Ela destinou a criança
para adoção, manteve tudo em segredo durante quase 80 anos, mas não perdeu as
esperanças de reencontrar a filha
Minka Disbrow tinha
apenas 16 anos quando, em 1928, passou pelo pior momento de sua vida. Ela e uma
amiga foram atacadas por três homens e estupradas. Grávida, Minka venceu as
dificuldades, destinou a criança para adoção, casou-se e teve outros filhos – e
guardou o segredo por 77 anos. Foi só aos 94 anos que ela contou a história aos
filhos e netos e pôde reencontrar e abraçar a sua primeira filha.
Minka vivia em uma fazenda
no estado de Dakota do Sul, nos Estados Unidos. Ela escondeu de sua mãe o que
havia acontecido, até que percebeu algumas mudanças no seu corpo. Foi então que
a mãe teve que lhe explicar como os bebês nasciam, o que a moça ainda não
sabia. Além disso, Minka foi enviada para uma residência luterana para
adolescentes grávidas até dar à luz, a fim de esconder a gravidez de sua irmã.
Ela teve uma menina, chamou-a de Betty Jane e destinou-a à adoção.
A vida continuou, Minka
casou-se, teve dois filhos e manter o segredo sobre o estupro e a filha se
tornou um hábito. Ela teve diversos empregos e viveu em várias cidades até se
estabelecer em San Clemente, na Califórnia.
No decorrer dos anos,
Minka escreveu secretamente dezenas de cartas à agência de adoção da Casa de
Misericórdia à qual ela tinha entregue Betty. Ela chegou a ter algumas
informações sobre a filha até que a direção da agência mudou e elas perderam
qualquer forma de contato.
Foi só em 2006, quase
oitenta anos depois do ocorrido, que ela contou aos seus filhos e netos o que
havia acontecido. Ela mostrou aos parentes uma fotografia em preto-e-branco da
criança, que ela manteve escondida durante todos esses anos. “Ficamos completamente
chocados”, disse Cathy LaGrow, neta de Minka, ao site TheBlaze. “Nunca
imaginaríamos que algo assim teria acontecido com a nossa avó”.
“Uma cascata de amor”
“Foi a sua fé que lhe
permitiu manter a esperança por todos esses anos de que Betty Jane estava tendo
uma vida feliz e tinha uma família unida”, disse Cathy. De fato, Betty – que
agora se chama Ruth Lee – havia se casado e tido filhos, sem nunca ter
conhecimento sobre a situação na qual foi concebida. Minka, porém, não sabia de
nada disso.
Mas Ruth, que mora em
Wisconsin, também estava atrás de informações sobre o seu passado.
Diagnosticada com problemas no coração e na vesícula biliar em 2006, ela tinha
poucas informações a dar aos médicos sobre os seus antecedentes médicos
familiares. Ela então foi atrás de informações e encontrou os arquivos de sua
adoção – recheados de cartas de Minka, que passou décadas perguntando sobre sua
filha, sem obter resposta.
“O amor que jorrou
dessas cartas foi como uma cascata de amor”, disse Ruth sobre o momento em que
descobriu o arquivo. Foi só nesse momento que ela soube que tinha sido
concebida em um estupro – Ruth pensava que seus pais tinham sido simplesmente
um casal jovem, sem recursos para criar a filha.
“Eu pensei: ‘Meu Deus
do céu, naquele tempo já havia estupros?’ Eu mal podia acreditar. Sentia muita
raiva pelo que foi feito com ela”, contou Ruth. “Com tudo que lhe aconteceu,
você percebe que ela poderia ter se tornado muito amarga. Mas isso só a fez
mais forte e com mais fé – e isso é maravilhoso”.
Minka Disbrow, Ruth Lee
e Cathy LaGrow (foto: divulgação).
Minka Disbrow, Ruth Lee
e Cathy LaGrow (foto: divulgação)
O reencontro
Com a ajuda do filho,
Ruth descobriu o telefone e o paradeiro de Minka – e se surpreendeu ao saber
que a mãe ainda estava viva. Ela tomou coragem e telefonou para a sua mãe. “Foi
muito emocionante. Ela queria saber se eu tinha tido filhos, e respondi: ‘Sim,
tenho seis’. Ela queria saber tudo sobre eles”.
Minka ficou maravilhada
ao saber que um dos seus netos era astronauta e tinha estado quatro vezes no
espaço. As duas então marcaram de se encontrar. “Choramos muito”, contou Ruth.
“Ela me deu o dom da vida e o dom da adoção”. As duas mantiveram-se em contato
até a morte de Minka, em 2014, aos 102 anos de idade.
“Foi uma experiência
tão incrível e surreal que eu ainda penso às vezes que vou acordar e tudo não
terá passado de um lindo sonho”, disse Ruth. “Nunca vi minha mãe tão feliz”,
afirmou Dianna Huhn, filha de Minka.
A neta, Cathy, escreveu
um livro contando a história da família. “The Waiting: The True Story of a Lost
Child, a Lifetime of Longing, and a Miracle for a Mother Who Never Gave Up” (“A
espera: a história real de uma criança perdida, uma vida inteira de espera e um
milagre para uma mãe que nunca desistiu”, em tradução livre) foi publicado
apenas um mês antes da morte de Minka.
Veja ao trailer do
livro com imagens do reencontro:
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