“A renúncia me surgiu
como um dever”
No livro “Servo de Deus
e da humanidade”, biografia de Bento XVI lançada em agosto de 2016 pelo teólogo
italiano Elio Guerriero, o prefácio é assinado por ninguém menos que o Papa
Francisco, que presta vibrante homenagem ao seu antecessor:
“Sua discreta presença
e oração pela Igreja constituem um apoio e um conforto”.
Uma semana antes do
lançamento dessa biografia, Bento XVI tinha concedido uma entrevista ao próprio
Elio Guerriero, publicada pelo jornal italiano La Repubblica. O Papa Emérito
evocou naquela ocasião, com grande simplicidade, as razões que o haviam levado
à histórica decisão de renunciar.
“A renúncia me surgiu
como um dever”
Bento XVI declarou, em
referência à Jornada Mundial da Juventude que estava prevista para o ano
seguinte à sua renúncia, no Rio de Janeiro:
“Depois da experiência
das viagens ao México e Cuba [março de 2012], eu não me sentia mais capaz de
empreender uma viagem dessas. A presença física de um Papa é indispensável (…)
É uma das circunstâncias pelas quais a renúncia me surgiu como um dever”.
Convencido desde o
início de que era apenas um “simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor“,
o Papa Emérito refletiu que não poderia fazer outra coisa além de “colocar-se
nas mãos do Senhor e confiar n’Ele”, contando com a presença de Maria e dos
santos, em especial daqueles a quem chama de “companheiros de viagem de toda
uma vida”: Santo Agostinho e São Boaventura.
Grande apoio dos fiéis
Ele tinha, portanto,
grande apoio espiritual para tomar essa decisão profundamente refletida, mas
também contava com o apoio dos fiéis. Bento XVI comentou que recebeu muitas
cartas, tanto dos chamados “grandes deste mundo” como também de “pessoas
humildes e simples”, oferecendo-lhe as suas orações e a sua amizade.
Falando de suas
relações com o Papa Francisco, Bento XVI reiterou a obediência e a dedicação,
como já tinha feito no passado. O Papa Emérito contou que sentiu grande
“gratidão à Providência” quando foi anunciada a eleição de Jorge Mario
Bergoglio à Sé Apostólica:
“Depois de dois Papas da
Europa Central, o Senhor voltou o seu olhar para a Igreja universal e nos
convidou a uma comunhão mais ampla, mais católica”.
Retirado desde a
renúncia no convento vaticano Mater Ecclesiae, o Papa Emérito se disse “tocado”
pela disponibilidade do Papa Francisco:
“A bondade que ele me
dedicou é, para mim, uma graça particular neste período final da minha vida”.
Também em 2016, foi
publicado, em vários idiomas, o livro-entrevista “Últimas Conversas“, de Bento
XVI com o jornalista alemão Peter Seewald, que já tinha escrito outros livros
em parceria com Joseph Ratzinger antes e durante o seu pontificado. É o caso de
“O Sal da Terra” (1996) e “Luz do Mundo” (2010).
Nenhum comentário:
Postar um comentário