Somos uma só pessoa, composta de algo material e
imaterial. Não se trata de separar o corpo da alma, como sendo composições separáveis. Nem a morte física os separa,
pois, nossa pessoa não morre e sim se transforma com a ação de Deus, que nos
faz deixar o corpo corruptível e assumir o corpo não corruptível, fazendo com
que nossas pessoas sejam preservadas inteiras com a ressurreição (Cf. 1
Coríntios 15,42-49).
Nosso desafio, nesse tempo da peregrinação terrena,
é o de vivermos como pessoas que sabem trilhar o caminho com o objetivo de
realizar o projeto de Deus. Assim toda a
nossa personalidade se articula com suas qualidades para atingir o objetivo da
conquista da felicidade plena. Esta só se consegue quando se caminha utilizando
os próprios talentos para tornar o convívio com o semelhante e a natureza
eficaz para se implantar a vida de sentido e realização para todos. Então vai
se viver conforme o espírito, como diz Paulo: “Se viverdes segundo a carne,
morrereis, mas se, pelo espírito, matardes o procedimento carnal, então
vivereis” (Romanos 8, 13). Para isso, é preciso contar com a ação divina, que
nos faz canalizar os impulsos instintivos da carne para um bem maior. Deste
modo não seremos arrastados pelos desejos do corpo e sim conjugá-lo-emos para a
realização do ideal de vida conforme o projeto divino. Jesus o fez de forma exemplar. Por isso, Ele
se torna nosso modelo de doação de si pelo bem da humanidade, não usufruindo de
vantagens na ordem física e material. Ele mostra que o corpo deve se submeter
aos ditames do ideal de se viver para se servir e amar, promovendo o bem de
todos, mesmo com o sacrifício de si.
Quem se sujeita à lei do amor, com a ação do
Espírito Santo, humaniza-se e ajuda a
humanizar a convivência com o próximo. A carne se sujeita ao espírito, regido
por Deus.
O apóstolo Paulo fala enfaticamente: “Vivam segundo
o Espírito, e assim não farão mais o que os instintos egoístas desejam”
(Gálatas 5,16). Ele especifica, em seguida,
o que realiza ações próprias do egoísmo, como: a fornicação, a
libertinagem, a idolatria, as rivalidades, a inveja, as orgias, a bebedeira e
outros. Ao contrário, quem vive segundo o Espírito pratica o amor, a paciência,
a bondade, a fé, o domínio de si… É próprio de quem vive como pessoa íntegra
unir, na própria personalidade, o que é inerente à natureza com seus instintos
e o impulso para assumir a própria espiritualidade e imaterialidade. O
espiritual une o instinto e o impulso para o transcendente, de modo a fazer com
que a vida seja uma busca constante do bem natural unido ao sobrenatural. Corpo
e alma trabalham intrinsecamente unidos de forma a não fazer o primeiro afundar-se no puro animal e sim torná-lo
amoldado ao que realiza a pessoa humana, marcada pelo amor divino.
Quem vive conforme o projeto de Deus assume a fé
sobrenatural que o leva a confiar plenamente nele e sabe assumir também os
limites e sacrifícios da vida com inteira confiança no que Jesus ensina: “Vinde
a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e
eu vos darei descanso” (Mateus 11,28). De fato, quem se deixa conduzir pelo
Espírito de Deus nada teme, sabendo que Ele o ajuda a vencer na vida e
conquistar a própria realização, com o resultado de ter feito o melhor de si e andar pelo caminho que conduz à maior
ideal de vida.
Por Dom José Alberto Moura – Arcebispo Metropolitano
de Montes Claros, MG
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