Dom Henrique
Alguns pensam que
celebrar o Natal é comemorar o aniversário de Jesus, e chegam até a cantar
“parabéns pra você”. Mas esse nunca foi o sentir da Igreja a respeito deste
tempo litúrgico.
Alguns pensam que
celebrar o Natal é comemorar o aniversário de Jesus; alguns chegam até a cantar
“parabéns pra você”! Coisa totalmente fora de propósito, contrária ao
sentimento da Igreja e fora do sentido da celebração dos cristãos. Então, se
não celebramos o aniversário de Jesus, o que fazemos no Natal?
Antes de tudo é necessário
entender o que é a Liturgia, a Celebração da Igreja.
Vejamos. O nosso Deus,
quando quis nos salvar, agiu na nossa história. Primeiramente agiu na história
de toda a humanidade, guiando de modo secreto e sábio todos os seres humanos e
sua história. Basta que pensemos nos santos pagãos do Antigo Testamento —
santos que não pertenceram ao povo de Israel: Sto. Abel, Sto. Henoc, São
Matusalém, São Noé, São Melquisedec, São Jó, São Balaão… Nenhum destes
pertencia ao povo de Deus… e no entanto, Deus agia através deles… Depois, Deus
agiu de modo forte, aberto, intenso na história do povo de Israel, com as
palavras de fogo dos profetas, com a mão estendida e o braço potente nas obras
maravilhosas em benefício do seu povo eleito.
Finalmente, Deus agiu
de modo pleno e total, fazendo-se pessoalmente presente, em Jesus Cristo, que é
o cume, o centro e a finalidade da revelação e da ação de Deus: em Jesus, tudo
quanto Deus sonhou para nós se realizou de modo pleno, único, absoluto, completo
e definitivo! Então, o nosso Deus não se revela principalmente com
ensinamentos, com doutrinas e conselhos, mas com ações concretas e palavras
concretas de amor! E tudo isso chegou à plenitude na vida, nos gestos, palavras
e ações de Jesus Cristo!
Pois bem: são estas
obras salvíficas de Deus, realizadas de modo pleno em Jesus, que nós tornamos
presente na nossa vida quando celebramos a Santa Liturgia, sobretudo a
Eucaristia! Na força do Espírito Santo de Jesus, através das palavras, dos
gestos e dos símbolos litúrgicos, os acontecimentos do passado — todos
resumidos em Cristo: na sua Encarnação, no seu Nascimento, Ministério, Morte e
Ressurreição e no Dom do seu Espírito — tornam-se presentes na nossa vida.
Vejamos, agora, o caso
do Natal. Quando a Igreja celebra as cinco festas do Natal, ela quer celebrar
não o aniversarinho do menininho Jesus… O que ela quer fazer e faz é tornar
presente para nós, na força do Espírito Santo, a graça da vinda do Cristo!
Celebrando a liturgia do Natal, o acontecimento do passado (a Manifestação do
Filho de Deus) torna-se presente no hoje da nossa vida! Na liturgia do Natal a
Igreja não diz: “Há dois mil anos nasceu Jesus”! Nada disso! O que ela diz é:
“Alegremo-nos todos no Senhor: hoje nasceu o Salvador do mundo, desceu do céu a
verdadeira paz!” (Antífona de Entrada da Missa da Noite do Natal).
Em Jesus, tudo quanto
Deus sonhou para nós se realizou de modo pleno, único, absoluto, completo e
definitivo!
Então, celebrando as
santas festas do Natal, celebramos a Manifestação do Salvador no nosso hoje, na
nossa vida, no nosso mundo! A liturgia tem essa característica: na força do
Santo Espírito torna presente realmente, de verdade, aquele acontecimento
ocorrido no passado. Não é uma repetição do acontecimento, nem uma recordação!É,
ao invés, aquilo que a Bíblia chama de memorial, isto é, tornar presente os
atos de salvação de Deus!
Agora vejamos: a
Eucaristia é a celebração, o memorial da Páscoa do Senhor. Como é, então, que
no Natal a gente celebra a Missa, que é a Páscoa? Como é que já no Natal a
Igreja mete a celebração da Páscoa? É que a Eucaristia não é simplesmente a
celebração da paixão, morte e ressurreição de Cristo! Essa seria uma idéia
muito mesquinha, estreita! Em cada Missa é todo o mistério da nossa salvação que
se faz presente, é tudo aquilo que Deus realizou por nós, desde a criação até
agora… e tudo isso tem o seu centro em Jesus: na sua Encarnação, na sua vida e
na sua pregação, e alcança seu cume na sua morte e ressurreição, na sua
ascensão e no dom do Santo Espírito. Então, celebramos as cinco festas do Natal
celebrando a Missa, porque aí o mistério, o acontecimento da nossa salvação se
torna presente e atuante na nossa vida.
Através das palavras,
dos gestos e dos símbolos litúrgicos, os acontecimentos do passado tornam-se
presentes na nossa vida.
Voltando para casa após
a Missa do Natal, podemos dizer: “Hoje eu vi, hoje eu ouvi, hoje eu
experimentei, hoje eu testemunhei e hoje eu anuncio: nasceu para nós, nasceu
para o mundo um Salvador! Ele veio, ele não nos deixou, ele se fez nosso
companheiro de estrada!” Celebrando a Eucaristia do Natal, recebemos a graça do
Natal, entramos em comunhão com o Cristo que veio no Natal, porque recebemos no
Corpo e Sangue do Senhor o próprio Cristo que nasceu para nós, e, agora, Cristo
ressuscitado, pleno do Santo Espírito! É incrível, mas a graça do Natal chega a
nós mais do que chegou para Maria e José e os pastores e os magos. Porque eles
viram um menininho no presépio, enquanto nós o recebemos dentro de nós, seu Corpo
no nosso corpo, seu Sangue no nosso sangue, sua Alma na nossa alma, seu
Espírito no nosso espírito… e não mais um menininho frágil, com esta nossa
vidinha humana, mas o próprio Filho agora glorificado, com uma natureza humana
imortal e gloriosa, que nos transformará para a vida eterna.
Então, que neste Natal
ninguém cante parabéns para o Menino Jesus, nem fique com inveja dos pastores e
dos magos… Também para nós hoje nasceu um Salvador: o Cristo ressuscitado,
glorioso, que recebemos no seu Corpo e Sangue e cujo mistério celebramos nos
gestos, palavras e símbolos da liturgia!
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