de todas essas métricas, outro ponto chave para a
análise do impacto de cada pãozinho era o comportamento da flora intestinal – o
conjunto de bactérias que habitam nosso sistema digestivo e se mantêm dedicadas
na tarefa de retirar o máximo de nutrientes dos alimentos que consumimos.
No entanto, nenhum desses fatores se comportou da forma que
os cientistas previam. “A descoberta inicial, que vai na mão totalmente oposta
ao que esperávamos, foi não haver diferenças significantes ”, disse Eran Segal,
uma das autoras do estudo, ao jornal The Guardian. Assim, comer o pão normal ou
o integral, no fim das contas, não pareceu causar grandes diferenças nos
minerais absorvidos, nas enzimas nem no colesterol.
O que não quer dizer que a reação aos pães era totalmente
igual. Na verdade, o que os cientistas perceberam é que a resposta glicêmica de
metade do grupo foi melhor com o pão normal.
A outra metade reagiu melhor ao integral. A única diferença
que encontraram entre os grupos estava na flora intestinal: parte deles tinha
bactérias melhor adaptadas ao açúcares do pão comum. Já no outro grupo, essas
bactérias preferiram a dieta com o pãozinho integral.
É claro que uma dieta baseada em pãezinhos não é lá a melhor
saída para cumprir a cota de carboidratos. Da mesma forma, os pães de grãos
podem ser uma bela fonte de minerais, vitaminas e outros nutrientes que você
não encontra na receita comum, de farinha branca.
O que o estudo mostra é que olhar para suas próprias demandas
pode ser mais interessante. Antes de optar pelo que dizem ser mais saudável,
portanto, vale descobrir qual deles faz mais seu tipo – ou melhor, o que agrada
mais as bactérias que moram aí no seu intestino.
Este conteúdo foi originalmente publicado no site da
Superinteressante.
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