sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Religião não é coisa de gente tonta!


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Religião não é coisa de gente tonta! Religião é coisa de gente, e é coisa de gente por quê?

Lancemos mãos de trecho do livro o que é religião, do teólogo e educador Rubem Alves. Lembra ele, logo no começo da obra, que “é fácil identificar, isolar e estudar a religião como um comportamento exótico de grupos sociais restritos e distantes. Mas é necessário reconhecê-la como presença invisível, sutil, disfarçada, que constitui num dos fios com que tece o acontecer do nosso cotidiano. A religião está mais próxima de nossa experiências pessoal do que desejamos admitir [...]. Como o disse poeticamente Ludwing Feuerbach: “A consciência de Deus é autoconsciência”, o conhecimento de Deus é autoconhecimento”. A religião é o solene desvelar dos tesouros oculto do homem, revelação dos seus pensamentos íntimos, a confissão aberta dos seus segredos de amor”.

Ora, não há dúvida de que o sentimento religioso é uma constante na história humana; independentemente da região planetária, época ou sociedade, sempre encontramos manifestações de uma busca de relacionamento com forças misteriosas e poderosas que entendemos superiores ou anteriores a nós, homens e mulheres. Por isso, ao contrário do que muitos suspeitam, vamos de novo: religião não é coisas de “gente tonta”; religião é de “gente” e, como entre as variadas gentes, também há as que são tontas, que confundem-se umas das outras.

Reafirme-se: religião não é sempre coisas de gente frágil, ou ignorante, ou qualquer outro adjetivação que indique indigência psicológica, mental ou cognitiva; do mesmo modo, não ter religião não indica precariedade moral e intelectual.

Falar em religião – ou, com mais propriedade, falar em religiosidade, isto é, em um sentimento que não necessariamente se integra a uma formalização coletiva, institucional ou formal – é falar em uma forma das forças profundas de movimentação humana e intensa busca pelo sentido de tudo que nos cerca. A religiosidade é uma percepção e uma conexão da vida, que procura captar, fluir e proteger tudo aquilo que ultrapassa a materialidade e a imediaticidade do mundo, ou seja, um sentimento que deseja fixar os múltiplos e intrigantes significados da existência para além da sensação de tudo e de nós mesmos: provisório, passageiros, finitos e, portanto, precário e desnecessários.

O mesmo Rubem Alves, na conclusão do livro antes menciona, adverte que “o sentido da vida não é um fato. Num mundo ainda sob o signo da morte, em que os valores mais altos são crucificados e a brutalidade triunfa, é ilusão proclamada a harmonia com o universo como realidade presente a experiência religiosa, assim, depende de um futuro. Ela se nutre de horizontes utópicos que os olhos não viram e que só podem ser contemplados pela magia da imaginação. Deus e o sentido da vida são ausência, realidade por que se anseia, dádivas de esperança. De fato, talvez seja esta grande marca da religião: a esperança. E talvez possamos afirmar, com Ernest Bloch: ‘onde está a esperança ali também está a religião’”.

No entanto há uma outra forte dimensão da Religiosidade: o sentimento de agradecimento, intentando estabelecer um vínculo de gratidão e pertencimento a uma entidade amorosa, criadora e protetora, que, além da vida, nos dá sentido.

Ao olhar uma ideia com esse conteúdo, muitos ficariam tentados a um sutil ironia, remetendo eventualmente os seus crentes ao reino dos fracos de espirito; é preciso, contudo, sempre relembrar o alerta feito no início do século passado pelo sociólogo francês Émile Durkheim: “Não existe religião alguma que seja falsa. Todas elas respondem, de formas diferente, a condição dadas da existência humana”. Coisa de gente... 

Não Se Desespere! - Provocações Filosóficas

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Mario Sergio Cortella: filósofo, 
escritor e professor brasileiro.

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