Religião não é
coisa de gente tonta! Religião é coisa de gente, e é coisa de gente por quê?
Lancemos mãos de
trecho do livro o que é religião, do teólogo e educador Rubem Alves. Lembra
ele, logo no começo da obra, que “é fácil identificar, isolar e estudar a
religião como um comportamento exótico de grupos sociais restritos e distantes.
Mas é necessário reconhecê-la como presença invisível, sutil, disfarçada, que
constitui num dos fios com que tece o acontecer do nosso cotidiano. A religião
está mais próxima de nossa experiências pessoal do que desejamos admitir [...].
Como o disse poeticamente Ludwing Feuerbach: “A consciência de Deus é autoconsciência”,
o conhecimento de Deus é autoconhecimento”. A religião é o solene desvelar dos
tesouros oculto do homem, revelação dos seus pensamentos íntimos, a confissão
aberta dos seus segredos de amor”.
Ora, não há
dúvida de que o sentimento religioso é uma constante na história humana;
independentemente da região planetária, época ou sociedade, sempre encontramos
manifestações de uma busca de relacionamento com forças misteriosas e poderosas
que entendemos superiores ou anteriores a nós, homens e mulheres. Por isso, ao
contrário do que muitos suspeitam, vamos de novo: religião não é coisas de
“gente tonta”; religião é de “gente” e, como entre as variadas gentes, também
há as que são tontas, que confundem-se umas das outras.
Reafirme-se:
religião não é sempre coisas de gente frágil, ou ignorante, ou qualquer outro
adjetivação que indique indigência psicológica, mental ou cognitiva; do mesmo
modo, não ter religião não indica precariedade moral e intelectual.
Falar em
religião – ou, com mais propriedade, falar em religiosidade, isto é, em um
sentimento que não necessariamente se integra a uma formalização coletiva,
institucional ou formal – é falar em uma forma das forças profundas de
movimentação humana e intensa busca pelo sentido de tudo que nos cerca. A
religiosidade é uma percepção e uma conexão da vida, que procura captar, fluir
e proteger tudo aquilo que ultrapassa a materialidade e a imediaticidade do
mundo, ou seja, um sentimento que deseja fixar os múltiplos e intrigantes
significados da existência para além da sensação de tudo e de nós mesmos: provisório,
passageiros, finitos e, portanto, precário e desnecessários.
O mesmo Rubem
Alves, na conclusão do livro antes menciona, adverte que “o sentido da vida não
é um fato. Num mundo ainda sob o signo da morte, em que os valores mais altos
são crucificados e a brutalidade triunfa, é ilusão proclamada a harmonia com o
universo como realidade presente a experiência religiosa, assim, depende de um
futuro. Ela se nutre de horizontes utópicos que os olhos não viram e que só
podem ser contemplados pela magia da imaginação. Deus e o sentido da vida são
ausência, realidade por que se anseia, dádivas de esperança. De fato, talvez
seja esta grande marca da religião: a esperança. E talvez possamos afirmar, com
Ernest Bloch: ‘onde está a esperança ali também está a religião’”.
No entanto há
uma outra forte dimensão da Religiosidade: o sentimento de agradecimento,
intentando estabelecer um vínculo de gratidão e pertencimento a uma entidade
amorosa, criadora e protetora, que, além da vida, nos dá sentido.
Ao olhar uma
ideia com esse conteúdo, muitos ficariam tentados a um sutil ironia, remetendo
eventualmente os seus crentes ao reino dos fracos de espirito; é preciso,
contudo, sempre relembrar o alerta feito no início do século passado pelo
sociólogo francês Émile Durkheim: “Não existe religião alguma que seja falsa.
Todas elas respondem, de formas diferente, a condição dadas da existência
humana”. Coisa de gente...
Não Se Desespere! - Provocações Filosóficas
Mario Sergio Cortella: filósofo,
escritor e professor
brasileiro.
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