sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O chamado a seguir Jesus



Deus nos criou com o maravilhoso e desafiador presente da liberdade, envolvendo-nos com imenso amor e aguardando a resposta a todas as oportunidades oferecidas, cujo nome tantas vezes é missão. Dentre tantas figuras emblemáticas, a história de Jonas é carregada de ensinamentos (Cf. Jn 3,1-5.10). Os problemas a serem enfrentados parecem imensos para as poucas possibilidades daquele homem. Basta pensar numa grande cidade como as nossas, ainda que limitada diante das metrópoles de nosso tempo. Pregar a um povo praticamente pervertido, corrupto, estragado pela maldade. E Jonas foge, quer escapar da missão. As circunstâncias de uma viagem lhe provocam uma séria revisão de vida. Um novo chamado de Deus, que não desiste quando quer envolver uma pessoa, faz com que o profeta limitado e tímido tome a palavra diante da cidade. A um povo necessitado de conversão, Jonas prega a destruição! Mas Deus passa na frente e suscita uma reação diferente. Do maior ao menor, todos querem mudar de vida, o que suscita indignação do profeta pessimista, pois vê que Deus tem um coração mole!

Quando Jesus chama seus primeiros discípulos (Cf. Mc 1,14-20), vai ao encontro de homens simples, cada um com sua profissão e sua família, carregados de seus limites pessoais, a ponto de se sentirem por vezes indignos de assumir a missão. Alguns são pescadores, outros até publicanos, havia gente de grupos radicais, como os zelotas. Com certeza foram muitos aqueles dos quais os Evangelhos não reportaram detalhes e, chamados, fugiram da raia, como aconteceu no episódio do jovem rico. No entanto, muitos responderam, deixaram-se transformar pelo chamado à conversão, assumiram corajosamente o anúncio do Evangelho e se transformaram em verdadeiros ícones para as gerações que os sucederam, estendendo até hoje a imensa rede de seguidores e discípulos de Jesus Cristo.

Sabemos que as propostas do Evangelho são provocantes, convidando-nos a nadar contra a correnteza. Basta escutar o Apóstolo São Paulo, no texto proclamado em nossas celebrações eucarísticas do final de semana (Cf 1 Cor 7, 29-31), para identificar a verdadeira revolução de que o cristianismo é portador: “Eu digo, irmãos: o tempo abreviou-se. Então, que, doravante, os que têm mulher vivam como se não tivessem mulher; os que choram, como se não chorassem, e os que estão alegres, como se não estivessem alegres; os que fazem compras, como se não estivessem adquirindo coisa alguma, e os que tiram proveito do mundo, como se não aproveitassem. Pois a figura deste mundo passa”.

Como seguir Jesus Cristo, quando sua proposta é absolutamente diferente das ofertas diárias, propagandeadas pelos meios de comunicação e expostas cotidianamente pelas pessoas? Incrível é que Ele continua e continuará atraindo e chamando, até o fim dos tempos! Provocador é o fato de que a juventude é chamada a confrontar com Ele a sua vida, e muitos são os jovens, de qualquer situação social, que se dispõem inclusive a deixar tudo para segui-lo de perto, assumir a vida sacerdotal, missionária, religiosa e comunitária! E não são poucos os casais e até famílias inteiras transformadas em “famílias missionárias”, dispostas em ir até outras partes do mundo para evangelizar, como nós as temos no ambiente da Arquidiocese de Belém. É que Deus é o Senhor da história, e a última palavra será dada por ele, na vinda gloriosa do Salvador, no fim dos tempos!

Até lá, continuaremos a assistir o chamado de Deus acontecendo de formas inesperadas ou inusitadas. E desejamos provocar positivamente nossa juventude, desejando-lhe um caminho de discernimento. Às gerações de adultos, especialmente pais e mães de família, assim como sacerdotes, religiosos e religiosas, cabe a tarefa de contribuir para que a atual geração de jovens não deixe passar em vão a visita de Deus em suas vidas. O ano que vivemos, com a preparação do Sínodo dos Bispos sobre a juventude e o discernimento vocacional, oferece-nos uma oportunidade excelente para que o assunto “vocação” encontre espaço em nossas comunidades e famílias. Nossa fonte é o texto preparatório do Sínodo, disponível para a leitura e aprofundamento de todos na página eletrônica do Vaticano.

Desejamos contribuir para que os jovens reconheçam os apelos existentes na realidade: O reconhecimento diz respeito antes de tudo aos efeitos que os acontecimentos da minha vida, as pessoas com as quais me encontro, as palavras que ouço ou que leio produzem na minha interioridade: uma variedade de “desejos, sentimentos, emoções” de natureza muito diferente: tristeza, obscuridade, plenitude, medo, alegria, paz, sensação de vazio, ternura, raiva, esperança, tibieza, etc. Reconhecer requer que se traga à tona esta riqueza emocional e que se mencionem estas paixões, mas sem as julgar. Exige também que se sinta o “gosto” que elas deixam, ou seja, a consonância ou dissonância entre o que se experimenta e aquilo que existe de mais profundo.

Depois, não é suficiente reconhecer aquilo que nós experimentamos: é necessário “interpretá-lo” ou, em outras palavras, compreender para o que o Espírito nos chama através daquilo que suscita em cada um. Uma vez reconhecido e interpretado o mundo dos desejos e das paixões, o ato de decidir torna-se exercício de autêntica liberdade humana e de responsabilidades pessoais, obviamente sempre situadas e, portanto, limitadas. A decisão deve ser posta à prova dos acontecimentos, tendo em vista a sua confirmação. A escolha é chamada a traduzir-se em ação, a encarnar, a dar início a um percurso, aceitando o risco de se confrontar com aquela realidade que tinha posto em movimento desejos e emoções. Reconhecer os apelos de Deus, interpretá-los e decidir! Maravilhosa aventura a ser proposta aos nossos jovens, para que assumam os desafios da vida cristã e aceitem, como os primeiros discípulos de Jesus, ser pescadores de homens!


Por Dom Alberto Taveira Corrêa – Arcebispo de Belém do Pará

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