A soma de todos os afetos
Todos nós temos a
necessidade de desabafar sobre uma relação que não está indo bem ou sobre um
mal-estar que nos afetou. Porém, é preciso fazer isso da maneira correta
Se existe algo que
tenho aprendido com a idade e com o passar dos anos, é a arte de conviver. E
olha que antes de aprender, a gente erra muito, erra feio. Porém, com o tempo e
alguns enganos, vamos adquirindo um certo tipo de elegância e polidez que vão além
da educação. É algo sutil, mas que faz muita diferença, e que começa com a
capacidade de ouvir mais do que de falar, e principalmente de manter distância
das rodas de fofoca.
Quando abro a boca para
falar mal de alguém, minha energia se canaliza para a mesquinhez, para a
arrogância, para o julgamento frívolo e fútil. Essa energia ruim permanece
dentro de mim, e é com ela que irei me alimentar, trabalhar, descansar. E sem
perceber desperdiço minha vitalidade, os dons que recebi de Deus, a
possibilidade de usar a palavra para algo mais assertivo e produtivo.
A vida já é tão
complicada, já nos esforçamos tanto para vencer cada dia… que se não pudermos
ter bons pensamentos a favor das pessoas, é melhor silenciar. Silenciar é um
gesto de sabedoria, de encontro com o que é realmente importante e deve ser
levado adiante, de retomada do equilíbrio, de regeneração das mágoas e busca do
bem-estar.
Ninguém sabe o que o
futuro lhe reserva. E por mais clichê que seja, realmente “a vida dá voltas”, e
pode ser que aquilo que você tanto recriminou e condenou na vida alheia, venha
acontecer na sua própria vida.
Adoro a frase de
Fernando Pessoa que diz: “Segue o teu destino, rega as tuas plantas, ama as
tuas rosas. O resto é a sombra de árvores alheias”. Pois é assim que deve ser.
Cuide da sua vida, lide com as suas dificuldades, apare seus defeitos, aprimore
suas qualidades e cure suas mágoas ao invés de ciscar pela vida alheia, se
incomodando com que o outro faz ou deixa de fazer. Limpe seus olhos antes de
falar sobre o cisco nos olhos do outro.
Tanta coisa a ser feita
em nossa casa antes de apontarmos a sujeira na casa do vizinho! Tantas
possibilidades de nos aprimorarmos como seres humanos, como seres espirituais,
praticando a caridade, a generosidade e a compaixão, que não deveria sobrar
tempo para recriminações, julgamentos, hipocrisia e falatórios em nossa vida.
Tudo isso é desorganização, é perda de foco, é se afastar daquilo que viemos
fazer nesse mundo: amar e sermos amados.
Diariamente somos
bombardeados com ondas de indignação coletiva, e somos tentados a reproduzir
essa raiva, essa indignação, esse ressentimento. Porém, deveríamos nos proteger
dessas mensagens de ódio e segregação. Deveríamos buscar um local de silêncio
dentro de nós mesmos e novamente nos conectarmos com o que é importante, com o
que nos liga a Deus, com o que vai acrescentar algo de bom em nossa vida.
Todos nós temos a
necessidade de sermos ouvidos. De desabafarmos sobre uma relação que não está
indo bem ou sobre um mal-estar que nos afetou. Porém, é preciso fazer isso da
maneira correta, abrindo nosso coração para a pessoa certa, que irá nos ouvir
com discrição e cuidado. Isso é diferente de fofocar, de julgar, de espalhar
falatórios sem um pingo de responsabilidade.
Quase tudo na vida pode
ser praticado e virar hábito. Assim como nos condicionamos a falar mal dos
outros, aprendendo com os maus exemplos que tivemos vida afora, podemos
recolher nossas cadeiras da calçada e começar a praticar o simples hábito de
calar a boca. De não entrarmos em brigas alheias botando mais lenha na
fogueira; de não cairmos em tentação murmurando contra os outros pelas costas;
de não ocuparmos nosso precioso tempo nos divertindo com fofocas; de silenciar
e só abrir nosso coração para quem confiamos.
Finalmente há um ditado
que diz: “Não cuspa no prato que você comeu”. Então, antes de difamar alguém
que já te fez feliz, que já foi importante para você, que já teve algum papel
na sua vida, pare e pense. Se em algum momento houve uma parceria, uma conexão,
até mesmo uma troca de favores, não é justo nem digno falar mal. É feio,
deselegante, grosseiro e vulgar. E mesmo que você tenha saído ferido ou
prejudicado, não torne pública a sua mágoa, a sua decepção, a sua raiva ou
tristeza. Não mande indiretas pelas redes sociais e descubra que o silêncio
pode ser a melhor resposta. Aprenda a arte de conviver e constate o quanto é
elegante ser discreto.
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