quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Neil deGrasse Tyson concorda: o catolicismo é a religião amiga da ciência


Matthew Becklo / Redação da Aleteia


Apesar das narrativas preguiçosas, enviesadas ou francamente mentirosas, o apreço da Igreja pela ciência faz parte do seu catecismo

Num episódio recente do popular programa televisivo norte-americano The Late Show, o condutor Stephen Colbert e o frequente convidado Neil deGrasse Tyson brincaram sobre a insignificância astronômica do dia do Ano Novo.

Em poucos instantes, o tema já tinha levado Tyson a falar do papel da Igreja Católica na criação do calendário atual.

“O calendário mundial é o gregoriano, nomeado assim por causa do Papa Gregório, implantado em 1582 porque o calendário anterior, o juliano, estava desordenando o ano. Tinha uma defasagem de dez dias [saiba mais neste artigo]. E o Papa disse: ‘Temos que corrigir isso’. Existe um Observatório do Vaticano até hoje. Antes que os telescópios fossem inventados, os padres jesuítas foram convocados a descobrir por que o calendário estava mudando no ano”.

Colbert, que é reconhecidamente aberto no tocante à sua fé católica, perguntou então a Tyson se é verdade que foi um padre católico quem formulou a Teoria do Big Bang.

“Sim. Georges Lemaître. Usando equações de Einstein… ele deduz que a história do universo deve ter começado com uma explosão”.

Esta pequena conversa poderia parecer desinteressante em outros tempo, mas não hoje.

O crescimento do neo-ateísmo e do literalismo bíblico neste começo de milênio estenderam a falsa ideia de que há um necessário conflito entre ciência e religião – e muitos jovens absorvem essa falsa ideia como um axioma. Em seu recente livro iGen, sobre a menor geração religiosa da história dos Estados Unidos, o Dr. Jean Twenge menciona um jovem que declarou: “Eu aprendi na igreja que eu não podia acreditar na ciência e em Deus ao mesmo tempo. E não acreditei mais em Deus“.

Isto pode ser verdadeiro em algumas igrejas, mas não na Igreja Católica – e vale a pena repetir isso todas as vezes possíveis. No catolicismo, ciência e Deus são parceiros. Aliás, a conversa de Tyson e Colbert é um lembrete flagrante de que muitos sacerdotes e fiéis católicos foram grandes cientistas. E existem razões não só históricas, mas também teológicas para isto. O catolicismo é e sempre foi uma religião ligada à ciência e corroborada por ela. A doutrina católica destaca a relação entre a fé e o autodesenvolvimento integral, o que inclui a dimensão intelectual e todo o seu potencial de compreensão da realidade. Não é à toa que uma das encíclicas mais famosas de São João Paulo II seja, precisamente, a Fides et Ratio, que já começa declarando: “A fé e a razão são como que as duas asas pelas quais o ser humano se eleva à contemplação da verdade“.

Mesmo no auge do neo-ateísmo do novo milênio e do seu hábito de zombar de tudo o que é religioso (hábito ideologicamente enviesado e muito pouco científico, diga-se de passagem), um homem pareceu atrair o respeito e a atenção de pessoas como Richard Dawkins e Bill Maher: o pe. George Coyne, sacerdote católico, astrofísico e diretor do Observatório do Vaticano em Tucson, no Arizona. A própria existência dessa figura desafia a ideia míope de que a religião “envenena” o pensamento racional e científico.

O pico do neo-ateísmo na primeira década deste século ficou para trás. Agnósticos mais afáveis, ​​como Tyson, os foram substituindo. Tyson pode não ser um fã inquebrantável da religião – de fato, o primeiro episódio de sua série televisiva Cosmos pinta os clérigos católicos do século XVI como inimigos da ciência –, mas, ao menos, o seu foco está em promover o conhecimento de modo aberto e dialogante, e não em denegrir a religião. É uma mudança de perspectiva bem-vinda, que permite encontros mais positivos como esse entre Tyson e Colbert.

A conversa no programa ficou basicamente na superfície, mas foi um avanço. Há muito mais além dos cientistas católicos que formularam a correção no calendário e a teoria do Big Bang. Cientistas católicos também estiveram por trás de descobertas inovadoras sobre o tamanho da Terra (P. Jean-Félix Picard), a pasteurização (Louis Pasteur) e a genética (Gregor Mendel). Uma das primeiras pessoas a explicarem corretamente o arco-íris foi um frade dominicano do século XIII. A longa lista prossegue com Roger Bacon, Pascal, Descartes e dezenas de grandes nomes [confira mais acessando este outro artigo]. O infeliz tratamento dado a Galileu (mesmo tendo sido bem menos grave do que foi espalhado pelas lendas e tergiversações anticatólicas) constituiu, na pior das hipóteses, um momento de rusga dentro de uma longa, respeitosa e frutífera amizade entre a Igreja e a ciência.

No final da entrevista, Colbert pergunta qual é o “mistério” do universo que deixa Tyson pensativo noite afora. Sua resposta revela humildade perante o universo observável. No futuro, a energia escura tornará o universo tão grande que todas as galáxias – a fonte de “tudo o que sabemos hoje sobre a história do universo” – serão “varridas” da nossa vista. E ele se pergunta: algum capítulo anterior do universo já foi arrancado de nós?

“Nós estamos tocando o elefante, sem saber que há um elefante parado aqui. Ou talvez haja a sombra do elefante, mas o elefante já foi movido de lugar. Nós não sabemos o que é que não sabemos”.

O lado sombrio do universo material – passado, presente e futuro – é realmente desconcertante. Mas o que sabemos é o seguinte: quando se trata de usar bem as ferramentas da observação à luz da razão, a ciência conta com um grande aliado na Igreja Católica.

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