sábado, 12 de agosto de 2017

MÚSICA - Sabia que Vivaldi, autor de As Quatro Estações, era sacerdote?


ACI Digital


O lado religioso do compositor influenciou sua inigualável obra

As Quatro Estações” é uma das peças de música clássica mais famosas e foi usada como trilha sonora de filmes, comerciais, programas, entre outros. O que poucas pessoas sabem é que o compositor desta obra, o italiano Antonio Vivaldi, foi um sacerdote católico.


Para saber mais sobre a influência da vida sacerdotal de Vivaldi em sua música, CNA – Agência em inglês do Grupo ACI – entrevistou a pesquisadora britânica Micky White, especialista em tudo relacionado ao compositor famoso.

White publicou um livro intitulado “Antonio Vivaldi: Uma vida em documentos” e foi a consultora da exposição “Viva Vivaldi: O mistério das Quatro Estações”, que foi inaugurada em maio, no Museu Diocesano de Veneza (Itália), e permanecerá aberta até 2018.

Para descrever Vivaldi, a investigadora disse que “devemos pensar no Papa, que representa os sacerdotes, as coisas espirituais; e também em Jimmy Hendrix, um esplêndido guitarrista. Misturemos os dois e teremos como resultado o Vivaldi”.

A especialista assinalou que o fato de que Vivaldi fosse sacerdote e usasse o estilo musical daquela época em sua obra são duas coisas que “o separam do resto” e que “são que o fazem com que ele se destaque mais do que qualquer outro. Bach não era um sacerdote, nem Mozart ou Beethoven, mas Vivaldi sim”.

Antonio Lucio Vivaldi nasceu em Veneza, em 1678. Seu pai era um conhecido violinista naquela época e ensinou-lhe a tocar o instrumento.

Vivaldi começou a se preparar para ser sacerdote aos 15 anos e foi ordenado aos 25 anos. Pouco tempo depois, foi nomeado capelão e professor de violino de um orfanato em Veneza chamado Pio Ospedale della Pietá.
Neste orfanato, as crianças aprendiam um ofício e tinham que ir embora do local quando completassem 15 anos. As meninas recebiam uma educação musical e as mais talentosas permaneciam neste orfanato e tornavam-se membros do coral e da orquestra.

Vivaldi, conhecido como o “sacerdote vermelho” devido a cor do seu cabelo, trabalhou neste orfanato de 1703 a 1715 e depois de 1723 a 1740. Nestes últimos anos, compôs algumas das suas obras mais famosas.

Um ano depois de ter sido ordenado sacerdote, Vivaldi solicitou uma dispensa para deixar de celebrar Missa por problemas de saúde, pois desde o seu nascimento sofria de um mal grave e desconhecido, semelhante a asma. Tudo o que se sabe sobre a sua doença está na carta que Vivaldi escreveu para pedir a dispensa, indicando que sentia “um aperto no peito”.

A pesquisadora Micky White indicou que “deve ter sido muito difícil para Vivaldi ter que deixar de celebrar Missa. Deve ter sido uma decisão dele, de ninguém mais, e ele renunciou a um bom salário”.

Em relação aos rumores de que Vivaldi foi expulso do sacerdócio ou até mesmo excomungado, White indicou que estas pessoas “são ignorantes e estúpidas”, porque se alguém se remete aos fatos, esses rumores “não foram provados”.

Também indicou que a suposição de que o compositor foi expulso do orfanato em 1715 por abusar de uma menina do coral “não só não é verdade, mas também é impossível”.

Neste sentido, a especialista britânica indicou que, se isso tivesse acontecido, Vivaldi não teria voltado a trabalhar lá em 1723 e muitas meninas não teriam permanecido no coral até os 70 ou 80 anos. Inclusive, o orfanato era supervisionado por vários governadores e, se eles ficassem sabendo de um caso de abuso, Vivaldi teria sido expulso imediatamente.

White indicou que, quando começou a fazer a sua pesquisa sobre Vivaldi e começou a contextualizar a informação que havia sobre ele, “tudo fez sentido”. Também esclareceu que “a pesquisa é um tema de fatos e não de opiniões ou de ideias”.

O delicado estado de saúde de Vivaldi não foi um impedimento para que continuasse compondo e, inclusive, chegou a receber vários pedidos da Itália e da Europa, por isso viajava frequentemente.

Em 1722, mudou-se para Roma, onde foi convidado para tocar para o Papa Bento XIII, e permaneceu na cidade por três anos.

Durante sua vida, compôs cerca de 770 obras, entre elas, óperas, concertos para violino e orquestra, sonatas e música sacra. White afirmou que nas obras de Vivaldi “a música sacra está em outro nível, em comparação com as outras composições. É o império da composição que em si mesmo vem da fé”.

Entre as suas obras musicais estão um Glória, um Credo, um Stabat Mater, um Magnificat, um Dixit Dominus e um Laetatus sum, que Vivaldi compôs aos 13 anos de idade. Entretanto, White assinalou que durante os 38 anos que trabalhou no orfanato “provavelmente escreveu Missas completas”, mas, como muitas outras das suas obras, estas se perderam.

Em 1728, Vivaldi dedicou a sua composição “Opus 9” ao imperador da Áustria, Carlos VI, e o soberano ficou tão impressionado com o seu trabalho que lhe deu o título de Cavalheiro, uma medalha de ouro e o convidou a Viena, e o músico italiano se mudou para esta cidade no mesmo ano.

Entretanto, o monarca faleceu poucos anos depois da chegada de Vivaldi, de modo que o compositor ficou sem contato com a realeza e sem dinheiro. Pobre, morreu em Viena devido a uma infecção pulmonar aos 63 anos, em 1741.

White afirmou que o maior legado que Vivaldi deixou ao mundo é reduzido a uma só palavra: “música”. “A música vem dele, não sai do seu cérebro, simplesmente emana dele. É como uma cascata”, expressou.


A pesquisadora britânica manifestou que “Vivaldi poderia fazer um concerto de rock com facilidade e atrair todo o mundo. Vivaldi é inigualável, é absolutamente único”.

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