sábado, 5 de abril de 2014

Peixes importados fisgam consumidores

Carne de origem distante como Vietnã ou Alasca é mais barata do que a produzida no Brasil

Peixes importados fisgam consumidores Lauro Alves/Agencia RBS
Abençoados por uma imensa costa de 7,3 mil quilômetros e a maior reserva de água doce do mundo, os brasileiros põem na mesa cada vez mais peixes que vêm de cantos longínquos do mundo. Somente nos últimos cinco anos, as importações do Vietnã dispararam 1.567,68%, enquanto as da China avançaram 1.096,10%.
A receita do sucesso do pescado estrangeiro no Brasil é simples, mas com uma pitada de polêmica. Mesmo vindo de longe, peixes como o panga ou a polaca, também chamada de merluza-do-alasca, chegam ao varejo muito mais baratos do que o produto nacional. No Walmart, um dos maiores grupos de supermercados com atuação no país, o quilo do filé congelado de ambos é vendido a cerca de R$ 10, enquanto a tilápia de criatórios brasileiros chega a custar R$ 25.
Capturada na América do Norte, a polaca faz ainda uma escala na China para ser processada e embalada antes ser embarcada congelada para o Brasil. A diferença no preço é explicada pela maior escala da indústria pesqueira e pelos menores custos de criação, de mão de obra nas fábricas e de tributos na Ásia.
— Outro problema é a legislação ambiental. Aqui no Brasil é muito difícil conseguir licença para criar peixes — reclama Armando Burle, presidente do Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura (Conepe).
Além da vantagem no bolso, os importados agradaram ao paladar do consumidor brasileiro, diz Maurício Almada, diretor comercial de área de açougue e peixaria do Walmart no país. Hoje, até dois terços do pescado comercializado nas lojas do grupo vêm do Exterior:
— A polaca é um peixe de carne branca, tenra, não tem espinhas e não tem gosto forte. Estranhamente, o brasileiro tem alguns hábitos como, apesar de gostar de peixe, preferir os que não têm gosto forte de peixe.
Apesar das queixas sobre a enxurrada de importados, dados do Ministério da Pesca e Aquicultura indicam que a produção de pescado no Brasil praticamente dobrou nos últimos cinco anos, chegando a 2,5 milhões de toneladas. Para a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o Brasil tem potencial para multiplicar este número por oito. O Conepe, porém, desconfia um pouco da estatística do governo federal. Com a pesca extrativa em rios e no mar cercada de cuidados, é a criação de peixes que é apontada como a principal alternativa para o aumento da produção nacional de pescado.
— A piscicultura cresceu, mas acho que basicamente estão contando melhor o peixe — ironiza Burle.
Outra boa notícia é o aumento do consumo, sinônimo de alimentação saudável. Conforme o Ministério da Pesca, no ano passado o país alcançou a marca de 14,5 quilos por habitante, 120% a mais do que uma década atrás e acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 13 quilos por pessoa.
Origem distante não assusta consumidores
A procedência remota e as dúvidas sobre o processo de criação dos peixes não são suficientes para afastar consumidores que priorizam, acima até do preço, o sabor do alimento. Panga e polaca, garante o funcionário de um supermercado na Zona Sul da Capital, têm alta procura.
Sílvio Krause, 54 anos, é um desses consumidores. O motorista de ônibus e pescador nas horas vagas conta que as duas espécies estão entre seus pescados favoritos, principalmente a polaca. Ele disse que já conhecia a origem dos produtos.
— Sempre que vou ao supermercado compro quatro, cinco pacotes. Acho muito saborosa, e o panga também — afirma Krause, que já sabia da origem dos produtos.
Nelton Rodrigues, 41 anos, reforça o coro. O corretor de imóveis também é fã do sabor da polaca, mas disse que se surpreendeu quando soube de onde vem o peixe.
— Fiquei surpreso. Eletrônicos e essas coisas já é normal que venham da China, mas peixe foi novidade para mim — comenta.
O barato e controverso panga asiático
Entre os pescados importados, nenhum é um prato tão cheio para a polêmica quanto o panga, criado no delta do Rio Mekong, no Vietnã, considerado um dos mais poluídos do mundo. Após tomar os balcões refrigerados dos supermercados brasileiros, proliferaram dúvidas sobre o risco do consumo do peixe devido à propagação de questionamento dos hábitos alimentares da espécie, métodos de criação e possível contaminação por metais pesados e bactérias.
Motivados pelas denúncias, duas missões dos ministérios da Agricultura e da Pesca foram enviadas nos últimos cinco anos ao país asiático para analisar os criatórios, tanto em tanques-rede no próprio rio quanto em fazendas de piscicultura. Após a última visita, em março de 2013, o relatório da missão opinou pela continuidade do comércio. Embora o Brasil tenha pedido ajustes nos sistemas de verificação dos órgãos oficiais vietnamitas, a conclusão foi de que os controles eram confiáveis. Em nota, o Ministério da Agricultura ressalta que o panga "é exportado para países de todo o mundo".
Integrante da missão no ano passado, Eduardo Cunha, coordenador-geral de sanidade pesqueira do Ministério da Pesca, foi ao Vietnã e assegura não ter notado qualquer irregularidade nos métodos de criação.
— Visitamos as fazendas que exportam para o Brasil. Todas tinham ração industrializada e controle de qualidade — diz.
As águas do rio também são utilizadas nos reservatórios das fazendas. A poluição do manancial, porém, não significa necessariamente que os problemas são incorporados ao peixe e à carne, sustenta Cunha.
* Colaborou Ângelo Passos

Um comentário:

  1. Amigo, infelizmente todos os peixes do planeta estão contaminados por mercurio, os de rio então. nem se fala. Parei de comer peixe há muito tempo. E ainda tem a maldita monsanto clonando salmão.

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