quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

O herói brasileiro que salvou centenas de vidas do nazismo e ajudou a tirar Nova York da crise


Jesús Colina


Apesar da relevância do seu trabalho, esse herói morreu no esquecimento

“Quem salva uma vida salva o universo inteiro”. Esta convicção levou Luiz Martins de Souza Dantas (1876-1954), embaixador do Brasil na França durante a Segunda Guerra Mundial, a arriscar sua carreira para salvar os perseguidos pelo nazismo.

Mas o que este diplomata não poderia imaginar é que, segundo cálculos, ele livraria da morte cerca de 800 pessoas, entre elas 474 judeus, e que um de seus beneficiados salvaria Nova York da crise econômica, em 1975.

Estamos falando de Felix Rohatyn, que reconheceu publicamente que “se não fosse por Souza Dantas, ao invés de estar aqui, olhando a Estátua da Liberdade estaria feito cinzas em Auschwitz”.

No dia 27 de janeiro de 2018, Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, por iniciativa das Nações Unidas, fontes da Fundação Internacional Raoul Wallenberg (Raoulwallenberg.net) revelaram à Aleteia que será construído um monumento em homenagem a Luiz Martins. Também está prestes a ser lançado o documentário “Querido Embaixador”, do diretor brasileiro Luis Fernando Goulart.

O filme, que ainda não tem data prevista para a estreia no Brasil, oferece, entre outras contribuições, uma entrevista com Rohatyn, que fará 90 anos no próximo dia 29 de maio.

Rohatyn, banqueiro de investimentos, conseguiu o que poucos achavam possível em 1975: a mediação entre a cidade de Nova York – submergida em uma imponente dívida – e seus credores e sindicatos, evitando a trágica falência para milhares de pessoas.

Mais tarde, Rohatyn foi nomeado embaixador dos Estados Unidos na França, fechando um curioso círculo virtuoso. É que a pessoa que salvou a vida dele (Souza Dantas) foi embaixador do Brasil na França desde 1922. A partir de junho de 1940, Dantas foi testemunha da massiva fuga de judeus e outros refugiados do horror nazista.

Um herói esquecido

As leis brasileiras proibiam a entrada de imigrantes judeus no país. No entanto, isso não foi um empecilho para a criatividade de Souza Dantas, que se valeu de uma interpretação muito ampla de uma licença limitada para justificar e conceder vistos para centenas de judeus e outros refugiados, livrando-os, assim, da perseguição.

A voz de Souza Dantas despertou o mundo para o pesadelo do nazismo. Em 1942, ele enviou uma carta ao ministro de Assuntos Exteriores do Brasil, Oswaldo Aranha, em que descreve os campos instalados pelos nazistas como o Inferno de Dante.

Sua obra de salvação aos perseguidos lhe causou um processo administrativo, aberto pelo presidente Getúlio Vargas em outubro de 1941. Dantas se livrou da condenação porque o processo ainda não tinha terminado quando a Alemanha nazista e o Brasil romperam suas relações diplomáticas. Vargas decidiu, então, esquecer o caso.

Depois dessa dura experiência, Luiz Martins de Souza Dantas voltou a Paris, onde morreu no esquecimento em 14 de abril de 1954.


Assista abaixo ao discurso de Felix Rohatyn em homenagem a Luiz Martins de Souza Dantas em evento organizado pela Fundação Wallenberg e os consulados de Portugal e Brasil em Nova York:



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