Rádio Vaticano
Foi publicada na manhã
de sexta-feira (01/09) a mensagem conjunta do Papa Francisco e do Patriarca
Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, para o Dia Mundial de Oração pela
Criação. Confira a íntegra:
“A narração da criação
oferece-nos uma visão panorâmica do mundo. A Sagrada Escritura revela que, «no
princípio», Deus designou a humanidade como cooperadora na guarda e proteção do
ambiente natural. Ao início, como lemos no Génesis (2, 5), «ainda não havia
arbusto algum pelos campos, nem sequer uma planta germinara ainda, porque o
Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e não havia homem para
a cultivar». A terra foi-nos confiada como dom sublime e como herança, cuja
responsabilidade todos compartilhamos até que, «no fim», todas as coisas no céu
e na terra sejam restauradas em Cristo (cf. Ef 1, 10). A dignidade e a
prosperidade humanas estão profundamente interligadas com a solicitude por toda
a criação.
Os efeitos do nosso
comportamento
«No período
intermédio», porém, a história do mundo apresenta uma situação muito diferente.
Revela-nos um cenário moralmente decadente, onde as nossas atitudes e
comportamentos para com a criação ofuscam a vocação de ser cooperadores de
Deus. A nossa tendência a romper os delicados e equilibrados ecossistemas do
mundo, o desejo insaciável de manipular e controlar os limitados recursos do
planeta, a avidez de retirar do mercado lucros ilimitados: tudo isto nos
alienou do desígnio original da criação. Deixamos de respeitar a natureza como
um dom compartilhado, considerando-a, ao invés, como posse privada. O nosso
relacionamento com a natureza já não é para a sustentar, mas para a subjugar a
fim de alimentar as nossas estruturas.
Pobres são os mais
impactados
As consequências desta
visão alternativa do mundo são trágicas e duradouras. O ambiente humano e o
ambiente natural estão a deteriorar-se conjuntamente, e esta deterioração do
planeta pesa sobre as pessoas mais vulneráveis. O impacto das mudanças climáticas
repercute-se, antes de mais nada, sobre aqueles que vivem pobremente em cada
ângulo do globo. O dever que temos de usar responsavelmente dos bens da terra
implica o reconhecimento e o respeito por cada pessoa e por todas as criaturas
vivas. O apelo e o desafio urgentes a cuidar da criação constituem um convite a
toda a humanidade para trabalhar por um desenvolvimento sustentável e integral.
Rezar para mudar o modo
de perceber o mundo
Por isso, unidos pela
mesma preocupação com a criação de Deus e reconhecendo que a terra é um bem
dado em comum, convidamos ardorosamente todas as pessoas de boa vontade a
dedicar, no dia 1 de setembro, um tempo de oração pelo ambiente. Nesta ocasião,
desejamos elevar uma ação de graças ao benévolo Criador pelo magnífico dom da
criação e comprometer-nos a cuidar dele e preservá-lo para o bem das gerações
futuras. Sabemos que, no fim de contas, é em vão que nos afadigamos, se o
Senhor não estiver ao nosso lado (cf. Sal 126/127), se a oração não estiver no
centro das nossas reflexões e celebrações. Na verdade, um dos objetivos da
nossa oração é mudar o modo como percebemos o mundo, para mudar a forma como
nos relacionamos com o mundo. O fim que nos propomos é ser audazes em abraçar,
nos nossos estilos de vida, uma maior simplicidade e solidariedade.
A quantos ocupam uma
posição de relevo em âmbito social, económico, político e cultural, dirigimos
um apelo urgente a prestar responsavelmente ouvidos ao grito da terra e a
cuidar das necessidades de quem está marginalizado, mas sobretudo a responder à
súplica de tanta gente e apoiar o consenso global para que seja sanada a
criação ferida. Estamos convencidos de que não poderá haver uma solução genuína
e duradoura para o desafio da crise ecológica e das mudanças climáticas, sem
uma resposta concertada e coletiva, sem uma responsabilidade compartilhada e
capaz de prestar contas do seu agir, sem dar prioridade à solidariedade e ao
serviço.
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