Jesús Colina
Apesar da relevância do
seu trabalho, esse herói morreu no esquecimento
“Quem salva uma vida
salva o universo inteiro”. Esta convicção levou Luiz Martins de Souza Dantas
(1876-1954), embaixador do Brasil na França durante a Segunda Guerra Mundial, a
arriscar sua carreira para salvar os perseguidos pelo nazismo.
Mas o que este
diplomata não poderia imaginar é que, segundo cálculos, ele livraria da morte
cerca de 800 pessoas, entre elas 474 judeus, e que um de seus beneficiados
salvaria Nova York da crise econômica, em 1975.
Estamos falando de
Felix Rohatyn, que reconheceu publicamente que “se não fosse por Souza Dantas,
ao invés de estar aqui, olhando a Estátua da Liberdade estaria feito cinzas em
Auschwitz”.
No dia 27 de janeiro de
2018, Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, por iniciativa
das Nações Unidas, fontes da Fundação Internacional Raoul Wallenberg
(Raoulwallenberg.net) revelaram à Aleteia que será construído um monumento em
homenagem a Luiz Martins. Também está prestes a ser lançado o documentário
“Querido Embaixador”, do diretor brasileiro Luis Fernando Goulart.
O filme, que ainda não
tem data prevista para a estreia no Brasil, oferece, entre outras
contribuições, uma entrevista com Rohatyn, que fará 90 anos no próximo dia 29
de maio.
Rohatyn, banqueiro de
investimentos, conseguiu o que poucos achavam possível em 1975: a mediação
entre a cidade de Nova York – submergida em uma imponente dívida – e seus
credores e sindicatos, evitando a trágica falência para milhares de pessoas.
Mais tarde, Rohatyn foi
nomeado embaixador dos Estados Unidos na França, fechando um curioso círculo
virtuoso. É que a pessoa que salvou a vida dele (Souza Dantas) foi embaixador
do Brasil na França desde 1922. A partir de junho de 1940, Dantas foi
testemunha da massiva fuga de judeus e outros refugiados do horror nazista.
Um herói esquecido
As leis brasileiras
proibiam a entrada de imigrantes judeus no país. No entanto, isso não foi um
empecilho para a criatividade de Souza Dantas, que se valeu de uma
interpretação muito ampla de uma licença limitada para justificar e conceder
vistos para centenas de judeus e outros refugiados, livrando-os, assim, da
perseguição.
A voz de Souza Dantas
despertou o mundo para o pesadelo do nazismo. Em 1942, ele enviou uma carta ao
ministro de Assuntos Exteriores do Brasil, Oswaldo Aranha, em que descreve os
campos instalados pelos nazistas como o Inferno de Dante.
Sua obra de salvação
aos perseguidos lhe causou um processo administrativo, aberto pelo presidente
Getúlio Vargas em outubro de 1941. Dantas se livrou da condenação porque o
processo ainda não tinha terminado quando a Alemanha nazista e o Brasil
romperam suas relações diplomáticas. Vargas decidiu, então, esquecer o caso.
Depois dessa dura
experiência, Luiz Martins de Souza Dantas voltou a Paris, onde morreu no
esquecimento em 14 de abril de 1954.
Assista abaixo ao
discurso de Felix Rohatyn em homenagem a Luiz Martins de Souza Dantas em evento
organizado pela Fundação Wallenberg e os consulados de Portugal e Brasil em
Nova York:
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