Na crise que estamos muito se houve dizer: “Só por
Deus”. Só por Deus podemos mesmo, superar tantos obstáculos, que pessoas
egoístas e sem escrúpulos arrumam para o Brasil. Na situação que estamos não
podemos perder a esperança. Neste sentido a oração é a grande força. A
Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) convocou um dia de oração por nossa
Pátria. Vamos prolongar este dia enquanto não conseguirmos dias melhores.
O livro Grande Sertão: Veredas, romance de Guimarães
Rosa, é admirável por vários motivos. A mim chama atenção a questão teológica
que perpassa a obra. Refiro-me ao constante questionamento sobre o mistério de
Deus e a existência do mal.
Alguns trechos são memoráveis como por exemplo: “Com
Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se
resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é
burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar
– é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos
grave se descuidar um pouquinho, pois no fim da certo. Mas, se não tem
Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma!…Deus existe mesmo quando
não há. Mas o demônio não precisa existir para haver – a gente sabendo que ele
não existe, aí é que ele toma conta de tudo”. (Ed. Nova Fronteira, 36ª Ed. P.
48)
E posto que em meio ao “mistério da iniquidade”,
como chama São Paulo ao problema do mal no mundo (cf. 2Ts 2,7), existe um Deus
criador, fonte da vida e Pai de bondade, revelado por seu filho Jesus Cristo,
como viver sem falar com Ele, sem viver para Ele.
O reconhecimento da existência de Deus exige do que
acredita, entrar em contato com Ele e isto é o que se chama oração. Na
definição de Teresa D’Ávila mística espanhola e padroeira dos professores,
“orar é falar com alguém que sabemos nos amar”. Orar não é nada complicado, é
falar com Deus, pensar nele e abrir seu coração para escutá-lo. O que precisa é
querer falar com Ele e estar atento.
A oração é preceito essencial de todas as religiões
e existe até mesmo em meio aos que dizem não ter religião. Há uma percepção
difusa e universal de que a fé e a oração fazem bem para a saúde. Neste sentido
é interessante o livro do Dr. Kenneth H.
Cooper, “É melhor acreditar”. Esta obra versa sobre a importância da fé
para a saúde e a boa forma.
E aqui também, não posso deixar de lembrar o que
escreve Guimarães Rosa no mesmo romance que citei acima: “Hem? Hem? O que mais
penso, testo e explico; todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas
todas. Por isso é que se carece principalmente de religião; para se desendoidecer,
desdoidar. Reza é que sara da loucura. No geral. Isso é que é a
salvação-da-alma…(op. Cit.p.8).
Lembro-me do noticiários dos jornais, quando o Dalai
Lama ganhou o prêmio Nobel da Paz. Foram avisá-lo, ele estava em oração. Não
queria ser interrompido quando rezava. Assim, foi um dos últimos a saber que
tinha ganho o prêmio. Eis um homem que valoriza a oração.
No cristianismo a oração é essencial, é o respiro da
alma. O grande orante da Bíblia, que nos
ensina a orar é Jesus. Passava noites em oração, rezava e saia tão
transfigurado da oração que um dia, seus discípulos pediram que lhes ensinasse
a rezar. Jesus ensinou o “Pai Nosso”.
Sem a oração a pessoa está paralítica para a corrida
do Amor, permanece presa ao chão de tudo aquilo que não é Deus, não pode se
realizar.
Portanto, reze, fale com Ele, fale com Deus, Ele
está interessado em te escutar.
Por Dom Pedro Cipollini – Bispo de Santo André
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