Especialistas dizem que políticas de saúde pública devem
envolver também atividades físicas
Ana Luísa Vieira, do R7
Governo quer mudar rótulos de alimentos para facilitar
leitura das quantidades de sal, açúcar e gorduras trans
Thinkstock
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O Ministério da Saúde estuda mudar os rótulos dos alimentos
industrializados para facilitar a leitura das quantidades de sal, açúcar e
gorduras trans presentes em cada embalagem. A informação foi confirmada na
última semana pelo ministro Ricardo Barros no Ethanol Summit — evento promovido
pela UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) voltado para discussões sobre
energias renováveis.
— Nós temos um estudo da ABIA (Associação Brasileira das
Indústrias da Alimentação) para a confecção de rotulagem dos alimentos com a
sinalização como um semáforo: verde, amarelo e vermelho. O objetivo é que as
pessoas percebam, na parte frontal do rótulo — estas cores estão presentes
naquela parte da embalagem que fica de frente para o consumidor na prateleira
—, o quanto tem de sal, açúcar e gordura trans em cada alimento. Isso é uma
leitura muito fácil que vai fazer com que o consumidor perceba, com clareza, o
que está consumindo.
De acordo com Daniel Magnoni, cardiologista e nutrólogo do
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, o rótulo dos alimentos
industrializados deve se tornar uma ferramenta de educação nutricional, a partir
da qual as pessoas possam se informar melhor sobre ingredientes e dietas
equilibradas.
— Várias medidas podem ser tomadas nesse sentido para
facilitar a leitura e compreensão para todos os setores da população: é
possível aumentar o tamanho das letras nas embalagens, colocar cores que
descompliquem o entendimento. Algumas coisas precisam ser adaptadas também, as
pessoas às vezes não sabem que o "sódio" presente no rótulo é o sal;
não compreendem os quatro tipos de gordura especificados nas embalagens ou que
%VD corresponde a percentual de Valores Diários.
Entretanto, Magnoni defende que não basta adaptar as
embalagens para que a população se torne mais consciente: “É preciso ainda
promover a educação nutricional nas escolas, ter nutricionistas em postos de
saúde e tornar a preocupação com o excesso de peso e com a dieta equilibrada
uma porta de entrada para toda a atenção às condições de saúde de um
indivíduo”.
Menos açúcar nos alimentos
Segundo Ricardo Barros, o Ministério da Saúde está reunido
desde o começo do ano com profissionais de medicina, educação física e nutrição
para elaborar um plano de redução de açúcar utilizado em alimentos
industrializados. De acordo com ele, o objetivo é lançar o acordo — que envolve
bolos, achocolatados, lácteos, bebidas adoçadas e biscoitos — no segundo
semestre de 2017 e faz parte das políticas do governo para enfrentar a
crescente obesidade no Brasil. Estudo divulgado recentemente pelo Ministério da
Saúde mostra que, nos últimos 10 anos, a prevalência da obesidade na população brasileira aumentou em 60%, passando de 11,8% em 2006 para 18,9% em 2016. As
pesquisas ainda apontam que o brasileiro consome 50% a mais de açúcar do que o
recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Ainda de acordo com Barros, outra das medidas da pasta para
frear a obesidade seria acabar, em breve, com a oferta de refil de
refrigerantes em restaurantes e redes de lanchonetes no País. Segundo o
levantamento Vigitel (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças
crônicas por Inquérito Telefônico) de 2016, 16,5% da população brasileira
consome refrigerante ou sucos artificiais quase todos os dias.
— O presidente da ABIA está intermediando com as redes de
fast food e restaurantes um acordo para que não se faça mais a venda refil dos
refrigerantes, porque não é possível que nós incentivemos a população ao
consumo de bebidas açucaradas. Há estudos que mostram que as vendas em refil
aumentam em 30% o consumo de refrigerantes nas lanchonetes.
Importância da atividade física
O preparador físico Marcio Atalla pondera que, além do papel
fundamental da alimentação saudável na qualidade de vida dos brasileiros, é
necessário conscientizar a população sobre a importância dos exercícios físicos
e garantir condições para que as pessoas evitem o sedentarismo.
— O ser humano, naturalmente, poupa energia e se movimenta
apenas quando é necessário. Hoje, o brasileiro é muito condicionado às
possiblidades que o meio ambiente oferece para a movimentação: andamos muito de
elevador, escada rolante, passamos tempo em frente ao computador, etc. O
problema da obesidade, desta forma, vai além das medidas imediatistas, como
sobretaxar ou reduzir ingredientes dos produtos. São necessárias boas políticas
de saúde pública para munir as pessoas de informação.
Atalla dá o exemplo das intervenções feitas na cidade de
Jaguariúna, no interior paulista, onde o combate ao sedentarismo se deu com
caminhadas coletivas e, principalmente, com o incentivo de atividades físicas
em momentos de lazer. Segundo o profissional, ações como oficina de nutrição e
educação física, orientações clínicas e treinamento de agentes de saúde
garantiram mudanças nos hábitos de vida de 40% da população no município.
— O problema da obesidade no Brasil é profundo e envolve
educação populacional, o que não se faz da noite para o dia.
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