Duas pessoas morreram em atos contra homicídios de 12 meninas
em condições semelhantes ao longo de dois anos; manifestantes dizem que
autoridades não estão fazendo o suficiente para dar fim à sequência de
assassinatos.
Assassinato de menina de 7 anos foi o estopim de protestos
contra sequência de crimes parecidos | Foto: EPA
Foto: BBCBrasil.com
Protestos violentos
eclodiram no Paquistão após o estupro e assassinato de uma menina de 7 anos, o
mais recente de uma série de casos similares na cidade de Kasur, na província
de Punjab, no nordeste do país.
O corpo de Zainab foi
encontrado em meio a um monte de lixo na última terça-feira, vários dias depois
de ela desaparecer. Após ser abusada sexualmente, Zainab foi estrangulada, de
acordo com a autópsia realizada.
Havia marcas de tortura
em seu rosto, segundo a emissora americana CNN, que ouviu o legista
responsável, e a língua da menina estava esmagada entre os dentes. Ela estaria
morta há quatro ou cinco dias quando foi encontrada.
Os manifestantes dizem
que as autoridades não estão fazendo o suficiente para dar fim à sequência de
crimes.
A polícia de Kasur
afirma que ocorreram outros 11 homicídios parecidos nos últimos dois anos,
todos ocorridos dentro de um raio de 2km. Cinco deles teriam relação com um
homem, que está sendo procurado. Amostras de DNA foram coletadas de 90
possíveis suspeitos.
Dois manifestantes
morreram na quarta-feira após a polícia abrir fogo contra uma multidão que
tentava invadir uma delegacia. Militares se ofereceram para ajudar a conter os
protestos, que ocorreram pelo segundo dia seguido nesta quinta-feira.
'Vivemos com medo'
Zainab sumiu em 4 de
janeiro a caminho de uma sessão de leitura do Corão, o livro sagrado do
islamismo, religião da maioria dos paquistaneses. Imagens de câmera de
segurança mostram quando ela é levada por um homem. A filmagem foi muito
compartilhada em redes sociais e pela mídia paquistanesa.
Manifestantes dizem que
autoridades não estão fazendo o suficiente para dar fim aos crimes
Foto: Reuters / BBCBrasil.com
Sua família acusa a
polícia de não ter feito nada após seu desaparecimento ter sido informado no
dia 5. Foram seus parentes que encontraram as imagens que mostram a criança
caminhando de mãos dadas com o suspeito.
"Se a polícia
tivesse agido imediatamente, o culpado já teria sido pego", disse seu pai,
Muhammad Amin Ansari, à emissora Geo TV ao retonar da Arábia Saudita, onde
fazia uma peregrinação com sua mulher. Zainab estava hospedada com uma tia
enquanto os pais viajavam.
Seu pai afirmou ainda
que Zainab não será enterrada até ser preso o responsável, contrariando os
preceitos islâmicos de fazer isso assim que possível após uma pessoa falecer.
"Nos últimos dois anos, vivemos com medo. Os pais têm receio de deixar
seus filhos saírem de casa", disse ele.
Secunder Kermani,
correspondente da BBC no Paquistão, informa que o pai da menina já recebeu em
sua casa vários políticos, que prometeram fazer justiça.
'Responsabilidade dos
pais'
Autoridades dizem que
amostras de DNA foram coletadas do corpo de Zainab, segundo o jornal The
Washignton Post, e que as primeiras evidências apontam que o autor do crime
pode ser um conhecido da família.
Famílias de Kasur dizem
sentir-se inseguras com homicídios
Foto: Reuters /
BBCBrasil.com
Mas houve quem
apontasse que a culpa pelo ocorrido também seria da família. "A segurança
de uma criança é responsabilidade dos pais", disse o ministro da Justiça
de Punjab, Rana Sanaullah, ao jornal paquistanês Dawn. Ele ainda pediu calma à
população: "As pessoas precisam manter suas emoções sob controle e não
agravar a situação".
As autoridades afirmam
que casos assim vêm sendo registrados quase mensalmente na cidade. Em dezembro,
uma menina de 9 anos desapareceu no centro de Kasur depois de ir a lojas próximas
de onde mora. Ela conseguiu escapar de seu sequestrador e voltar para casa, mas
está muito traumatizada, segundo relatos.
Em outro caso, Ayesha,
de 5 anos, sumiu em janeiro do ano passado e também foi assassinada. Seu pai,
Asif Baba, acredita que o mesmo homem que matou Zainab é o responsável, disse o
correpondente da BBC, e também diz que a polícia não investigou o crime como
deveria.
"Asif guardou
consigo o uniforme de Ayesha e sua coleção de bonecas. Seus olhos se encheram
de lágrimas ao mostrar tudo isso para mim. Ele diz que, ao ouvir sobre a morte
de Zainab, sentiu como se tivesse perdido sua filha de novo", afirmou
Kermani.
O Paquistão ocupa a
174ª posição entre os 188 países que compõem o Índice de Desigualdade de Gênero
das Nações Unidas, por causa das péssimas condições de saúde, educação e
econômica a que as mulheres paquistanesas estão submetidas.
Relatório com dados de
2014 divulgado pela organização sem fins lucrativos Aurat Foundation, baseada
em Islamabad, capital do país, afirma que em cada dia daquele ano seis mulheres
foram assassinadas, seis foram raptadas, quatro foram estupradas e três se
suicidaram.
#JustiçaporZainab
A morte de Zainab foi o
estopim de uma grande comoção nacional, com estrelas do cinema e do esporte
cobrando publicamente uma resolução para o caso.
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