sábado, 7 de dezembro de 2013

Crudivorismo tem ganhado adeptos em todo o mundo

Também chamada de alimentação viva, a dieta é baseada principalmente na inclusão de frutas, verduras e legumes crus


Crudivorismo tem ganhado adeptos em todo o mundo Carlos Macedo/Agencia RBS
O procurador municipal de São Leopoldo Aldivan Camargo, 48 anos, convive há tempos com espondilite anquilosante, uma doença inflamatória crônica que afeta principalmente a coluna. A condição, que faz com que seu sistema imunológico agrida as articulações entre as vértebras, restringe seus movimentos e provoca dores intensas. 

Há aproximadamente três meses, o servidor público descobriu a chamada "alimentação viva", após buscar tratamento para seu problema em um spa. A mudança no cardápio diário transformou sua vida.

— Desde que adotei a nova dieta, as dores praticamente pararam e estou com a postura mais ereta. Inclusive a minha aparência melhorou, antes era difícil até pentear os cabelos por causa do problema na coluna — comemora Aldivan.

Baseada principalmente na inclusão de frutas, verduras e legumes crus, sementes germinadas e alimentos fermentados no dia a dia, a alimentação viva vem ganhando adeptos no Brasil e no mundo. 

Na casa da instrutora de yôga Tammy Bocaiuva Villela, 48 anos, por exemplo, só entram alimentos orgânicos e que não tenham origem animal. Além disso, quase nada do que vai para a mesa passa pelo fogão: tudo é consumido cru, com exceção do arroz ou de massas integrais servidos ocasionalmente no almoço.

— A maioria das pessoas que adere a esse tipo de alimentação faz isso para curar alguma doença. Não é o nosso caso, essa é a nossa vida, sempre foi. Noventa e cinco por cento do que a gente come é cru, ou melhor, a gente come como foi oferecido pela mãe natureza. A minha meta é comer somente alimentos crus — afirma Tammy.

O reumatologista e chefe do setor de reumatologia do Hospital São Lucas da PUCRS, Mauro Keiserman, enfatiza que a alimentação pode ser um fator importante para tratar qualquer doença, mas não o único. 

— Comer corretamente pode diminuir ou evitar uma doença, mas não curar. Nenhum alimento substitui o remédio — ressalta o especialista. 


Aldivan Camargo diz ter melhorado de dores na coluna após adotar a dieta. Foto: Carlos Macedo/ Agência RBS
A ciência do cru
Esta rejeição ao cozido encontra eco nas observações de alguns especialistas. Para a nutricionista Melissa Suarez, ela mesma adepta da prática há cerca de quatro anos, a grande maioria dos grãos, sementes e demais vegetais é mais benéfica para a saúde quando amornada até a temperatura de 47°C ou consumida in natura.

— O alimento é como a nossa pele, se a temperatura passa dos 47°C, passa a machucar, há perda de nutrientes. Um exemplo disso é o brócolis: o cálcio desse vegetal, que é tão benéfico para nossa saúde, praticamente some com o cozimento — explica a profissional.

O também nutricionista Gabriel de Carvalho, apesar de não ser um praticante da alimentação viva, concorda com ela.

— O aquecimento destrói diversas qualidades dos alimentos. Desnatura enzimas e proteínas, retirando elementos antioxidantes e anti-inflamatórios dos vegetais. Outra prática comum da alimentação viva, que é a brotação de sementes (veja como germinar ao lado), também é bastante benéfica, pois aumenta a biodisponibilidade das proteínas e minerais dos grãos — detalha ele.

Outros especialistas, no entanto, discordam. Para o médico nutrólogo Paulo Henkin, o cozimento de determinados alimentos é extremamente importante.

— A transformação química que acontece no alimento a partir do processo de aquecimento faz com que o intestino aproveite melhor os nutrientes. O cozimento ainda elimina toxinas presentes em algumas verduras e legumes, como o feijão, por exemplo. Além do mais, comendo apenas comida crua, de onde a pessoa vai retirar energia, se a maioria dos carboidratos têm de ser cozidos? — contesta Henkin.

Sem radicalismos
Apesar da discordância, os três especialistas têm um argumento em comum: o mais importante para se atingir uma alimentação saudável é a adoção de uma dieta com muita variedade. É o que também pensa o cirurgião Alberto Peribanez Gonzalez, autor do livro Lugar de Médico é na Cozinha e outro entusiasta da alimentação viva.

— Se você conseguir alcançar 80% de alimentação viva, de origem crua, na sua dieta, já estará fazendo um bem enorme para o seu organismo e o meio ambiente. Os outros 20% podem não ser vivos. Recomendo uma alimentação totalmente vegetariana, mas os gaúchos, por exemplo, podem continuar comendo a sua carne, desde que não seja de origem química e não seja misturada com doces, pães e gorduras. Radicalismo não leva a nada, é necessário respeitar as culturas e as tradições de cada população — afirma o médico.

Mesmo assim, Aldivan Camargo está tão satisfeito com os resultados obtidos a partir da alimentação viva que pretende ir mais além e eliminar todos os alimentos cozidos de sua dieta.

— Consegui até reduzir o número de medicamentos para a espondilite. Então, melhorou muito. Hoje estou em uma transição ainda, cortei a carne, o glúten, a lactose e o refrigerante, mas ainda consumo alimentos cozidos, como arroz e feijão. O próximo passo é ir para a alimentação totalmente crua — estabelece o procurador.

Um dia de alimentação viva

Desjejum
>> Um copo de 250ml de suco verde, que você pode fazer com maçã, pepino, cenoura, inhame, abóbora e castanhas ou sementes germinadas de girassol, alpiste ou trigo. É só colocar tudo no liquidificador e está pronto. A bebida dá uma "reinicialização no sistema" logo cedo

Meio da manhã
>> Bolachas ou pães feitos com trigo germinado, cracker de linhaça e pasta de girassol, grão de bico, macadâmia ou amendoim, com qualquer suco de fruta

Almoço
>> Caldeirada de frutos do mato, que pode ser feita de diferentes fromas. Uma delas é combinar cebola, milho verde, mandioquinha, trigo germinado, acelga, alho poró, repolho, brócolis, couve-flor, shiitake, curcuma (ou açafrão da terra), castanha ralada, agrião, azeitona e pimenta dedo-de-moça. Você coloca tudo em uma panela de ferro ou de pedra pré-aquecida, amassando a mistura com as mãos usando missô (composto japonês de sal, arroz e soja) e azeite de oliva para temperar e amornar. A entrada pode ser uma salada temperada com cremes ou molhos nutritivos. Aqui, pode entrar algo de carnes e alimentos cozidos, como arroz, feijão, queijo orgânico e frango ou ovo caipira

Tarde
>> Frutas e sucos

Noite
>> O mais indicado é uma sopa, pois não é bom ingerir alimentos sólidos antes de dormir. Ela pode ser de abacate, abobrinha, tomate, cenoura, couve-flor, repolho, trigo e gergelim germinados, jiló, algas e azeitona. Tudo vai para o liquidificador, acrescido de água. Se preferir, pode amornar em uma panela de pedra ou de ferro antes do consumo. Além de ser anticancerígena, ainda contribui para o bom funcionamento gastrointestinal.

Fonte: cirurgião Alberto Peribanez Gonzalez, autor de Lugar de Médico é na Cozinha
Como germinar sementes
 >> O primeiro passo é você pegar uma quantidade qualquer de sementes (que podem ser de trigo, gergelim, girassol etc.) e colocar todas de molho na água durante oito horas. O mais comum é fazer isso à noite

>> Depois, você coa as sementes em uma peneira e deixa elas ali por outras oito horas, em um ambiente arejado. A água em que elas estavam antes tem de ser descardata, pois estará cheia de toxinas que as sementes irão liberar durante o processo de germinação

>> Após essas 16 horas, as sementes estarão germinadas. Como saber? Elas ficarão bem macias e, em alguns casos, os brotos poderão ser vistos. Qualquer semente, quando germinada, tem mais proteínas, enzimas, vitaminas e minerais

Diferenças
— Vegetarianismo: Dieta que exclui da alimentação as carnes (seja de gado, frango, peixe etc.) e dá maior ênfase à presença de vegetais, com muita variedade. Pode incluir produtos de origem animal, como o ovo e o leite

— Veganismo: Similar ao vegetarianismo, com a única diferença de que exclui, além das carnes, qualquer outro produto que tenha origem animal — o que inclui o ovo, o leite e até mesmo o mel de abelha. Vai além de uma simples dieta, já que seus praticantes excluem produtos de origem animal inclusive do vestuário — roupas de couro são proibidas, por exemplo

— Crudivorismo ou alimentação viva: Prática alimentar que enfatiza o consumo de grãos germinados, brotos, alimentos fermentados, frutas, verduras, legumes e nozes — tudo fresco e, de preferência, orgânico. Nela, os alimentos podem ser consumidos in natura ou amornados até a temperatura de 47ºC. Assim como o veganismo, a alimentação viva não inclui nada que tenha origem animal, mas pode ser integrada a uma dieta tradicional de alimentos cozidos e mesmo carnes, para que a pessoa tenha mais saúde



REDAÇÃO: ZERO HORA
Fonte: Melissa Suarez

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