Por: Revista Pazes
Trazemos para as nossas
vidas aquilo que nem aconteceu ainda e, muitas vezes, acabamos tolhendo os
nossos sonhos de sua capacidade motivadora de nos fortalecer
O mundo está cada vez
mais violento e complexo, deixando-nos apreensivos com as incertezas e obstáculos
que permeiam o nosso caminhar. Por essa razão, acabamos temendo sempre o pior
que possa vir a acontecer, uma vez que somos rodeados por notícias e fatos
desesperançosos, tais como constantes assaltos, desvios de dinheiro, alta de
preços, desvalorização do poder de compra, desemprego, acidentes, dentre tantos
outros.
Nesse contexto,
avolumam-se, dentro de nós, inseguranças e temores quanto à possibilidade de
nos tornarmos protagonistas de tais experiências, o que nos deixa apreensivos e
tomados de pensamentos pessimistas quanto ao nosso amanhã e ao futuro de nossos
amados. Trazemos para as nossas vidas aquilo que nem aconteceu ainda e, muitas
vezes, acabamos tolhendo os nossos sonhos de sua capacidade motivadora de nos
fortalecer.
Na verdade, sofrer pelo
que possa acontecer de ruim em nossas vidas é totalmente inútil, pois nos torna
sujeitos infelizes e paralisados, cegando-nos frente às inúmeras oportunidades
de alcançarmos a felicidade que estão bem ali na nossa frente. Quando nos
preocupamos demais com o amanhã, deixamos de construir um hoje melhor, ou seja,
deixamos de viver o que temos conosco no presente, em razão de antecipações
negativas que nos tornam ansiosos e infelizes, dia após dia.
Ficamos, muitas vezes,
presos a expectativas pessimistas de sermos despedidos, de estourarmos o nosso
orçamento, de acontecer algum acidente com nossos filhos, de adoecermos, de não
nos apaixonarmos, de sermos traídos ou deixados pelo amado e, enquanto isso, a
vida passa lá fora, sem que desfrutemos todas as oportunidades que ela carrega
aqui e agora. Não vivemos o hoje, por conta de um amanhã que ainda nem existe,
tampouco conseguimos nos fortalecer para enfrentar os dias de luta que virão.
Sofrer pelo que não
aconteceu é tão danoso, que nos impede a preparação para um futuro melhor.
Dessa forma, nossos medos muito possivelmente se concretizarão e teremos, sim,
amanhãs infelizes, pois estivemos muito preocupados com eles e não nos
preparamos para recebê-los com todas as possibilidades de felicidade que o futuro
sempre traz. De tanto pensarmos no pior, acabamos atraindo negatividade para
dentro de nossas vidas, pois nos tornamos pessoas com quem nem é prazeroso
conviver. Perdemos, consequentemente, inúmeras chances de conhecer, de amar, de
sorrir, de contemplar, enfim, de viver como realmente merecemos.
Obviamente, isso não
significa que devemos nos alienar e viver descompromissadamente, sem planos e
projetos, sem pensar e nos preparar para o futuro. Programar ações e agir com
vistas às consequências é necessário, no sentido de conseguirmos alcançar uma
velhice digna e confortável, junto de quem amamos e nos ama de verdade. No
entanto, precisamos também esperar coisas boas, antecipando um amanhã feliz e
pleno de realizações, pois isso nos tornará mais lúcidos quanto ao que
precisamos fazer hoje, para podermos desfrutar um futuro melhor.
Prevenir-se não
significa, absolutamente, negativar o que virá, pois, na verdade, controlamos
quase nada do que acontece e acontecerá em nossas vidas. O que importa, mesmo,
é buscar a felicidade, com o que se tem, a partir do que somos, com quem está
conosco, sorvendo cada instante intensamente, para que não carreguemos
arrependimentos por tudo o que deixamos de viver no momento certo, enquanto
vivíamos antecipações, muitas das quais nem chegaram a acontecer. Expectativas
demasiadas nos emperram; otimismo, na medida certa, nos liberta. Permita-se,
assim, viver o real, pois é isso que terá valido a pena e é isso que acalentará
as doces lembranças que nos perpetuarão quando partirmos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário